Patrões querem dar prioridade à revisão da lei laboral, UGT não garante acordo

Embora entenda que o tema não é prioritário, UGT aceita discutir “sem tabus”. Só não garante que haja acordo. Governo vai propor calendário para discutir os temas previstos no acordo de rendimentos.

Foto
Maria do Rosário Ramalho, ministra do Trabalho, reuniu-se com os parceiros sociais para definirem os temas prioritários a discutir no próximo ano TIAGO PETINGA / LUSA
Ouça este artigo
00:00
03:16

Se a vontade das confederações patronais vingar, no arranque do próximo ano a concertação social vai voltar a debruçar-se sobre a legislação laboral, para discutir as restrições à subcontratação (outsourcing), o banco de horas individual, o trabalho em plataformas, o contrato intermitente, o período experimental e o regime do teletrabalho, entre outros pontos da Agenda do Trabalho Digno que está em vigor desde Maio de 2023. Para a UGT, este não é um tema prioritário, mas se for posto em cima da mesa a união sindical vai discuti-lo "sem tabus". Só não garante que haverá acordo.

No final da reunião da Comissão Permanente de Concertação Social (CPCS) desta quarta-feira, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Ramalho, não quis identificar as prioridades do Governo e apenas adiantou que as discussões terão lugar a partir de Janeiro.

"Nunca me adianto em relação à concertação social", afirmou. “O Governo não se antecipa nessa matéria, o que hoje quis fazer foi ouvir dos parceiros quais eram as prioridades de cada um", acrescentou.

No acordo de rendimentos assinado a 1 de Outubro, os parceiros comprometem-se a levar à concertação social um conjunto de temas que não houve tempo para discutir: saúde e segurança no trabalho, formação profissional, legislação laboral, sustentabilidade da Segurança Social, modernização administrativa e o estatuto dos benefícios fiscais.

Nesta quarta-feira, as confederações da indústria, do comércio e serviços e do turismo anunciaram que, entre os temas em cima da mesa, a sua prioridade é rever o Código do Trabalho.

Armindo Monteiro, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), destacou a necessidade de “corrigir” algumas das medidas, até porque “passaram ao lado da Concertação Social”.

Entre os pontos a rever, apontou a proibição da subcontratação após um despedimento.

Do lado da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros também pôs “particular ênfase” na legislação laboral, destacando a necessidade de rever o banco de horas individual assim como o regime dos contratos intermitentes e de muito curta duração.

Já a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) defendeu que não é possível manter o teletrabalho e o trabalho em plataformas a funcionar “no quadro legal e mental dos primeiros anos deste século”. O presidente, João Vieira Lopes, diz que a CCP quer discutir também o banco de horas ou os períodos experimentais.

A sustentabilidade da Segurança Social é outra das prioridades da CIP e da CCP. Vieira Lopes defende que devem ser estudadas novas fontes de financiamento e destacou o peso que a taxa social única tem nas empresas.

Do lado da UGT, a única central sindical a assinar o acordo de rendimentos, rever a lei laboral não é uma prioridade.

“A primeira prioridade da UGT é a valorização dos salários e dos trabalhadores”, assegurou o secretário-geral da estrutura, Mário Mourão.

Mas se o tema for colocado em cima da mesa, a UGT vai discuti-lo “sem tabus”. “Não garanto é que haja acordo”, avisou, lembrando que a central sindical também tem propostas que não agradarão aos patrões, como a reposição do princípio do trabalho mais favorável ou a reversão de várias medidas tomadas durante o programa da troika e que se mantêm.

Para Tiago Oliveira, líder da CGTP, a prioridade dada pelos patrões à lei laboral "deve-nos preocupar", porque é "sinal de que querem continuar o caminho de aprofundamento das dificuldades de quem trabalha", alertou.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários