Líder máximo da Igreja Anglicana pressionado a demitir-se por ter encoberto abusos contra crianças

Relatório revela que Justin Welby, líder da Igreja Anglicana, encobriu abusos contra dezenas de crianças às mãos de um advogado num campo de férias. Líder pediu desculpa, mas um bispo pede a demissão.

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Welby pediu desculpas por "falhas e omissões" ao não investigar adequadamente as alegações de abuso sexual POOL / REUTERS
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Justin Welby, arcebispo de Cantuária e líder mundial da Igreja Anglicana, está a enfrentar apelos crescentes para renunciar devido a um relatório que conclui que a sua instituição encobriu numerosos abusos de crianças e jovens do sexo masculino. Na liderança desde 2013, Welby pediu desculpa na semana passada depois de um relatório ter descrito um advogado que dirigia campos de Verão para jovens cristãos, John Smyth, como o maior abusador em série associado à Igreja Anglicana.

Welby disse que não tinha "nenhuma ideia ou suspeita" das alegações antes de 2013, mas o relatório independente concluiu que era improvável que não tivesse conhecimento das preocupações relativas a Smyth na década de 1980. O advogado, que faleceu em 2018, foi considerado responsável pelo abuso violento de pelo menos 115 crianças e jovens em Inglaterra, no Zimbabué e na África do Sul, incluindo com o uso de canas.

Helen-Ann Hartley, um dos 108 bispos da Igreja, tornou-se a pessoa mais importante da instituição a pedir a demissão de Welby, ao afirmar esta segunda-feira que a sua posição era agora insustentável. Uma petição a pedir a sua saída — iniciada por três membros do órgão de governo da Igreja, o Sínodo Geral — recebeu mais de 2900 assinaturas. "É muito difícil para a igreja continuar a ter uma voz moral de qualquer forma ou feitio na nossa nação quando não conseguimos pôr a nossa própria casa em ordem em relação a algo que é extremamente importante", disse Hartley.

"Lamento muito"

Welby pediu desculpas por "falhas e omissões" ao não investigar adequadamente as alegações, especialmente depois de um documentário do Channel 4 britânico em 2017 ter revelado a extensão total dos abusos. "Lamento imenso que, em locais onde estes jovens e rapazes deviam sentir-se seguros e onde deviam ter experimentado o amor de Deus por eles, tenham sido sujeitos a abusos físicos, sexuais, psicológicos e espirituais", afirmou numa declaração na semana passada.

Welby, líder espiritual de 85 milhões de cristãos em todo o mundo, governou a Igreja durante um período conturbado. Estava à frente da instituição quando o debate sobre os direitos da comunidade LGBTQIA+ e das mulheres clérigas nas igrejas liberais da América do Norte, da Grã-Bretanha e das suas congéneres conservadoras, especialmente em África, começou a aflorar.

Um grupo conservador de líderes da Igreja Anglicana declarou, no ano passado, que já não tinha confiança em Welby, afirmando que ele tinha traído a sua ordenação, depois de a Igreja ter apresentado planos para permitir que os padres abençoassem casais do mesmo sexo na igreja, embora continuando a não permitir que se casassem na Igreja. O clérigo de 68 anos também foi criticado por comentar publicamente políticas governamentais, incluindo o plano do antigo governo conservador de deportar os requerentes de asilo para o Ruanda.

Welby disse ao Channel 4, na quinta-feira, 7 de Novembro, que tinha ponderado demitir-se, mas reiterou que não tinha conhecimento dos abusos. No seu pedido de desculpas, disse que o relatório em causa era claro e que, pessoalmente, não tinha conseguido assegurar investigações adequadas na Igreja que lidera.