BE exige demissão da equipa da Saúde. PCP diz que Governo “empurra” problemas

Mortágua avisou que, quando os problemas se prolongam, “a responsabilidade passa a ser do primeiro-ministro”. Raimundo acusou o Governo de transformar os problemas em “oportunidade de negócio”.

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A ministra da Saúde, Ana Paula Martins Daniel Rocha
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A líder do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, exigiu este domingo a demissão da equipa ministerial da Saúde, por alegadamente falhar no plano estratégico para o sector e se desresponsabilizar, e por incompatibilidade de elementos da mesma. Já o líder do PCP, Paulo Raimundo, considerou que a situação no INEM "desmascarou" os problemas do mesmo, acusando o Governo de "empurrar" os problemas do país "para a frente" e de os "transformar" numa "oportunidade de negócio".

"A equipa ministerial da Saúde não tem condições para governar e deve demitir-se ou ser demitida pelo primeiro-ministro, até porque, quando as coisas acontecem durante demasiado tempo, a responsabilidade passa a ser do primeiro-ministro e não da ministra da Saúde ou da sua equipa", defendeu Mariana Mortágua, no final de um almoço convívio na sede do partido, em Viseu.

A bloquista justificou essa exigência com uma lista "de algumas das razões pelas quais é preciso travar o Governo", defendendo que "é preciso travar o Governo em particular no plano que tem para a Saúde". Entre as razões apontadas está o coordenador do Plano de Emergência do Governo, e antigo secretário de Estado da Saúde de Pedro Passos Coelho, Eurico Castro Alves, que, no entender da bloquista, tem incompatibilidades para exercer essas funções.

Mortágua lembrou que Eurico Castro Alves liderou uma lista à Ordem dos Médicos no Porto e, dessa lista, saíram "várias pessoas" para o Governo: "o próprio Eurico de Castro Alves", a secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, o CEO do SNS, António Gandra d'Almeida e "o presidente do grupo que vai reorganizar as urgências de obstetrícia, Caldas Afonso".

Com foco em Eurico de Castro Alves, especificou que, da sua "empresa de consultoria em vários serviços na área da Saúde e outros, há também entidades e pessoas que já prestaram serviços e que, entretanto foram contratadas por essa empresa". "A saber: a secretária de Estado Ana Povo, que já tinha sido contratada por uma empresa de Eurico de Castro Alves, e a própria ministra da Saúde que tinha já sido contratada pela empresa de Eurico Castro Alves", apontou.

Além disso, continuou, "Eurico de Castro Alves tem e está envolvido numa seguradora privada de Saúde, e promete ser uma das maiores do país e tem todos os 'tubarões' do privado na saúde, é accionista do Hospital da Lapa, que gere o hospital privado". "O próprio Eurico Castro Alves foi director do Infarmed e, tendo saído, faz agora consultoria para as empresas de canábis medicinal poderem ter autorização junto do Infarmed", denunciou.

E, acrescentou, "faz ainda parte dos corpos sociais da Misericórdia do Porto que é a mesma Misericórdia que gere o Hospital da Prelada que recebeu os 65 milhões de euros para criar o centro de atendimento clínico que vai substituir as urgências, por decisão do plano de emergência feito por Eurico Castro Alves, nomeado pela ministra da Saúde".

"Em suma, Ana Paula Martins vai passar os cheques e a pergunta é: quem é que é de facto o ministro da Saúde? Quem é que manda de facto na Saúde? Porque a ministra passa os cheques, e já se percebeu que só quer mesmo passar os cheques. A questão é saber quem é que manda, quem é que toma as decisões na Saúde. Até ver, parece ser Eurico de Castro Alves, mas não é em nome da saúde pública e do SNS, isso vos garanto", acusou.

Neste sentido, Mariana Mortágua disse que este é um "Governo incapaz, incompetente, mas que tem um plano", que é o de "descartar-se das suas próprias responsabilidades a gerir o Estado e para isso descartar o Estado de gerir os serviços públicos, condicionando a hipótese do Estado ter serviços públicos no futuro". "E o Ministério da Saúde é caricatura disto. É caricatura deste PSD, que se quer descartar de todas as responsabilidades", rematou Mariana Mortágua, que acusou o Governo de estar desgastado, apesar de ter só sete meses de governação.

Situação no INEM "desmascarou" problemas

Já o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, disse este domingo que a situação actual do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) veio "desmascarar" um "problema dramático de falta de meios, de falta de condições para prestar o socorro a todos aqueles que necessitam dele".

O líder comunista discursava em Sines, no distrito de Setúbal, durante o Almoço Regional com perto de uma centena de militantes e simpatizantes do partido, no âmbito da campanha "Aumentar salários e pensões, por uma vida melhor".

"Perante o rei vai nu o que é que o Governo faz? Propaganda, anúncios, empurra com a barriga para a frente e pior ainda, tal como sempre dissemos relativamente a todas as questões que se colocam" é "extraordinariamente eficaz em transformar cada um dos problemas com o qual nós vivemos numa grande oportunidade de negócio para o sector privado", criticou.

Para o secretário-geral do PCP, "o rei vai nu na saúde, na educação, nas forças de segurança, na justiça, mas também nas Forças Armadas". "E, com tanto que falta, o grande contentamento do Governo é ter excedentes orçamentais", afirmou.

Já sobre as pensões, Paulo Raimundo reiterou que o partido não está "contra os apoios pontuais aos reformados", considerando que é uma medida que não resolve "os problemas de fundo". "O problema é que as contas de todos os dias, de todos os meses, a água, a luz, os medicamentos, a alimentação, a casa, a renda, tudo isso não se paga quando vier, eventualmente, o tal apoio pontual. Isso paga-se todos os meses e a única forma de garantir a elevação das condições de vida também dos reformados, não é dando apoios pontuais em meados do ano", mas "aumentando as reformas de forma significativa para quem trabalhou a vida inteira", defendeu.

O líder comunista criticou ainda os lucros da banca e das grandes empresas como a Galp e insistiu que o Orçamento do Estado "é mais uma peça ao serviço dos grupos económicos". Sobre a redução da taxa do IRC, Paulo Raimundo disse que "se destina às empresas com maiores lucros", "sob a falsidade de que temos as taxas mais elevadas".