Quando Kevin Howells viu as imagens, percebeu que o “urso” que estava a ver provavelmente não era um urso.
Os investigadores do Departamento de Seguros da Califórnia pediram a Howells, um biólogo do Departamento de Pesca e Vida Selvagem do estado norte-americano, que analisasse as filmagens apresentadas por pessoas que pretendiam receber indemnizações de seguros por danos em automóveis causados por ataques de ursos.
A companhia de seguros que recebeu um dos pedidos de indemnização levantou suspeitas aos funcionários estatais de que o urso poderia não ser real.
“Assim que o ‘urso’ entrou no enquadramento, para mim, foi bastante óbvio que não era um urso”, disse Howells.
Quatro pessoas foram detidas por alegadamente terem apresentado os vídeos falsos e defraudado agências de seguros em cerca de 130 mil euros, anunciou o Departamento de Seguros da Califórnia.
Os vídeos enviados às companhias de seguros mostravam, na verdade, um ser humano vestido de urso, disse o departamento, acrescentando que os seus detectives tinham encontrado um fato de urso ao revistar as casas dos quatro residentes da zona de Los Angeles que foram detidos. O grupo alegadamente enviou vídeos e fotos semelhantes a pelo menos três companhias de seguros diferentes, alegando que um urso tinha danificado os seus carros, incluindo um Rolls-Royce e dois Mercedes, disseram as autoridades.
Avistamentos de ursos-negros na Califórnia não são incomuns. Alguns, como “Hank the Tank”, na zona de Lake Tahoe, tornaram-se mesmo famosos por aterrorizarem certos bairros em busca de comida.
Mas o caso do “urso” que supostamente danificou carros em Lake Arrowhead, uma área no condado de San Bernardino, pareceu suspeito às seguradoras de automóveis.
Uma empresa comunicou ao Estado as dúvidas com o sinistro que envolvia um Rolls-Royce, dando início ao que o departamento de seguros estatal designou por “Operação Garra de Urso”. Os detectives descobriram que tinham sido apresentadas a outras companhias de seguros reclamações semelhantes, com vídeos e fotografias, envolvendo dois outros carros no mesmo local e na mesma data, 28 de Janeiro.
Em Junho, um detective enviou um email a Howells para lhe pedir uma opinião profissional sobre as imagens.
O biólogo observou que o urso do vídeo se movia de forma diferente do esperado. Depois, detectou “uma folga visível no fato”, disse, referindo que se fosse um urso verdadeiro o pêlo estaria esticado contra o corpo. Quando o urso se aproximou da porta de um carro num dos vídeos, pareceu não ter problemas com o puxador.
Outro sinal revelador: os danos pareciam demasiado limpos e ordenados para terem sido causados por um urso selvagem, disse Howells.
Juntamente com os vídeos, os pedidos de indemnização do seguro incluíam fotografias que mostravam filas de linhas ténues nas portas e nos bancos dos carros danificados. As pessoas que enviaram as imagens disseram que as linhas tinham sido provocadas pelos arranhões do urso. Mas algumas das fotos mostravam uma linha de seis marcas de arranhões que teriam sido feitos pelo animal. Os ursos têm cinco dedos.
Por fim, Howells disse que os ursos deixam vestígios biológicos – pêlo, saliva, urina. Mas o detective informou que não havia nenhum vestígio neste caso, disse Howells. “Todas estas coisas, somadas, tornaram-se bastante óbvias”, disse Howells.
Respondeu por escrito ao detective, explicando as suas observações sobre as imagens.
“Sinto, com muita confiança, que não se trata de um urso selvagem”, disse Howells ao The Washington Post, “e provavelmente é um humano num fato de urso com uma ferramenta de jardinagem ou algum tipo de ferramenta com seis dentes.”
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post