O enigma Alan Turing

A história fascinante de Alan Turing a fechar a 8ª série da colecção Novela Gráfica, numa parceria PÚBLICO/Levoir

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O Caso de Alan Turing: A Extraordinária e Trágica História do Lendário Decifrador de Códigos
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Com O Caso Alan Turing, que chega aos quiosques de todo o país no próximo dia 22 de Novembro, chega ao fim esta oitava série daquele que é um dos mais importantes projectos editoriais portugueses do século XXI, no que à banda desenhada diz respeito: a colecção Novela Gráfica. Uma colecção que deu a descobrir aos leitores alguns dos maiores nomes da BD mundial, ajudando a trazer para a banda desenhada um público mais alargado que ainda não se tinha apercebido de que a BD é uma linguagem que permite tratar todo o tipo de temas, por mais sensíveis e complexos que sejam, não se limitando à aventura, ao humor ou ao mero entretenimento escapista.

Seguindo a tendência dos volumes anteriores, dedicados ao mestre do xadrez Bobby Fischer e ao cineasta Jacques Tati, o décimo primeiro e último volume desta oitava série é, também ele, uma biografia, a do matemático Alan Turing. Um homem complexo e genial, com uma vida também complexa que, como salienta o subtítulo do livro que motiva este texto, foi “extraordinária e trágica”. Uma história fascinante, a deste pioneiro da informática moderna, que motivou diversos livros, mas também o filme The Imitation Game, de 2014, com Benedict Cumberbatch no papel de Turing e, claro, esta novela gráfica, publicada originalmente em França em 2015.

Para contar esta vida complexa, era preciso uma abordagem menos tradicional e, por isso, o argumentista Arnaud Delalande e o desenhador Éric Liberge mergulham de uma forma não linear na vida perturbada do matemático, criando uma narrativa capaz de prender o leitor, não esquecendo a dimensão mais pessoal da vida de Alan Turing. Uma história que não termina com a morte de Turing em 1954, mas que se concentra naturalmente na sua actividade, durante a Segunda Guerra Mundial, em Bletchley Park, onde, às ordens dos serviços secretos ingleses, orientou uma equipa de cientistas na decifração dos códigos da Enigma, a famosa máquina de encriptação usada pelo exército alemão, que tornava as comunicações das tropas do Eixo praticamente invioláveis... Até Turing ter criado a Bomba, uma máquina de desencriptação, antecessora dos modernos computadores, capaz de desvendar os segredos da Enigma.

Escritor de sucesso, Delalande é também um prolífico argumentista de BD, com diversas biografias de personagens históricas no seu currículo, desde rainhas, como Catarina de Médici e Leonor da Aquitânia, a outras personalidades marcantes, como o corsário Surcouf, o mago Cagliostro e o cineasta Fritz Lang, num livro de 2022, em que voltou a colaborar com Éric Liberge.

Desenhador de igual modo prolífico e camaleónico, com mais de três dezenas de livros no seu currículo, incluindo séries como Les Corsaires d’Alcibiade ou Monsieur Mardi-Gras Descendres, Liberge procura adaptar o seu estilo à história a contar, misturando o desenho tradicional, num estilo clásssico e de grande legibilidade, com imagens geradas digitalmente, que, além de resultarem em páginas visualmente espectaculares, trazem outras camadas à própria história, reflectindo a sua complexidade. O resultado é um livro de grande impacto visual, muito por força do inovador trabalho gráfico de Liberge.

Mas, para além do seu contributo decisivo para a vitória Aliada, a vida de Turing tinha outra dimensão menos conhecida, que passava pela sua orientação sexual, vivida de forma clandestina numa Inglaterra em que a homossexualidade era considerada um crime e tratada como tal, face a uma legislação obsoleta, do tempo da Inglaterra Vitoriana, que já tinha servido para levar Oscar Wilde à prisão. Tal como o genial escritor, também Turing, mesmo sendo um herói de guerra, acabaria por pagar caro a sua orientação sexual, sendo julgado e condenado por comportamento indecente, tendo como únicas opções a prisão ou a castração química. A escolha pela segunda acabaria por levar Turing ao suicídio em 1954, apenas com 42 anos, privando-se, assim, de ver como o seu trabalho pioneiro abriu o caminho à extraordinária evolução da informática que nos trouxe até aqui. A sua memória só foi oficialmente reabilitada pela rainha de Inglaterra em Dezembro de 2013, quase 60 anos depois.

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