O Brasil do ódio e da intolerância

Explosões de duas bombas na Praça dos Três Poderes escancaram um país alimentado pela desinformação. O homem que se explodiu em frente ao Supremo deixou-se contaminar por essa realidade cruel.

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A explosão de duas bombas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, reforça o quanto o Brasil está contaminado pelo discurso de ódio e movido pela desinformação. O homem que se matou em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), Francisco Wanderley Luiz, deixou-se contaminar pelo discurso de que todo o mal do país se concentra na Corte que tem, entre seus integrantes, o ministro Alexandre de Moraes, alvo da ira dos extremistas de direita. O morto anunciou em redes sociais que faria justiça ao “limpar o chiqueiro do STF”.

Esse fato acontece um ano e 10 meses depois dos ataques ao coração da República, em 8 de janeiro de 2023. Portanto, não se pode minimizar as explosões, restringi-las a um ato de um “lobo solitário”. O Brasil está doente diante de tanta polarização, em que as pessoas preferem se informar por grupos de mensagens especializados em difundir mentiras e incentivar a intolerância. Nesse ambiente tão hostil, famílias estão separadas, amigos se distanciaram, falar de política virou caso de polícia, pois pode acabar em morte. Que país é esse?

Antes dos atos cometidos por Francisco, parlamentares se movimentavam na Câmara dos Deputados para levar adiante um projeto de lei que daria anistia aos presos pelos atentados de 8 de janeiro. Se essa iniciativa já era inaceitável antes das explosões das duas bombas na noite de quarta-feira (13/11), agora, esse assunto deve ser enterrado de vez. Aqueles que aviltaram a democracia brasileira, que destruíram as sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal devem pagar pelos seus atos. É questão de Justiça. É preciso punição exemplar para aqueles que tentaram um golpe contra um governo democraticamente eleito, goste-se ou não dele.

A tensão no Brasil se agiganta às vésperas da reunião de cúpula do G20, grupo das 19 economias mais ricas do planeta, a União Europeia e a União dos Países Africanos. Aquela imagem do Brasil pacífico, do povo cordial, certamente, não existe mais. Os chefes de Estado vão encontrar uma nação esfacelada, terreno fértil para que populistas ganhem musculatura para promover retrocessos. Esqueçam o Brasil progressista, aberto ao diálogo, inclusivo. As próximas eleições presidenciais, em 2026, deixarão o “novo Brasil” escancarado.

O que resta da sociedade pautada pelo bom senso e que ainda preza pela democracia precisa agir rapidamente para que o jogo não seja perdido. Até agora, os extremistas de direita estão muito à frente, pois assumiram o controle das redes sociais, em que fake news se transformaram em ferramentas tão poderosas, que nem mesmo celebridades com centenas de milhões de seguidores conseguem mais fazer frente a esse exército da desinformação. Baste ver o que ocorreu recentemente nos Estados Unidos.

Se me perguntarem o que sinto neste momento em relação ao Brasil, só me restará dizer: uma profunda tristeza.

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