Há uma coisa que a Rainha Isabel II e Michael Jackson, a Madre Teresa de Calcutá e O.J. Simpson têm em comum: todos participaram nos famosos debates de quinta-feira da Oxford Union, a associação que derivou da academia britânica e que coloca num púlpito, muitas vezes frente-a-frente, as opiniões de estudantes e de alguns dos nomes mais sonantes da sociedade civil. E que chegou a ser presidida pelo antigo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
Ali fala-se de temas sensíveis. Tão sensíveis que houve quem recusasse participar neles: ainda em Julho, Gerald M. Steinberg, um dos mais proeminentes cientistas políticos israelitas, recusou comentar num debate sobre se Israel era "um estado de apartheid responsável por um genocídio" — isso seria uma "demonização" carregada de "propaganda odiosa" contra o seu país natal, afirmou. E em Setembro, também o realizador indiano Vivek Agnihotri virou costas ao debate sobre a independência da região de Caxemira porque o tema lhe pareceu "desagradável e ofensivo".
Esta é a atmosfera de argumentação fervilhante, e por vezes polémica, em que a Nova SBE, a escola de economia da Universidade Nova de Lisboa, se inspirou para desafiar os estudantes universitários de todo o país a debater políticas públicas. "Trata-se de uma iniciativa que incentiva o estudo, promove o debate e potencia a reflexão", adiantou fonte oficial da escola. O objectivo é que os participantes reflictam sobre várias políticas públicas, como as taxas de carbono ou medidas sobre a imigração, mas "contrariando cenários que perpetuam visões preconcebidas e exploram, de forma justa e critica, pontos de vistas opostos".
É que, nestes debates, sempre em inglês, nunca se sabe de que lado da barricada se vai lutar: a proposição que intitula o debate — por exemplo, "Os alunos não deviam pagar propinas" — é previamente anunciada aos dois grupos, compostos por três a cinco elementos, que se vão confrontar. Mas o ponto de vista que cada um terá de defender (a favor ou contra) é atribuída aleatoriamente e só é comunicado no início do encontro. Isso força as duas equipas a prepararem as intervenções para ambas as posições possíveis, o que "enfatiza a necessidade de compreender argumentos para formar opiniões informadas e promover o estudo e a exposição de ideias no contexto das políticas públicas".
Cada debate, organizado pelo recém-criado Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE, tem a duração máxima de 12 minutos por equipa: cada grupo tem um minuto para partilhar as notas introdutórias, duas rondas de cinco minutos para desenvolver argumentos e um último minuto para fazer observações finais. Ganha quem amealhar mais pontos com base em cinco aspectos: apresentação de argumentos coerentes com a posição que teve de defender, apresentação de respostas directas a contra-argumentos, capacidade de manter o respeito pela posição contrária, gestão do tempo e domínio da arte da retórica.
No total, haverá 16 equipas a concurso, preferencialmente compostas por estudantes de áreas distintas. O prémio final é de 5000 euros para a equipa vencedora e esse valor é dividido por todos os elementos da equipa, mas a organização também entrega 3000 euros à equipa na segunda posição e 1000 euros a todos os semifinalistas. Os interessados devem inscrever-se por email até ao dia 30 de Novembro para que os debates comecem entre Fevereiro ou Março do próximo ano. Ainda não há datas para esses encontros, mas podes marcar o dia e local da semifinal e da final no calendário: 10 de Abril de 2025, no Festival de Políticas Públicas do novo instituto da Nova.