IL avisa que Governo “vai falhar em áreas fundamentais” como saúde, habitação e economia

Rui Rocha considera que o executivo de Montenegro está “desgastado e esgotado” depois dos meses de distribuição de dinheiro e anúncio de planos e programas. E lamenta “cedência” ao PS no orçamento.

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Os liberais reuniram-se no Porto num evento virado para as políticas do poder local, numa preparação para as autárquicas de 2025 ESTELA SILVA / LUSA
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O presidente da Iniciativa Liberal (IL) avisou neste sábado que o Governo PSD/CDS-PP "vai falhar em áreas fundamentais" como o crescimento económico, a habitação e a saúde e considerou que o executivo de Luís Montenegro está "desgastado e esgotado".

"A conclusão é óbvia: a AD vai falhar em áreas fundamentais para os portugueses e para o país", defendeu Rui Rocha, a discursar num evento "três em um", o 5.º Encontro Nacional de núcleos territoriais, o 5.º Encontro Nacional de autarcas e ainda a 1.ª Conferência do ILab, que decorrem no Porto.

O líder da IL prevê que a coligação governamental entre PSD e CDS-PP "vai falhar na competitividade das empresas e no crescimento económico; não vai conseguir, com este orçamento, promover o crescimento económico prometido ao país". E continuou: "A AD vai falhar na habitação, no mercado de arrendamento e no mercado de compra e venda, porque não há medidas para promover mais oferta de habitação."

Outra área que o líder liberal aponta como exemplo do "falhanço" do executivo liderado por Luís Montenegro é a saúde: "A AD vai falhar na saúde, porque insiste numa visão centralista do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como única solução - e só é possível considerar outras soluções quando o SNS falha".

Para Rui Rocha, que referiu várias vezes ao longo do seu discurso as questões da saúde, não se pode "aceitar que as pessoas tenham que estar sujeitas ao falhanço do SNS para recorrerem a outras alternativas". "Não é justo, não é humano, não é democrático dizer às pessoas que têm que esperar um ano por uma cirurgia, um ano por uma consulta; que têm que sofrer a doença, que têm que ver a sua doença agravar-se para depois, finalmente, se os governantes deixarem, recorrerem às outras alternativas", salientou.

Rui Rocha acusou ainda o PSD, CDS-PP e o PS de querem reverter o corte nos salários dos políticos "à socapa" e "à revelia dos portugueses". "Eu não quero ser populista. Eu não tenho a ideia de que os políticos devam ser punidos, devam ser mal tratados. Mas uma coisa é discutir as questões no momento certo e com o contexto certo, outra coisa é à revelia dos portugueses, com um entendimento do PS e da AD para fazer já a reversão do corte. Coisa que não foi prometida, não foi discutida, não foi votada pelos portugueses e eu não decido coisas em causa própria", avisou.

Salientando que concorda que os políticos devem ser valorizados, o líder da IL apontou a proposta do partido no que toca aos salários dos políticos: "Queremos políticos valorizados, bons políticos. E é por isso que temos uma proposta de aumento dos políticos, não agora, à socapa, mas com uma condição: na medida em que o salário médio dos portugueses também crescer." Isto porque, disse, "bons políticos - autárquicos, legisladores, Governo - fazem boas políticas; com boas políticas o país cresce. Façam boas políticas e o salário dos políticos também há-de crescer."

Rui Rocha acusou também o Governo de "nada ter feito" depois da aprovação do Orçamento do Estado (OE) e de ter cedido "em toda a linha" ao PS para que aquele documento fosse aprovado. "A AD tinha, relativamente a este OE (...) duas opções: ou fazer cedência atrás de cedência ao PS, ou assumir uma posição clara de transformação do país, ou, pelo menos, de respeito do programa eleitoral que apresentou ao país. A AD decidiu ceder em toda a linha ao PS", disse.

Em jeito de crítica aos socialistas, o líder liberal salientou que aquele partido "já contribuiu tempo de mais para atrasar o país. O atraso do país deve-se às políticas do PS. É inaceitável que essas políticas continuem a prevalecer, mesmo quando a Assembleia da República mudou."

Segundo Rui Rocha, até à aprovação do OE, o Governo "distribuiu dinheiro a diferentes áreas da função pública e fê-lo com um erro básico: nada disto foi feito com uma visão reformista, integrada e desafiante do papel da administração pública".

"O que temos agora é um Governo esgotado. Houve seis, sete meses intensos. Distribuíram dinheiro, apresentaram planos para tudo: para a habitação, para a saúde, o "pacotão" da economia; um plano, um programa atrás do outro; todas as semanas havia planos", contextualizou. "Depois, o OE é aprovado em finais de Outubro e, se olharmos ao que aconteceu a partir daí, o que vemos é um Governo destrunfado, gastou tudo o que tinha, anunciou tudo e, partir daí, não se vê nada", acusou Rui Rocha.

Para o líder liberal, o actual Governo é um "conjunto de ministros que, por responsabilidade sua, não conseguem transmitir confiança ao país". "Que confiança se pode ter na ministra da Administração Interna? Que confiança se pode ter na ministra da Saúde? Que confiança podemos ter num Governo cujo objectivo único parece ter sido ter a aprovação do Orçamento e a partir daí desapareceu? Não há impulso político, não há iniciativa política, não há entusiasmo, não há visão para o país. Tudo continua exactamente na mesma ou pior porque entretanto já passou mais tempo e o país continua a ficar para trás", descreveu.

Os eventos da IL deste sábado servem ainda para marcar as comemorações do 25 de Novembro, data que o líder liberal disse que o partido celebra com "igual entusiasmo" ao das celebrações do 25 de Abril. "Nós gostamos tanto do 25 de Novembro que não esperamos por segunda-feira para o celebrar. Vamos celebrar já hoje, antecipar a celebração", afirmou.

Reconhecendo que "há muitas interpretações e muitas visões" sobre a data que se assinala na segunda-feira, Rui Rocha salientou a importância do que se passou a 25 de Novembro de 1975. "Independentemente do recorte que lhe façamos, foi fundamental para a afirmação da democracia em Portugal. Isso é inquestionável. É isso que devemos celebrar, sem enviesamentos ideológicos, sem medo de assumirmos que o nosso caminho é o da liberdade e o da Democracia", defendeu.

A operação militar de 25 de Novembro de 1975 marcou o fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC).