Cartas ao director

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COP29 – tapar o sol com a peneira

Na COP29 alinham-se biliões em financiamentos para ajudar os países mais pobres a enfrentar as catástrofes das alterações climáticas e a implementar programas de resiliência para a adaptação de produções a um clima cada vez mais imprevisível: o mesmo que tapar o sol com a peneira, quando este precisa de ser tapado com ozono. Mais certeiros são os financiamentos para a descarbonização, mas estes afiguram-se ser areia para os olhos, pois os projectos com aquela finalidade serão uma gota de água face àquilo que é necessário fazer. Controlar os excessos de produção e rentabilizar melhor aquilo que se produz parecem ser medidas utópicas para este mundo habituado a consumir sem regras. Os estímulos ao crescimento económico surgem agressivos e por isso incongruentes com as metas climáticas pretendidas. E assim se salta de cimeira em cimeira, mais para mostrar que estamos preocupados com a situação do que propriamente para a resolver.

José M. Carvalho, Chaves

Ressuscitem a diplomacia

Assertivo como sempre, e acertado como quase sempre, o Escrito na Pedra do PÚBLICO de ontem, consignado a Diderot (“Há muito tempo que o papel de sensato é perigoso entre os doidos”), fez-me lembrar o Papa Francisco. Entre os dirigentes do mundo actual, parece ser o único com a sageza e a sensatez suficientes para se aperceber de que os nossos valores não têm de ser coincidentes com os valores de todos os outros, nem, por outro lado, lhes são “superiores”. “Sacar” da arma, à maneira dos cowboys, parece ser a única forma que esses dirigentes conseguem articular nas suas pequeninas mentes para liderar as comunidades.

Depois de tudo o que aprendemos com as tragédias mundiais que o século XX nos “ofereceu”, talvez já convenientemente esquecido por muitos dos que “mandam”, pasma-se que estes não consigam balbuciar mais do que ameaças e contra-ameaças, no (des)concerto planetário, sem qualquer recurso ao diálogo. Para gáudio dos belicistas, muitos deles sem suspeitarem de que o são, proliferam as guerras, todas “justas” à vista dos seus exclusivos interesses. É tempo de “sacar” do humanismo, sem medos de quaisquer acusações de colaboracionismo, traição, ou mesmo cobardia, e bradar: abaixo as armas, viva a diplomacia.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Tudo a piorar

No nosso país é o que se vê, diz-se que faltam médicos e enfermeiros. A saúde vai de mal a pior e a ministra da tutela já se devia ter demitido, mas é obstinada e convencida. Julga que está a fazer um grande papel. Segundo recentes notícias que foram divulgadas, a falta de médicos e enfermeiros já se fazia sentir também na UE no ano de 2022. Faltavam 1,2 milhões de profissionais de saúde e a crise agravar-se-á com a reforma de um terço dos médicos e um quarto dos enfermeiros nos próximos anos. Prenuncia-se um futuro distópico e nem os “milagres” da IA nos salvarão. Cheguei tarde à conclusão que, seja com o PS ou seja com o PSD no governo, as trapalhadas e a incompetência continuarão. Por consequência, não posso deixar de lembrar Eduardo Galeano, que, acertadamente, já afirmava: “Votar é escolher o molho com que serás devorado.” Não será demais recordá-lo.

António Cândido Miguéis, Vila Real

Que S. Francisco nos valha

Domingo vi na SIC, no programa de Ricardo Araújo Pereira, o que julguei ser apenas um número ficcionado relativo a uma reunião na Câmara Municipal de Lisboa para atribuição de um nome a uma ponte pedonal entre os concelhos de Lisboa e Loures. Até julguei que as pessoas apresentadas como vereadores fossem actores. Ontem constatei que não era assim. A reunião e tudo o que nela se passou, desde o objectivo e os vereadores, passando pelos diálogos surrealistas que mantiveram, tudo foi real.
Na qualidade de munícipe não posso deixar de expressar o meu espanto sobre como é possível que aqueles senhores e aquelas senhoras que intervieram na dita reunião (vereadores) sejam gente escolhida pelos partidos políticos e eleitos pelos cidadãos para gerirem a mais importante câmara do país.

Elder Fernandes, Lisboa

A despedida de Biden

No dia em que morreram 72 palestinianos em mais um bombardeamento israelita em Gaza, Joe Biden autorizou a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance. O que esperar de quem envia armas para Israel e para a Ucrânia? A paz não é a finalidade. Amargurado com a vitória de Trump, Biden, ao invés de promover a paz, fomenta a continuidade da guerra. Porque não o fez há mais tempo? A resposta é muito simples. Joe Biden quer dificultar o possível esforço de Trump para acabar com a guerra. Um presidente derrotado nas urnas não devia tomar iniciativas desse calibre. A despedida de Biden não podia ser mais preocupante.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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