Lula ganhou: o G20 aprovou a Aliança Global contra a Fome e todos os pontos polémicos

Usando a técnica do “facto consumado”, o Presidente brasileiro abreviou a votação e ainda deu tempo a Milei para dizer porque aprovou o texto, depois de ter ameaçado não o fazer.

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A saudação entre Lula e Milei foi gélida e protocolar, mas a diplomacia funcionou BRAZILIAN PRESIDENCY / VIA REUTERS
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A escalada da guerra na Ucrânia, sobretudo nos últimos dias, e as ameaças de “chumbo” do Presidente argentino, Javier Milei, comprometiam o sucesso da Cimeira do G20, que termina nesta terça-feira no Rio de Janeiro. Mas Lula da Silva venceu todas as resistências diplomáticas – da Rússia, da França, da Argentina – e conseguiu ver aprovada a declaração final da cimeira, onde se inclui a taxação dos super-ricos, a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o combate às alterações climáticas e ainda declarações contra as guerras em curso, ainda que no tom suave e não belicoso de uma trabalhada linguagem diplomática.

Conta a Folha de São Paulo que Lula o conseguiu “nos últimos minutos”, recorrendo à táctica do “facto consumado” quando, já no final da última reunião plenária de segunda-feira, passou por cima do pedido de adiamento do negociador da França e anunciou o consenso quanto ao texto final. Os franceses queriam endurecer a declaração sobre o conflito da Ucrânia, que tinha sido escrito antes do ataque da Rússia a infra-estruturas ucranianas, o que tinha a oposição de Moscovo, mas Lula disse que o texto de geopolítica tinha sido negociado durante um ano e “bateu com o martelo”, dando o caso por terminado.

Logo a seguir passou a palavra ao Presidente argentino, Javier Milei, para que este pudesse expor as suas divergências sobre temas tão importantes como a Agenda 2030, a desinformação ou a igualdade de género. Milei tinha ameaçado não assinar a declaração, que sem consenso era como se não existisse, mas acabou por aceitar colocar a sua chancela, reservando-se apenas o direito de afirmar as suas divergências.

Milei, que foi visto como o “ponta de lança” de Donald Trump, o Presidente eleito dos EUA ainda sem assento no G20, tem um histórico de más relações com Lula da Silva e significava a maior ameaça para a vitória diplomática de que Lula tanto precisava nesta cimeira. O cumprimento entre os dois no início da sessão plenária foi fria e protocolar, mas mesmo assim representou um progresso para quem tem trocado críticas e até insultos.

Segundo o jornal argentino Clarín, às 5h da manhã de segunda-feira, a declaração final da cúpula dos líderes estava fechada, mas a delegação da Casa Rosada (sede da Presidência argentina) exigiu voltar a rever alguns parágrafos devido à sua oposição à Agenda 2030.

No entanto, depois de um dia de nervos e de mais umas críticas nas redes sociais, Milei anunciou ao final da tarde o apoio à declaração final dos líderes do G-20, ainda que com declaração de voto. Ou, nas suas palavras, apoio às conclusões “dissociando-se parcialmente de todo o conteúdo ligado à agenda 2030”, em referência aos objectivos de desenvolvimento acordados pelo mundo na ONU, segundo o El País.

Entre as posições discordantes estão “a promoção da limitação da liberdade de expressão nas redes sociais, o esquema de imposição e violação da soberania das instituições de governação global, o tratamento desigual perante a lei e, especialmente, a noção de que uma maior intervenção estatal é a maneira de combater a fome.”

“A nossa administração tem uma posição simples : se queremos combater a fome e erradicar a pobreza, a solução é sair do caminho”, disse o Presidente ultraliberal num dos discursos da reunião plenária, conforme divulgado pela Casa Rosada. Noutro, insistiu nas suas críticas à “governança global” e às suas organizações multilaterais, considerando que esse conceito se tornou “o rótulo para este fracasso”.

Mas, desta vez, o multilateralismo funcionou no Rio de Janeiro, dando a Lula da Silva uma importante vitória diplomática. O que vai depois ser posto em prática, ou não, já não dependerá dele.

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