EUA autorizam Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia

Decisão de Biden representa uma alteração significativa na política norte-americana que até agora receava suscitar uma reacção musculada de Moscovo. Ucrânia pedia esta autorização há vários meses.

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Joe Biden negava até agora a possibilidade de a Ucrânia usar armas de longo alcance contra território russo Agustin Marcarian / REUTERS
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Os EUA autorizaram a Ucrânia a utilizar os mísseis de longo alcance de fabrico norte-americano contra alvos em todo o território russo, de acordo com várias fontes da Administração de Joe Biden citadas pelas agências internacionais.

Ao fim de vários meses de hesitações, Washington aceitou finalmente permitir que as forças ucranianas possam usar os sistemas de mísseis de longo alcance norte-americanos, os ATACMS, para atacar alvos na Federação Russa, pondo fim a um longo debate sobre o tema.

As primeiras acções ofensivas ucranianas com recurso a estes mísseis devem ocorrer em breve e devem ter como alvo as forças russas e norte-coreanas que tentam retomar o controlo sobre a região de Kursk, parcialmente ocupada pela Ucrânia desde Agosto, segundo os responsáveis norte-americanos que confirmaram a notícia, citados pelo New York Times. Moscovo estará a preparar uma contra-ofensiva de grandes dimensões com forças russas e norte-coreanas para retomar o território actualmente ocupado pela Ucrânia.

Na primeira reacção ao anúncio norte-americano, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que os "ataques não se fazem com palavras".

"Essas coisas não são anunciadas. Os mísseis falarão por si próprios. Falarão certamente", avisou Zelensky, na sua comunicação habitual realizada à noite, acrescentando que "esta é a resposta para todos aqueles que queriam conseguir alguma coisa com Putin através de conversas, telefonemas, abraços - apaziguamento", referindo-se à conversa telefónica entre o Presidente russo e o chanceler alemão, Olaf Scholz, realizada na sexta-feira.

Segundo os responsáveis norte-americanos, a Ucrânia poderá usar os mísseis dos ATACMS para atacar concentrações de tropas inimigas, equipamento militar, nós logísticos, paióis e linhas de fornecimento dentro do território russo. Para Kiev é importante manter uma presença militar dentro da Rússia como forma de aumentar o seu poder negocial em futuras conversações de paz.

Depois de meses em que recusou os pedidos do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Joe Biden operou uma viragem significativa na estratégia norte-americana na Ucrânia. Washington temia que a autorização para que as forças ucranianas usassem armamento de longo alcance ocidental contra o território russo desse origem a uma escalada por parte de Moscovo.

O Kremlin avisou em várias ocasiões que iria responder de forma significativa a um ataque no seu território com mísseis cedidos por membros da NATO. Até ao momento não houve qualquer reacção das autoridades russas ao anúncio.

A alteração na política dos EUA surge depois da confirmação de que a Coreia do Norte está activamente a participar nas acções militares russas contra a Ucrânia, através do envio de um contingente de soldados e oficiais. A aliança entre Moscovo e Pyongyang é um factor de extrema preocupação em Washington por ser encarada como uma ampliação do conflito, arrastando consigo um alargamento da tensão geopolítica da Europa Ocidental até ao Indo-Pacífico.

O cumprimento deste pedido de Kiev acontece também a menos de dois meses da tomada de posse de Donald Trump, um acérrimo crítico do apoio dos EUA à Ucrânia. Resta saber se Trump irá reverter a autorização concedida por Biden assim que tomar posse.

Para a Ucrânia, a possibilidade de atacar o território russo em profundidade pode permitir uma melhor defesa contra as vagas de bombardeamentos das forças russas contra as infra-estruturas energéticas do país, como a que aconteceu este fim-de-semana.

Este domingo, a Rússia lançou um dos maiores ataques contra as redes e infra-estruturas de energia da Ucrânia, atacando quase todas as províncias do país. Várias regiões tiveram apagões e cortes de electricidade e pelo menos sete civis morreram. Foram lançados cerca de 120 mísseis e 90 drones, naquele que foi o maior ataque aéreo desde Agosto, segundo Kiev.

As autoridades ucranianas dizem que os ataques dos últimos meses contra a infra-estrutura energética poderão ter efeitos devastadores durante os meses de Inverno para a população, correndo o risco de haver cortes no fornecimento de energia que possam comprometer o aquecimento dos edifícios.

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