Gladiador II: um desastre, uma sequela sem razão para existir

Ridley Scott andou 24 anos à procura de uma razão para dar uma sequela a Gladiador. Não a detectamos. Salva-se um glorioso Denzel Washington. Estreia-se quinta-feira.

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O filme Gladiador II, de Ridley Scott, estreia-se esta quinta-feira nos cinemas portugueses
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Há cineastas que, como o vinho, vão melhorando com o tempo. Não parece ser esse o caso de Ridley Scott, que aos 86 anos continua a filmar a um ritmo invejável (oito filmes nos últimos dez anos!), mas com resultados geralmente muito descoroçoantes, apesar de um ou outro título interessante (O Conselheiro, Perdido em Marte, O Último Duelo). E talvez o mais descoroçoante de todos seja este regresso ao título que, em 2000, relançou a sua carreira, o Gladiador que é um dos melhores filmes do autor do Alien original e de Blade Runner, que fez de Russell Crowe vedeta, que se tornou num dos poucos verdadeiros clássicos populares do último meio século.

Descoroçoante porque, 24 anos depois, Scott entrega-nos um pequeno descalabro: um filme sem chama nem personalidade, que se compraz no exacto falso exotismo de peplum histórico made in Hollywood que o original tinha conseguido evitar, acompanhando um prisioneiro de guerra (Paul Aftersun Mescal) que se torna numa sensação nas arenas do Coliseu impulsionado pelo seu ódio ao general que o capturou (Pedro Mandalorian Pascal).

Não ajuda que o guião de David Scarpa (que já escrevera para Scott Todo o Dinheiro do Mundo e Napoleão) seja um chorrilho de lugares-comuns, cheio de falsas coincidências, de famílias desavindas e de diálogos rasteiros. Nem ajuda que Scott pareça estar mais interessado nos desafios práticos de filmar batalhas navais e combates de arena do que na maneira como Gladiador II os alinha. Tudo se afoga na sisudez grandiosa que reconhecemos aos piores momentos do britânico — o filme de guerra razoavelmente eficaz, a alegoria política da tirania e da vontade do povo (que Francis Ford Coppola fez muito melhor em Megalopolis), o melodrama familiar mais previsível, tudo tratado pela mesma bitola como se bastasse encher o olho para fazer esquecer as falhas do filme. Mas não: apesar de todo o orçamento atirado para cima desta sequela, nem actores geralmente estimáveis lhe conseguem sobreviver.

Há uma excepção: Denzel Washington, alardeando a sua classe naquela que é a única personagem do filme, um maquiavélico proprietário de gladiadores com ambições políticas que dá ao actor muito com que se entreter e ao espectador algo a que se agarrar pelo meio de um filme completamente falhado. É por Washington, e para Washington, que vai a única estrela que damos a Gladiador II, uma sequela que não tem razão de existir — e se o melhor que conseguem arranjar é isto, ainda mais razão nos estão a dar.

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