Blinken promete acelerar o apoio dos EUA à Ucrânia até à posse de Trump

Secretário de Estado norte-americano veio a Bruxelas tranquilizar os aliados da NATO e os parceiros da UE quanto ao compromisso de Biden com o combate do Governo de Kiev contra a Rússia.

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O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esteve esta quarta-feira no quartel-general da NATO em Bruxelas NICOLAS TUCAT / POOL / EPA
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Nos dois meses de que ainda restam a Joe Biden na Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos vai “continuar a trabalhar para reforçar todas as medidas aprovadas em prol da Ucrânia, para garantir que o país se possa defender eficazmente da agressão russa”. A promessa foi deixada pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que esta quarta-feira passou pelo quartel-general da NATO, e também pelo Serviço de Acção Externa da União Europeia, para deixar uma mensagem de “normalidade” e tranquilizar os aliados e parceiros europeus depois da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais.

Foi quase como se o terramoto político em Washington não tivesse acontecido – e a aliança militar ainda pudesse encarar o compromisso dos Estados Unidos com a defesa europeia como um dado adquirido, e não um ponto de interrogação. Poderá Trump voltar a pôr toda a arquitectura transatlântica de segurança em causa quando regressar à Casa Branca?

Antes disso, não haverá nenhuma mudança na política dos EUA, nem em relação ao apoio à NATO, uma organização que o próximo Presidente dos EUA considerou “obsoleta”, nem em relação ao apoio ao Governo de Kiev, garantiu Antony Blinken. Na Administração Biden, “toda a gente está concentrada em garantir que a Ucrânia tenha o que precisa para continuar a lidar com a agressão russa”, sublinhou. “Temos uma agenda muito intensa e importante para os próximos meses”, acrescentou.

Até à transição de poder, Washington trabalhará em contra-relógio para “ultrapassar as burocracias” e concretizar as medidas já aprovadas para “colocar a Ucrânia na posição mais forte possível, este ano e no próximo ano, garantindo que o dinheiro e as munições necessárias chegam lá”, disse o chefe da diplomacia dos EUA, no final de um encontro bilateral com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte – que mais uma vez alertou para a escalada e a expansão do conflito, com a participação da Coreia do Norte, da China e do Irão no esforço de guerra russo.

“Tivemos uma discussão muito produtiva sobre o nosso apoio contínuo à Ucrânia face à agressão da Rússia, e também sobre este elemento adicional da integração de forças da Coreia do Norte nessa guerra, que exige e irá seguramente obter uma resposta firme da nossa parte”, resumiu Blinken.

“O Euro-Atlântico e o Indo-Pacífico não são dois teatros separados. Tudo isto está a ficar cada vez mais combinado, e o que está a acontecer na Ucrânia tem agora um impacto global. Isso significa que temos de manter o rumo, aumentar a produção de defesa do lado dos EUA e aqui na Europa, e fazer mais em termos de despesa”, observou Rutte.

O secretário de Estado norte-americano esforçou-se por repetir a mesma mensagem de “business as usual” mais tarde, durante um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Andrii Sybiha, que também viajou até Bruxelas. “Apreciamos muito a assistência dos EUA, mas este momento é crítico. A defesa da Ucrânia não pode ficar em suspenso e à espera. Precisamos de uma melhor protecção para o nosso povo agora, e não mais tarde”, vincou o governante ucraniano – o único que se referiu às eleições presidenciais da semana passada.

“Mantemos contactos com ambos os partidos e trabalhamos tanto com o Presidente eleito e a sua equipa, como com a Administração cessante”, explicou Sybiha, que tem a mesma agenda de trabalhos com todos os seus interlocutores: as “capacidades de defesa da Ucrânia, e o reforço do escudo aéreo antes do Inverno”; as “aspirações euro-atlânticas” do Governo de Kiev, com a entrada na NATO; e “​os esforços para alcançar uma paz abrangente, justa e duradoura”, enumerou.

Segundo um porta-voz do Departamento de Estado, Blinken e Sybiha “discutiram o aumento contínuo da assistência militar dos EUA, incluindo artilharia, defesa aérea, veículos blindados e outras capacidades e munições”. O encontro foi ainda uma oportunidade para o responsável norte-americano reiterar “o apoio dos EUA à Ucrânia, no momento em que esta se defende contra a agressão da Rússia e prossegue na sua via irreversível para a plena integração euro-atlântica, incluindo a adesão à NATO”.

Ao final da tarde, Blinken ainda se reuniu com o alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell. Em tempos normais, seria um encontro protocolar de despedida para assinalar a “cooperação muito intensa e estreita” entre os EUA e a UE nos últimos quatro anos. Mas acabou por ser uma reunião de trabalho centrada na Ucrânia. “Ainda temos muito que fazer”, justificou o norte-americano.

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