Alicerce da educação é base para Brasil crescer, criar empregos e distribuir renda

Para empresário, educação é fundamental para reduzir o fosso que separa ricos e pobres. Instituto Alicerce trabalha para resolver o apagão no ensino fundamental. Há jovens que não sabem fazer contas.

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Tecnologia tem ajudado estudantes, mas é preciso investir na educação básica, para corrigir falhas na formação Rui Gaudêncio
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O Brasil só conseguirá reduzir o fosso que separa ricos e pobres com grandes investimentos em educação, afirma o empresário Marco Stefanini, fundador do grupo brasileiro de inovação tecnológica Stefanini, presente em 41 países, sendo 19 na Europa, uma das empresas brasileiras mais internacionalizadas. “Vou repetir a frase de uma pessoa que admiro muito, que é a Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna: 'A melhor forma de realmente combater a desigualdade social chama-se educação'. Portanto, se queremos resolver o problema do Brasil de desigualdade social, tem que investir em qualidade e eficiência do sistema educacional”, diz.

Stefanini cita como exemplo a ser seguido a cidade cearense de Sobral, onde o apoio do Instituto Ayrton Senna mudou a realidade local. A partir dos anos de 1990, a gestão municipal combateu a distorção idades/séries e o abandono escolar com incentivo à formação de professores e ao fortalecimento da gestão escolar e da ação pedagógica. “O Instituto Ayrton Senna mudou a cidade, que tinha um dos piores níveis educacionais e, hoje, é um dos melhores do país. Acredito nessa combinação de iniciativa pública com iniciativas privadas e na continuidade de políticas”, afirma ele, que está em Lisboa para evento do Grupo Lide.

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Para Marco Stefanini, investir em educação de qualidade ajudará a reduzir a desigualdade social do Brasil Felipe Eduardo Varela

Contra a pobreza

Paulo Batista, fundador e presidente do Instituto Alicerce, voltado para o combate à pobreza e às desigualdades sociais, lembra que iniciou seu trabalho na área de educação quando era estudante de direito em São Paulo e decidiu ser voluntário de um cursinho pré-vestibular para jovens de comunidades carentes. Durante esse trabalho, verificou que a maioria dos alunos de ensino médio não dominava as operações básicas da matemática e que não era capa de ler e compreender um texto. Ou seja, esses estudantes tinham passado pelo ensino fundamental sem aprender.

“O problema da educação pública brasileira é um apagão de aprendizagem na base. Por uma série de fatores estruturais, a esmagadora maioria das crianças passa pelos anos escolares aprendendo muito pouco ou retendo muito pouco. Se analisarmos os dados da prova do PISA, siga em inglês que significa Programa Internacional de Avaliação de Alunos, eles revelam que só 3% chegam no ensino médio sabendo o que toda criança de 10 anos deveria saber. Mais de 70% não sabem fazer as quatro operações da matemática”, lamenta Batista.

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Segundo Paulo Batista, o problema da educação brasileira é o apagão de aprendizagem na base Arquivo pessoal

Motivado pela questão, que a seu ver, é o principal entrave para o desenvolvimento do Brasil, Batista criou a organização não governamental, sem fins lucrativos, com o objetivo de resgatar a formação que os alunos de escolas públicas, principalmente em situação de vulnerabilidade social, deveriam ter tido no ensino fundamental. “Apenas 9% desses alunos que terminam o ensino médio são capazes de ler um livro”, alerta.

Inteligência Artifical

O programa do Instituto Alicerce tem foco em leitura, escrita, matemática e inglês, no desenvolvimento socioemocional e na construção de um projeto de vida. O planejamento é distribuído em ciclos de 15 dias, com pontos muito específicos e que permitem o replanejamento e personalização da jornada de aprendizagem de cada estudante. “Trabalhamos no que chamamos de recomposição escolar”, explica. E acrescenta: “Trabalhamos com a mais avançada tecnologia de Inteligência Artificial aplicada à educação fora da China”.

Hoje, o Alicerce conta com mil professores espalhados pelo Brasil, geralmente, recém-saídos das universidades e remunerados por hora. Eles já atenderam mais de 100 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos. “O que tento sempre de lembrar à sociedade é que o buraco é mais embaixo. Existe um problema crônico na base educacional cognitiva dos brasileiros, que é uma bola de ferro, um impeditivo para qualquer avanço”, assinala Batista.

O objetivo do instituto é atender o máximo de pessoas, e Paulo Batista aponta que há recursos no Brasil para isso. “Existem mais de 20 mil empresas com faturamento acima de R$ 100 milhões (16 milhões de euros). Para mim, toda empresa que fatura mais de 100 milhões por ano, até pelo seu próprio interesse, deveria estar ajudando a resolver esse que é o maior desafio do Brasil", frisa.

Segundo ele, todo país que se desenvolveu no mundo foi por meio da educação. "Tínhamos de lançar uma campanha para ensinar todo mundo a ler e a escrever e fazer as quatro operações da matemática, independentemente da idade. Isso vai transformar a vida de milhões de pessoas, porque, quanto mais você aprende, mais renda é capaz de produzir”, finaliza.

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