Mudanças de comportamento nos idosos podem indiciar patologias

Os sinais são diferentes para cada pessoa e muitas vezes incipientes pelo que os médicos pedem que se esteja atento. Pedir que participem na vida activa da família é, por si só, suficiente.

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Médicos alertam que a ajuda à pessoa idosa só deve ser feita naquilo que o próprio deixar os outros ajudar, sendo de evitar ser paternalista Adriano Miranda
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Mudanças de comportamento em idosos, como isolar-se ou não querer comer, são sinais a que as famílias devem estar atentas porque podem indiciar patologias cujo desenvolvimento pode ser contrariado, alertam médicos geriatras.

Os sinais são diferentes para cada pessoa e muitas vezes incipientes, sendo o único risco poderem passar despercebidos, disse a coordenadora da Unidade de Geriatria da Unidade Local de Saúde (ULS) São José, Heidi Gruner, defendendo que estar atento ao idoso e pedir que participe na vida activa da família é, por si só, suficiente.

Há sinais que aparecem e podem passar despercebidos, como não querer estar com os netos ou não querer comer, mas são pequenos dados que apontam que está para aparecer qualquer coisa que pode ser patológica, disse a especialista.

Quando as coisas começam a ser diferentes, é sinal de alarme e é necessário fazer uma revisão à saúde da pessoa, defendeu a médica internista, recomendando às pessoas que adquiram antecipadamente rotinas saudáveis que possam vir a manter na velhice.

Alterações do normal comportamento são importantes porque nesta idade mais avançada acontece entrar-se na rotina de que mais se gosta e algumas rotinas são perigosas, como não sair de casa, explicou Heidi Gruner.

"Hoje sabe-se que ter uma componente de socialização e de estímulo é importante para contrariar o desenvolvimento de certas patologias, o mais comum as ligadas às funções neurocognitivas e à depressão", disse o coordenador do serviço de Psiquiatria Geriátrica no Hospital Júlio de Matos da ULS São José, João Reis.

Sinais de alerta no idoso, além do isolamento continuado, é não ter objectivos de vida nem se adaptar à mudança do ciclo de vida que representou a ausência de trabalho regular, nem ter outras actividades, complementa a psicóloga clínica do Hospital Júlio de Matos, Carla Mariz.

Isolamento, apatia, não querer estar com outros porque de alguma forma se sente mal consigo próprio revelam muitas vezes situações neurocognitivas, reforça Carla Mariz, lembrando que os sinais de mudança têm de ser interpretados à luz do que a pessoa já era antes de envelhecer.

Por vezes isolam-se, não é porque estão deprimidos, mas porque têm uma dor e não querem dizer, adianta Heidi Gruner, recomendando aos mais velhos a realização anual de exames médicos aos sentidos, incluindo avaliação ocular, da cavidade oral e auditiva, porque deixar de ouvir impede de comunicar e abre caminho para a demência.

A ajuda à pessoa idosa só deve ser feita naquilo que o próprio deixar os outros ajudar, sendo de evitar ser paternalista, e deve-se informar a pessoa idosa, por exemplo, dos benefícios em ir a uma consulta de otorrino se não ouve bem, segundo João Reis.

E até se pode estabelecer uma estratégia para que o idoso tome uma decisão o mais informada possível, mas sem atropelar os seus direitos à autodeterminação, reforçou, explicando que situação diferente é a de alguém incapaz de se autodeterminar, o que exige ser comprovado por vários médicos.

Nas situações em que o idoso mantém a sua capacidade, o psiquiatra recomenda que a ajuda dada pelos familiares corresponda à vontade que tem de receber essa ajuda, argumentando que forçar ou contrariar tal vontade, mesmo que por bom motivo, configura, no limite, um abuso psicológico.

Casos de idosos que perdem autoridade na família e até em questões da sua própria vida, com filhos, netos ou outros próximos a desrespeitar a sua vontade, são também relatados nas consultas de seguimento de doentes e cuidadores da psicóloga Carla Mariz, segundo relatou.