Brasileiros são 79% dos trabalhadores imigrantes em bares e restaurantes de Portugal

Pesquisa realizada pela Nielsen IQ, em colaboração com a AHRESP, revela situação dos estabelecimentos em Portugal. Apenas 59% têm funcionários e maioria tem dificuldades para encontrar trabalhadores.

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Cada vez mais, são os estrangeiros que atendem nos restaurantes, bares e cafés portugueses Nelson Garrido
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Um estudo sobre a situação dos bares e restaurantes em Portugal revela que a maior parte dos funcionários é de origem brasileira. Segundo pesquisa da Nielsen IQ, realizada em parceria com a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), um dos grandes problemas enfrentados pelos estabelecimentos é contratar empregados — 66% encaram essa dificuldade.

Somente 59% dos bares e restaurantes têm funcionários, o que revela um setor com muitas empresas de pequena dimensão, em que os donos são os únicos a tocar os negócios. Dos que têm trabalhadores estrangeiros, os brasileiros representam 79% desse grupo. Oficialmente, há 513 mil brasileiros vivendo em Portugal. Daqueles em idade ativa, 85% estão empregados, segundo o Observatório das Migrações.

Segundo o professor de economia João Cerejeira, da Universidade do Minho, a prevalência de brasileiros entre os trabalhadores estrangeiros não se deve a um motivo específico, mas a uma variedade de razões.

“A primeira é a comunicação em português. No atendimento ao público nos restaurantes e no comércio em geral, a língua é um fator diferenciador em relação às outras nacionalidades”, avalia o estudioso.

A outra razão está relacionada às ligações históricas entre os países. “Há uma maior proximidade entre Brasil e Portugal. A gastronomia brasileira tem muita influência portuguesa e, com isso, não é difícil para o trabalhador se integrar”, diz Cerejeira.

Ele também aponta motivos culturais para a presença de mais brasileiros trabalhando em restaurantes do que imigrantes de outros países. “A forma de estar dos brasileiros é mais aberta e atrativa para os clientes do que a de pessoas de culturas mais reservadas, como as de países do Norte da Europa”, afirma.

Comunidade só cresce

Cerejeira relaciona a maior disponibilidade dos imigrantes como uma quarta razão para haver tantos estrangeiros trabalhando do outro lado do balcão. “Outro elemento importante é que o setor de bares e restaurantes tem uma rotatividade muito grande de trabalhadores, devido aos horários de expedientes muito exigentes. É mais fácil ser uma profissão de entrada no mercado de trabalho de Portugal para quem chega ao país do que um emprego para quem tem compromissos familiares”, justifica.

Além disso, Cerejeira destaca um aspecto de comportamento observado nos processos migratórios para explicar a quantidade de brasileiros em Portugal. “Quanto maior o grupo nacional, maior a probabilidade de outras pessoas se juntarem à comunidade. A imigração brasileira em Portugal tem sido um sucesso, o que atrai outros brasileiros. Num curto espaço de tempo, os brasileiros se tornaram o grupo de imigrantes mais numeroso de Portugal, ultrapassando os cabo-verdianos”, afirma.

E, relativamente à imigração brasileira, Cerejeira atribui o sucesso à maior integração. “Há uma proporção maior de mulheres do que na imigração de outras nacionalidades, o que é sinal da imigração de famílias. Isso ajuda à integração dos imigrantes”, observa.

Mais brasileiros

No restaurante Bono Lisboa, do chef de cozinha Robson Oliveira, a maioria dos funcionários é brasileira. “Neste momento, tenho nove funcionários, seis brasileiros, dois moçambicanos e um português”, conta.

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O chef Robson Oliveira, que tem seis brasileiros entre seus nove funcionários Arquivo pessoal

Questionado se a maioria de brasileiros é porque ele tem a mesma nacionalidade, ele nega. “Não é por isso. Eu recebo currículo de muitas pessoas. Fora o pessoal da sala, quase todo mundo na cozinha tem formação no Brasil. Para a cozinha que faço, é necessário formação”, explica. O restaurante tem uma cozinha internacional com muitos ingredientes brasileiros.

Sobre o pessoal da cozinha, ele afirma que existe uma diferença na formação entre brasileiros e portugueses. “No Brasil, num curso de dois anos, forma-se como tecnólogo. Em Portugal, é curso do segundo grau. Tenho um funcionário que entrou com 18 anos, sem bagagem, hoje, é um cozinheiro extraordinário”, revela Robson, que, no Brasil, foi professor num curso de gastronomia.

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