G20: Xi Jinping chega ao Brasil num último esforço para o incluir na Nova Rota da Seda

O Governo de Lula decidiu não aderir ao “Cinturão e Rota”, mas quer aprofundar as relações comerciais privilegiadas com a China e vai usar a vitória de Trump para negociar parcerias mais vantajosas.

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O Brasil é o anfitrião das várias reuniões do G20 que decorrem no Rio de Janeiro Ricardo Moraes / REUTERS
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O Presidente chinês, Xi Jinping, chegou ao Rio de Janeiro no domingo para participar na cúpula do G20 e "conversar em profundidade com o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva", informaram os media estatais chineses nesta segunda-feira, citados pela Reuters.

Em comunicado, Xi disse que espera ter uma troca de pontos de vista com o Presidente brasileiro sobre o aprofundamento das relações entre os dois países e que os dois líderes vão falar sobre a promoção de estratégias de desenvolvimento entre a China e o Brasil, bem como discutir questões internacionais e regionais.

O principal interesse da China é que o Brasil adira ao seu programa Cinturão e Rota, de que já fazem parte mais de 100 países, mas o Governo de Lula da Silva decidiu não integrar formalmente a Nova Rota da Seda, segundo noticiou a CNN Brasil no início de Novembro.

O principal argumento é que o Brasil já tem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como prioritário para a agenda de investimentos no país e que a ideia é continuar a oferecer os projectos do programa aos chineses, adiantou a CNN Brasil, acrescentando haver o receio de que, ao assinar a Nova Rota da Seda, o Brasil se submeta mais aos interesses chineses do que aos brasileiros, acabando por dar um cheque em branco ao gigante asiático para escolher onde quer investir.

Em vez disso, a diplomacia brasileira propôs a assinatura de um documento conjunto (um memorando de entendimento, como fez Portugal) que falará na ampliação das sinergias entre os dois países em diversos projectos nas áreas de infra-estruturas, finanças, energia, tecnologia e industrialização. Agora, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas deverá ser usada pelo Governo Lula para tentar negociar parcerias mais vantajosas com o líder chinês.

A China é o maior mercado de exportação do Brasil, e o comércio da China com o Brasil aumentou 9,9% nos primeiros 10 meses de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado, informou a agência de notícias oficial chinesa Xinhua nesta segunda-feira, salientando que os dois países celebram este ano 50 anos de relações diplomáticas e são ambos membros do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a que se juntaram outros países do chamado Sul Global).

A decisão de não-adesão formal à Nova Rota da Seda não foi unânime no Governo brasileiro, segundo a CNN Brasil. A China contava com o apoio da presidente do Banco dos BRICS, a ex-Presidente brasileira, Dilma Rousseff, grande entusiasta da ideia, mas enfrentou fortes resistências no Governo, em especial nos ministérios das Relações Exteriores e da Fazenda.

Segundo um diplomata ouvido pela CNN, é provável que, após a reunião bilateral entre os dois chefes de Estado, os anúncios sejam genéricos o suficiente para permitir à China dizer que o Brasil entrou na Iniciativa Cinturão e a Rota, e ao Brasil sustentar que não aderiu. Mas, na verdade, continuará tudo como antes: qualquer empresa chinesa que queira investir num projecto de infra-estruturas no Brasil precisará de seguir os mesmos trâmites de sempre: conseguir licenças ambientais, participar em concorrência pública, respeitar toda a legislação laboral e submeter-se ao escrutínio de órgãos de controlo.

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