Os prédios do Viola, nas Caldas da Rainha, têm 74 anos e vão ser reabilitados
Edifício emblemático construído em 1948 estava a degradar-se, mas um empresário luso-argentino-israelita diz que vai investir 3,2 milhões de euros para tornar habitáveis os seus 58 apartamentos.
Não é um edificado especialmente bonito, mas os três blocos que constituem os designados “prédios do Viola” são emblemáticos nas Caldas da Rainha. Construídos entre 1947 e 1948 no topo norte da cidade, constituem o típico bairro operário em voga naquela época — edifícios maciços, sem grandes elementos decorativos, destinados a albergar uma “população remediada” em apartamentos pequenos, mas já dotados de electricidade e saneamento básico.
Com o crescimento da cidade — bastante desordenado e feio naquela zona da cidade —, o Bairro Viola ficou cercado de outros prédios, mas faz agora parte da malha urbana das Caldas da Rainha. As condições de habitabilidade, sete décadas depois, foram-se degradando e poucos são os inquilinos que ali restam.
Se na cidade se falava que os prédios iriam abaixo e substituídos por um qualquer moderno condomínio, a recente aquisição destes pela empresa Segredos Simpáticos, Lda., veio trocar as voltas a esse cenário e reforçar a presença do icónico edificado. O novo proprietário, que pagou 1,8 milhões de euros pelo imóvel, nem precisou de apresentar projecto na Câmara Municipal porque o objectivo é, muito simplesmente, reabilitar o que já existe, dotando os fogos de condições de habitabilidade próprias do século XXI.
António Freire, arquitecto responsável por esta requalificação, diz que não foi necessário um processo de licenciamento porque as obras previstas “não alteram nem a fachada, nem a volumetria, nem a estrutura do edifício”. O objectivo é remodelar integralmente os interiores com novas redes de electricidade, água, esgotos e telecomunicações, instalar janelas com PVC e vidros duplos e colocar pavimentos novos em todos os corredores e apartamentos. O telhado manter-se-á em telha, mas reforçado com vigas metálicas.
“Por fora o prédio vai parecer que está igual, mas por dentro as casas terão cozinhas novas, ar condicionado, iluminação led e todos os equipamentos e materiais que são hoje exigidos a um edifício novo”, diz o arquitecto.
Ainda assim, e dada a exiguidade dos fogos, alguns serão alterados por dentro para terem salas e quartos mais amplos do que os originais, muito pequenos, como era típico das casas operárias.
O Bairro Viola é composto por dois blocos de 25 apartamentos cada, mais um terceiro de oito fogos. Por ser o mais pequeno e por já não ter inquilinos, foi precisamente por aqui que as obras começaram, devendo estas estar terminadas em Dezembro, como explicou ao PÚBLICO o promotor Alex Boiko, um empresário luso-argentino-israelita, que, em conjunto com o seu sócio Asaf Biton, detém a Segredos Simpáticos, Lda. Esta empresa imobiliária tem como característica nunca construir novos edifícios, mas sim comprar e recuperar o que já existe. Alex Boiko dá o exemplo de alguns empreendimentos em zonas antigas de Benfica, Odivelas e Sacavém, onde também pegaram em edifícios com muitas décadas para os requalificar.
A firma — que facturou 589 mil euros em 2023 — espera investir 5 milhões de euros nas Caldas da Rainha, dos quais 1,8 já foram aplicados na compra do imóvel e 3,2 serão destinados à sua recuperação. Mas, segundo o mesmo empresário, a ideia é fazê-lo sem pressas, com uma política de pequenos passos, até porque, confessa, não conhece bem o mercado da cidade. “Vamos ter apartamentos à venda a partir de 125 mil euros. Dentro de um mês, logo verei o ritmo que daremos às obras”, diz.
Ponto assente nesta renovação é a manutenção da cor original do edifício — um rosa-claro, agora muito esbatido, mas que ganhará novo brilho após a pintura. No interior, alguns dos poucos elementos decorativos dignos de registo — as escadarias em madeira com corrimões de ferro — serão reforçados e mantidos.
Vítor Marques, presidente da Câmara das Caldas da Rainha, disse ao PÚBLICO que estão previstos mais alguns projectos privados para aquela zona da cidade e que, por parte do município, vai procurar requalificar o espaço público envolvente. Sobre este projecto, diz: “Sinto uma grande satisfação por ver empresários a investir na reabilitação do património, que é uma coisa que nós valorizamos muito.”
Os "prédios do Viola" devem o seu nome a Manuel Francisco Viola, o empreiteiro que os construiu. Não se conhece a inspiração nem documentos sobre o projecto inicial, mas Jaime Neto, arquitecto caldense e ex-vereador do executivo camarário local, conjectura que este edificado poderá ter tido origem na arquitectura dos edifícios de habitação social dos anos 1920 em Viena de Áustria, de que é exemplo o complexo denominado Metzleinstalerhorf.