Mondlane aceita reunião pedida pelo Presidente moçambicano mas só com agenda definida

“A soberania de Moçambique reside no povo, então é o povo que determina o que deve ser a agenda desse diálogo”, disse o candidato presidencial.

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Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato da Frelimo, nas eleições moçambicanas JOSE COELHO / EPA
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Venâncio Mondlane anunciou esta quinta-feira que aceita a reunião pedida pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, com os quatro candidatos presidenciais às eleições de Outubro, para resolver o conflito pós-eleitoral que afecta o país há um mês, mas fez depender a sua presença da agenda do encontro.

“Eu, Venâncio Mondlane, candidato vencedor das eleições presidenciais de 2024, aceito sem reservas esse diálogo, aceito essa mesa de diálogo (…). Mas esse diálogo, como qualquer diálogo, como qualquer negociação, como qualquer tipo de encontro institucional, deve ter uma agenda”, anunciou o candidato presidencial, numa transmissão através da sua conta oficial na rede social Facebook.

Para “não ir ao encontro no vazio, sem nenhuma agenda”, avançou que vai submeter nas primeiras horas de sexta-feira, no gabinete da Presidência da República, um ofício com uma proposta “sustentada” pelos contributos dos moçambicanos sobre os passos a seguir no processo de contestação aos resultados anunciados das eleições gerais de 9 de Outubro, resumidos em cerca de 20 pontos que irá apresentar publicamente e que “representam os anseios do povo moçambicano”.

“Quarenta mil pessoas escreveram [e-mail] para mim e está tudo resumido na carta que vai dar entrada na Presidência da República”, disse Venâncio Mondlane.

“A soberania de Moçambique reside no povo, então é o povo que determina o que deve ser a agenda desse diálogo”, frisou.

O candidato presidencial, que não aceita os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional, apontando várias irregularidades ao processo eleitoral, rejeita um diálogo “à porta fechada” e com “segredinhos”.

“Diálogos abertos, em que a imprensa tenha acesso, em que a sociedade civil tenha acesso, em que os mediadores internacionais tenham acesso. Vamos fazer história”, acrescentou o candidato, que afirma estar fora de Moçambique por questões de segurança, sendo actualmente visado por vários processos judiciais desencadeados pelo Ministério Público, nomeadamente conspiração para golpe de Estado, na sequência das manifestações e protestos do último mês.

O Presidente moçambicano convidou na terça-feira os quatro candidatos presidenciais para uma reunião, incluindo Venâncio Mondlane, e disse que as manifestações violentas pós-eleitorais instalam o “caos” e que “espalhar o medo pelas ruas” fragiliza o país.

“Prometo que, até ao último dia do meu mandato, irei usar toda a minha energia para pacificar Moçambique (...). Mas para que eu tenha sucesso nesta missão, precisamos de todos nós e de cada um de vocês (…). Moçambicanos têm de estar juntos para resolvermos os problemas”, disse Nyusi, numa mensagem à nação, de cerca de 45 minutos, sobre a “situação do país no período pós-eleitoral”.

Apelando à “libertação do egoísmo” neste processo pós-eleitoral, o chefe de Estado, cujo último mandato termina em Janeiro, garantiu que o Governo está “aberto” para, “juntos”, se encontrar “uma solução” para o actual momento, marcado por paralisações e manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.

“Precisamos inclusivamente dos diferentes candidatos a Presidente da República. Precisamos do envolvimento do Lutero Simango, do Daniel Chapo, do Venâncio Mondlane e do Ossufo Momade. Precisamos do envolvimento dos seus colaboradores e apoiantes”, disse Nyusi.

Nestes protestos, Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE.

Sobre estas manifestações, Nyusi afirmou que não obedeceram aos preceitos legais, como a “falta” de informação sobre as “rotas” por quem as pediu, admitindo que a forma de convocação estava concebida para “criar ódio e desejo de vingança” entre moçambicanos, justificando assim a intervenção policial.

O Presidente de Moçambique afirmou também que não permitirá interferências externas no processo pós-eleitoral no país. “Deixamos claro que Moçambique não irá permitir que pessoas de fora controlem as nossas decisões”, disse Nyusi, acrescentando: “O futuro de Moçambique será moldado pelos próprios moçambicanos, por isso nós pedimos aos nossos amigos e parceiros de cooperação internacionais, aqueles que são genuinamente amigos, a serenar este ambiente.”