EUA: um míssil contra a “casa dos horrores”
Sabendo que o futuro será terrivelmente diferente, Joe Biden decidiu autorizar os ucranianos a utilizar mísseis norte-americanos de longo alcance contra a Rússia.
Um candidato a procurador-geral que esteja a ser investigado por vários crimes, nomeadamente sexo pago com um menor? Confirmado. Um responsável pelo sistema de saúde que seja contra as vacinas e que acredita que as antenas de telemóvel provocam o cancro? Confirmado. Um empresário multimilionário com contratos de milhões com o Estado e objecto de investigação de entidades federais, para reformar o aparelho de Estado? Confirmado. Um embaixador para Israel que tenha dito que “os palestinianos não existem”? Confirmado. A responsável pelos serviços secretos ser alguém que é suspeita de favorecer Vladimir Putin? Confirmado.
A lista de nomeados por Donald Trump para a sua administração poderia continuar, com o enumerar de casos em que a suspeitas de total impreparação para o cargo ou de perigosas incompatibilidades se cruzam, para fazer da Casa Branca uma verdadeira “casa dos horrores” nos próximos quatro anos.
Com muito menos filtros do que no primeiro mandato, o novo Presidente eleito optou por uma estratégia de choque que passa por nomear gente que, no passado, dificilmente poderia esperar estar na soleira do palácio presidencial, mas que lhe é inteiramente fiel e com conhecidas posições que contrariam as linhas da actual Administração.
Sabendo que o futuro será terrivelmente diferente, Joe Biden decidiu autorizar os ucranianos a utilizar mísseis norte-americanos de longo alcance contra a Rússia. E fá-lo não só porque Donald Trump vem aí, mas também porque os próprios russos decidiram subir mais um degrau na escalada do conflito, ao incluir equipamento e tropas norte-coreanas no cenário do conflito.
Com a força do exemplo na mão, Biden vai reafirmar aos líderes mundiais presentes na cimeira do G20 a necessidade de continuarem a prestar um forte apoio à Ucrânia. O mundo, que tem de se preparar para uns EUA liderados por Trump, tem a obrigação de o ouvir com atenção, especialmente os países europeus. As hesitações, nomeadamente as alemãs, são cada vez menos aceitáveis, quando sobre a Europa pende uma ameaça existencial, agravada pelo destino incerto daquilo em que se poderá tornar a NATO nos próximos anos.
Vladimir Putin, que não hesitou em procurar a ajuda de um Estado pária que procura ser uma potência nuclear, dificilmente entenderá outra linguagem que não seja a da força. Sem deixar de procurar uma solução diplomática, é altura de a Europa mostrar a força que tem, sem precisar da ajuda norte-americana, que dificilmente receberá da “casa dos horrores”.