Papa pede investigação sobre genocídio em Gaza no seu novo livro

Francisco apelou a uma investigação para confirmar se a guerra em Gaza corresponde à definição técnica de um genocídio. Primeiros excertos do livro do Papa foram publicados este domingo.

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No livro, o líder da Igreja Católica reflecte ainda sobre a geopolítica, família, clima, educação, realidade social, economia mundial e migração GIUSEPPE LAMI / EPA
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O Papa Francisco considera que se deve investigar se Israel está a cometer actos de genocídio em Gaza, segundo refere no seu novo livro A esperança nunca desilude e cujos primeiros excertos foram publicados este domingo, 17 de Novembro, no diário La Stampa.

"Segundo alguns especialistas, o que está a acontecer em Gaza tem características de genocídio. Deveria ser cuidadosamente investigado para determinar se se encaixa na definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais", assinala o Papa no livro. "Penso sobretudo em quem deixa Gaza no meio da fome que atingiu os irmãos palestinianos perante a dificuldade de fazer chegar comida e ajuda ao seu território", acrescenta Francisco.

No seu entender, no Médio Oriente, há "portas abertas de nações como a Jordânia ou o Líbano, que continuam a ser a salvação para milhões de pessoas que fogem dos conflitos naquela zona".

O novo livro foi editado pelo jornalista Hernan Reyes Alcaide e será publicado na terça-feira em Itália, Espanha e América Latina e, posteriormente, noutros países. A obra é publicada antes da celebração do Jubileu, que começa a 24 de Dezembro e decorre durante o ano 2025. Estima-se que cerca de 30 milhões de fiéis católicos vão em peregrinação a Roma.

No livro, o líder da Igreja Católica reflecte ainda sobre a geopolítica, família, clima, educação, realidade social, economia mundial e migração. Para Francisco, há "uma globalização da indiferença" à qual se deve responder "com a globalização da caridade e cooperação", sobretudo em questões como os actuais fenómenos de migração. "Perante este desafio, nenhum país pode ficar sozinho e ninguém pode pensar em enfrentar a questão de forma isolada através de leis mais restritivas e repressivas, às vezes aprovadas sob a pressão do medo ou para obter vantagens eleitorais", defende o Papa, que insta a que "se humanizem as condições dos imigrantes".

Para Francisco, "os países com os maiores fluxos migratórios devem ser envolvidos num novo círculo virtuoso de crescimento económico e de paz que inclua todo o planeta". "Para que a imigração seja uma decisão verdadeiramente livre é necessário fazer os possíveis para assegurar a participação igualitária no bem comum a todos, bem como o respeito pelos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral", considera.

Nesse sentido, "só se garantida esta plataforma básica em todas as nações do mundo poderemos decidir que os que imigram o fazem livremente e poderemos pensar numa solução verdadeiramente global para o problema". "Para alcançar este cenário devemos dar o passo preliminar fundamental de pôr fim às condições comerciais desiguais entre os diferentes países do mundo", apela Francisco.

Segundo denuncia o Papa, há "uma realidade que só consiste numa transacção entre filiais que pilham os territórios dos países mais pobres e enviam os seus produtos e receitas" para os países desenvolvidos. "Vêm-me à mente, por exemplo, os sectores ligados à exploração dos recursos naturais subterrâneos. São as veias abertas destes territórios", afirmou Francisco, numa referência a Eduardo Galeano, autor da obra As veias abertas da América Latina.

O Papa reitera ainda o seu apelo ao acolhimento dos migrantes. "Ao pedir que lhes abram as portas, exorto também a que se favoreça o seu desenvolvimento integral, que se lhes dê a oportunidade de se realizarem como pessoas em todas as dimensões que compõe a humanidade prevista pelo criador", acrescenta.