MSF denunciam “risco sério” para a vida de mães, recém-nascidos e crianças em Gaza

A organização relata uma crise acentuada na saúde de mães, recém-nascidos e crianças palestinianos, assim como falta de cuidados médicos adequados para estas populações

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Deterioração das condições de vida e dos cuidados de saúde põe mães, crianças e recém-nascidos "em risco sério" IBRAHIM NOFAL/MÉDICOS SEM FRONTEIRAS
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Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) denunciaram esta sexta-feira que as “terríveis condições de vida” causadas pelos efeitos da guerra em Gaza estão a levar a “problemas de saúde graves” para mães, recém-nascidos e crianças palestinianos na região. A ONG afirma que, dos 36 hospitais de Gaza, menos de metade está a funcionar em Novembro.

Segundo um comunicado dos MSF, para além da deterioração das condições de vida, as consequências da guerra que mais põem em risco as mães e crianças da região são “ataques em zonas densamente povoadas, acesso deficiente a alimentos e deslocações repetidas”.

Os números de pacientes atendidos pelos Médicos Sem Fronteiras são "avassaladores", dizem os MSF. Entre Junho e Outubro de 2024, 3421 bebés e crianças abaixo dos cinco anos foram tratados pela ONG na ala pediátrica do Hospital Nasser. Vinte e dois por cento das crianças e bebés admitidos foram tratados por casos de diarreia e cerca de 9% por casos de meningite. Cento e sessenta e oito recém-nascidos com menos de um mês de idade e mais de 10.800 crianças de um aos cinco anos foram internados no hospital devido a infecções do tracto respiratório superior, e 1294 crianças por infecções do tracto respiratório inferior, relatam os MSF.

Segundo a organização, dos 36 hospitais em Gaza, só 17 permanecem a funcionar em Novembro de 2024, obrigando mães com os seus filhos a atravessarem distâncias maiores para chegarem aos estabelecimentos de saúde, o que leva à exposição dos recém-nascidos e crianças a mais doenças e a risco de ataques.

De acordo com Mohammad Abu Tayyem, médico pediatra dos MSF que trabalha no Hospital Nasser, no Sul da Faixa de Gaza, o número de crianças a serem tratadas por várias doenças é crescente.

“Estamos a tratar crianças com doenças infecciosas, doenças respiratórias e doenças de pele. Claro que já víamos isto antes da guerra, mas hoje vemos muito mais e os números continuam a aumentar”, refere o médico, que conta ainda que o departamento pediátrico está em “sobrelotação”, incluindo “crianças com pneumonia aguda”.

“Este período tem sido muito difícil e longo. Já passou mais de um ano desde o início da guerra e afectou muito toda a gente, especialmente as crianças que estão na fase de crescimento”, conta ainda Tayyem, apontando como factores a "falta de alimentos nutritivos e de nutrientes essenciais, o que teve impacto na saúde dos recém-nascidos e das crianças e na construção da imunidade, tornando-os mais vulneráveis às doenças infecciosas".

Partos prematuros

A fraca higiene e a falta de comida e produtos de higiene levam ainda a que haja um “número significativo” de mães a dar à luz prematuramente ou a sofrer problemas pós-parto, também devido à subnutrição das próprias mães.

A falta de ajuda humanitária, contam os MSF, leva à falta de produtos de higiene, de comida e produtos neonatais necessários durante o início da vida dos bebés, o que contribui para um aumento da malnutrição em crianças e bebés, assim como um maior risco de doenças, especialmente à medida que se aproximam os meses frios.

“Não tenho fraldas para o meu filho”, contou Yasmin, uma mãe palestiniana ouvida pela ONG cujo filho estava a ser assistido no Hospital Nasser.

“Nem sequer tenho roupa adequada para ele; tenho de usar um saco de plástico, e isso expõe a pele dele a mais infecções e erupções cutâneas. Viver numa tenda está a expor os meus filhos a condições extremas e eles nem sequer têm uma cama adequada para dormir”, relatou ainda.

Numa conferência de imprensa citada pela Reuters, a funcionária sénior da organização das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, UNRWA, Natalie Boucly denunciou uma quebra generalizada da habitabilidade na Faixa de Gaza, apontando para o facto de "toda a população de Gaza" estar a "precisar desesperadamente de assistência, numa situação de fome iminente". Em comparação com os cerca de 500 camiões diários de ajuda humanitária que entravam em Gaza diariamente antes da guerra, afirma a representante, só 37 entram actualmente por dia neste local.

Segundo os Médicos Sem Fronteiras, apesar da sua presença no Hospital Nasser e em três clínicas de cuidados primários, que oferecem cuidados médicos pediátricos, neonatais e obstétricos, as actividades levadas a cabo pela organização nestas áreas médicas são, segundo a própria ONG, "apenas uma gota no oceano das altas necessidades médicas de Gaza", levando a ONG a apelar, como "única solução para aliviar o sofrimento da população da Faixa de Gaza", a um cessar-fogo "permanente e imediato" que permita "garantir acesso a cuidados de saúde e ajuda humanitária".

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