Palcos da semana: do Som Riscado ao cinema do real
Nos próximos dias também há concertos especiais de Kevin Morby pelo país, duas peças em estreia no Porto e fotografias de Nicholas Nixon em Cascais.
Ao ritmo do risco
Ana Borralho & João Galante põem O Centro do Mundo num convento. Emmy Curl vai em modo Pastoral e imersivo ao Solar da Música Nova, onde também Tó Trips irá dar música a curtas de Disney vindas dos anos 1920, As Comédias de Alice. Depois de Branko fazer Soma no Cineteatro Louletano, fica o Bafo de Baco entregue ao power trio Maquina.
É Loulé a entrar em mais uma ronda de “diálogos sem paralelo entre som e imagem” que resultam em experiências “verdadeiramente únicas”. A garantia vem do Som Riscado, o festival algarvio que se vale de “ritmo, intenção, ousadia e dedicação” para revelar texturas artísticas aventureiras.
O programa desta nona edição vai do sistema Comprovisador desenvolvido por Pedro Louzeiro até ao Neon Colonialismo de Batida, passando ainda pela Dobra de Mariana Ramos em video-instalação, pelo Red Spectrum da dupla Boris Chimp 504, pelo sentido experimental do Ensemble 17 e pela Luz transmedia que emana da união de um septeto de jazz, Zeca Medeiros e um filme de João Catarino.
Duas famílias em peças
Uma mãe/viúva opressora que aconselha aos filhos a mentira como meio de sobrevivência. É ela quem concentra o negativismo de August Strindberg n’O Pelicano, a peça que o Teatro Nacional de São João apresenta – naquela que é a última produção própria do ano – com encenação do seu director artístico, Nuno Cardoso.
Não é a única estreia da semana com o dedo da casa portuense. Nem a única família em ruínas que vamos ver em palco. Em co-produção com o Teatro da Rainha (que mais tarde levará a peça às Caldas) vai ao Carlos Alberto a “implacável sátira sobre a ideia de família e de felicidade colectiva” encapsulada Na República da Felicidade que Martin Crimp escreveu e que Fernando Mora Ramos agora encena.
Para Portugal ver
Kevin Morby estreita a ligação aos palcos portugueses, na esteira das boas memórias acumuladas em Paredes de Coura, no Primavera Sound e noutros cenários, com uma digressão especial e exclusiva para ouvidos lusos – “um verdadeiro sonho tornado realidade”, confessa o cantautor norte-americano.
Cinco cidades vão recebê-lo na companhia de um ensemble da Escola Profissional de Música de Espinho, com quem propõe novas leituras para as canções do seu percurso a solo pós-Woods e The Babies, que já vai em sete álbuns.
As irmãs e muitas vidas
Ao longo de quase 50 anos, Nicholas Nixon (n. 1947, Detroit) fotografou anualmente quatro irmãs, numa das “mais contundentes e tocantes reflexões sobre a passagem do tempo na história da fotografia”. O sublinhado é da nota de imprensa da grande retrospectiva que acaba de ser inaugurada em Cascais – a primeira a exibir na íntegra essa série do fotógrafo norte-americano.
O arco temporal, que vai de 1974 a 2022, não é exclusivo d’As Irmãs Brown. Entre as vistas urbanas por onde Nixon começou (e às quais foi regressando) e os retratos em que se especializou, exibem-se outras séries produzidas nessas décadas: a vida em Alpendres, Idosos em proximidade, crónicas de Pessoas com Sida e a intimidade de Casais, sem esquecer registos do núcleo familiar do próprio fotógrafo. A curadoria é de Carlos Gollonet, da Colecção da Fundação Mapfre.
Stop à repetição
Enquadrar a realidade do que está a acontecer aos valores democráticos é o propósito do 11.º Porto/Post/Doc. Logo na sessão de abertura, Apocalipse nos Trópicos “expõe a intersecção alarmante entre religião e política no Brasil” pela lente de Petra Costa.
Mais próxima do festival de “cinema do real” está a história do Stop, o centro comercial portuense transformado em ninho de músicos e fechado por imperativos que nada têm de artísticos, documentada por Jorge Quintela.
Nesta edição destacam-se ainda um filme de Raoul Peck sobre o fotógrafo do apartheid Ernest Cole, um retrato do cineasta Ken Jacobs, a tauromaquia filmada por Albert Serra, um foco na obra da realizadora georgiana Salomé Jashi e um documentário “generativo” sobre Brian Eno em que cada projecção é irrepetível.