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Saúde X Negócio
Infelizmente, minhas experiências mais recentes em Portugal me fizeram ter saudade dos médicos do Brasil. Mas meu descontentamento não se estende ao SNS, está no setor privado.
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Da mesma forma que religião e política nunca deveriam andar de mãos dadas, saúde jamais poderia ser tratada apenas como um negócio. Saúde é saúde, nosso bem mais valioso, o que garante a nossa existência.
Infelizmente, minhas experiências mais recentes em Portugal me fizeram ter saudade dos médicos do Brasil. Meu descontentamento não se estende ao Serviço Nacional de Saúde, o SNS, aliás, foi o sistema público português que me socorreu! Por sorte ou não, o serviço no Centro de Saúde funciona muito bem, e a minha médica de família tem sido “impecável” na condução dos atendimentos prestados a mim e ao meu filho. E foi uma ocorrência com ele que inspirou esta escrita.
Há um mês e meio, meu filho sofreu uma queda alta e machucou o ombro. O procedimento foi levá-lo à emergência mais próxima, no caso, a do Hospital da Luz. Pelas instalações, acreditamos que ali teríamos atendimento de excelência, mas, apesar da simpatia da enfermeira de plantão, a consulta deixou muito a desejar.
Diante de um raio-x que não acusou fraturas, a médica entrou na sala, receitou um anti-inflamatório e disse para retornarmos caso a dor persistisse por mais de uma semana. A consulta foi exatamente como relatei, sem perguntas nem manipulação no local ferido... E lá se foram cerca de 100 euros (R$ 620): consulta + raio-x + um comprimido para dor administrado na hora.
A dor no ombro não passou e os movimentos do braço permaneceram limitados. Procurei uma fisioterapeuta, que, após a manipulação com estímulos e massagens, indicou a realização de um exame de imagem dos tecidos moles, para descartar um problema mais sério no músculo ou ligamentos e orientar de forma mais precisa o trabalho de recuperação.
Recorri ao meu seguro-saúde e marquei uma consulta com um ortopedista 13 dias após a queda. Lá se foram 37 euros, mas desta vez o médico manipulou o braço para cima e para baixo (movimento só possível com a ajuda dele), receitou outro anti-inflamatório e mandou aguardar. No mesmo momento eu indaguei sobre o exame de imagem e a resposta do médico foi: - Amor de minha vida, vamos aguardar e se a dor persistir, a senhora retorna.
A dor persistiu por mais dias, eu liguei para a clínica CUF Alvalade, onde a consulta foi realizada, e pedi o encaminhamento do exame de imagem. O médico demorou quatro dias para retornar a ligação e novamente se recusou a fazer o pedido. O “profissional” disse que eu deveria marcar nova consulta para ele avaliar, ou seja, pagar mais 37 euros (R$ 230).
Obviamente, não retornei ao médico em questão. Não vi sentido algum em um ortopedista negar um pedido de exame diante de uma queixa por queda ocorrida há cerca de um mês. Exame que seria pago e que poderia descartar ou acusar algum problema mais grave. No meu humilde entendimento, este médico estava mais interessado no dinheiro do que no paciente. Saúde X Negócio!
Infelizmente, esta não foi a única experiência ruim no serviço co-participado dos seguros de saúde em Portugal. Já tive que pagar duplamente por um curativo mal feito no Hospital Lusíadas (também com ótimas instalações), uma imobilização que necessitou ser refeita no dia seguinte, e que eu precisei pagar novamente.
Aliás, aqui o paciente é cobrado pela consulta de retorno, quando o médico analisa os exames solicitados. O que seria um complemento do atendimento já pago, é novamente faturado.
Já tive contato com pelo menos seis médicos de seguros de saúde diferentes e, em nenhuma das consultas, senti a tão importante relação médico-paciente, aquele contato que traz confiança e tranquilidade. É sempre bom lembrar que, diante de um médico ou de um exame, há uma pessoa que pode estar vulnerável e insegura. Uma consulta deveria ser um espaço de cuidado, atenção e delicadeza.
Nas minhas experiências, nos atendimentos médicos em Lisboa, tive a sensação de ser logo “despachada”, como dizem por aqui. Uma pressa e impessoalidade que não deveriam estar num serviço de saúde.
Teresa Franco é portuguesa e técnica superior de diagnóstico e terapêutica. Quando tem algum problema simples de saúde para tratar e quer rapidez na marcação da consulta, ela costuma procurar o serviço co-participado, mas, diante de uma situação mais grave, prefere ser atendida pelo SNS.
Finalmente, consegui o pedido de exame feito pela médica de família. Precisei pagar, porque não havia co-participação com o Sistema Nacional de Saúde, mas, tudo bem, porque o importante era ter o pedido e realizar o exame do meu filho.
O médico radiologista não foi muito diferente dos outros, apressado e sem paciência para perguntas, que, naturalmente, seriam feitas. Não sou médica, e o paciente examinado era meu filho. Respirei fundo, contei 1,2,3 e saí.
Na sala de espera havia, um casal de portugueses já mais idosos. Quase que por impulso, indaguei: É sempre assim? Essa vontade de nos mandar logo embora da sala?
Os dois ergueram a cabeça com expressão meio desanimada e quase ao mesmo tempo responderam: "Pois..."