Quanto vale uma banana? A de Maurizio Cattelan foi vendida por 6,2 milhões de dólares

Comediante, obra de arte que consiste apenas numa banana colada à parede com fita adesiva, bateu largamente as estimativas iniciais no leilão da Sotheby’s desta quarta-feira, em Nova Iorque.

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A peça de Maurizio Cattelan foi arrematada por Justin Sun, empreendedor na área da criptomoeda RHONA WISE/EPA
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A obra Comediante, provocação do artista italiano Maurizio Cattelan que consiste apenas numa banana madura colada à parede com fita adesiva, foi arrematada esta quarta-feira, num leilão da Sotheby’s em Nova Iorque, por 5,2 milhões de dólares (quase cinco milhões de euros). O valor final a desembolsar pelo comprador, Justin Sun, que se juntou ao leilão via telemóvel (o investidor nascido na China estava em Hong Kong), ascende aos 6,2 milhões de dólares, com as taxas da leiloeira. A licitação durou apenas sete minutos, tendo a estimativa inicial, que previa que a venda encaixasse no intervalo compreendido entre um milhão e 1,5 milhões de dólares, sido largamente ultrapassada.

O lote milionário inclui um rolo de fita adesiva e uma banana, que a Sotheby’s comprou na manhã do leilão por 35 cêntimos de dólar numa frutaria junto à sua sede em Nova Iorque. Justin Sun, que bateu outros seis investidores, adquiriu também um certificado de autenticidade (que lhe dá “autoridade para colar uma banana a uma parede e chamá-la Comediante”, explica a National Public Radio), bem como instruções de Maurizio Cattelan para instalar a obra correctamente, de modo a que o comprador possa, caso queira, substituir a peça de fruta sempre que esta apodreça.

O vencedor da licitação, que em 2021 já comprara, noutro leilão da Sotheby’s, uma escultura do artista suíço Alberto Giacometti por 78 milhões de dólares, é um empreendedor na área da criptomoeda. É em “cripto”, aliás, que o pagamento se processará. Num comunicado emitido através da leiloeira, Justin Sun diz que Comediante “representa um fenómeno cultural que une os mundos da arte, dos memes e da comunidade de criptomoedas”. O coleccionador e investidor revela ainda a sua intenção de comer a banana nos próximos dias, “honrando o seu lugar quer na história da arte quer na cultura popular”.

“Eis palavras que nunca imaginei dizer: cinco milhões de dólares por uma banana”, comentou Oliver Barker, o leiloeiro de serviço, após os sete minutos em que a licitação escalou rapidamente dos 800 mil dólares para o valor final.

Maurizio Cattelan apresentou Comediante pela primeira vez em 2019 na Art Basel de Miami, feira de arte contemporânea onde a galeria Perrotin, que exibiu a peça, vendeu três edições da mesma por valores entre os 120 mil e os 150 mil dólares (cada uma). A banana viria a ser ingerida pelo artista nova-iorquino David Datuna, que documentou o acto numa trilogia de vídeos partilhados na rede social Instagram. “É uma performance. Chama-se Artista com Fome”, disse num dos vídeos. Na descrição que os acompanhava, viria ainda a escrever: “Adoro o Maurizio Cattelan e gostei muito da instalação. Muito deliciosa.”​

Naturalmente controversa, a segunda banana mais conhecida do mundo da cultura (a primeira, diríamos, continua a ser aquela que adorna a capa do lendário primeiro álbum dos Velvet Underground) é “um comentário e uma reflexão sinceros sobre aquilo a que damos valor”, afirmou Maurizio Cattelan em 2019. “Com base em que parâmetros é que um objecto ganha valor no sistema da arte?”, questionou-se, numa citação agora recuperada pelo The New York Times. “Comediante foi simultaneamente ridicularizada como uma consequência dos excessos do mercado de arte e elogiada como um símbolo irónico da sua própria absurdez”, resume o The Art Newspaper.

Esta não é a única obra viral e/ou provocatória do artista italiano, que em 2016 deu o nome America a uma sanita de ouro maçico (totalmente funcional). Crítica aos desequilíbrios na distribuição de riqueza nos Estados Unidos, a peça foi roubada, em 2019, do Palácio de Blenheim, em Inglaterra, onde estava temporariamente instalada. Originalmente, havia sido produzida para o Museu Guggenheim, que chegou a emprestá-la, a longo prazo, à Casa Branca — isto depois de Donald Trump, então no seu primeiro mandato como Presidente dos EUA, ter solicitado à instituição nova-iorquina o empréstimo de uma pintura de Vincent Van Gogh.

O artista visual de 64 anos é ainda autor, por exemplo, da escultura Him, que retrata Hitler ajoelhado, a rezar. “Uma obra de arte que tenta falar sobre o mal que se esconde em todo o lado”, disse em 2012 Fabio Cavallucci, então director do Centro de Arte Contemporânea de Varsóvia — onde a exibição da obra gerou polémica entre representantes da comunidade judaica.

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