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Criar móveis como quem joga no computador é pitch da startup luso-brasileira Movendo
Presente no Web Summit na quota das mulheres empreendedoras, Leïlah Accioly traz desenho auxiliado por computador para a construção de mobiliário sob medida. Ela busca 300 mil euros em investimentos.
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Tradicionalmente, móveis têm um tamanho fixo, são pesados e, quando têm qualidade, custam caro. A opção mais barata é de móveis descartáveis, de baixa qualidade, que duram pouco. E meio a essas duas visões, a startup Movendo, criada em Portugal pela brasileira Leïlah Accioly, propõe um mobiliário que se adapta ao tamanho espaço e seja totalmente compatível com a preservação do meio ambiente.
Convidada a participar do Web Summit na quota das Women Founders (mulheres empreendedoras), Leïlah procura apresentar móveis antenados com os tempos atuais. “Estamos num momento em que apartamentos estão cada vez menores, mas as pessoas fazem cada vez mais atividades neles. Em paralelo, temos tendências que subvertem as funções originais dos espaços, como as varandas gourmet, as pessoas estão derrubando paredes para ter maior espaço de convívio, há um protagonismo infantil, em que as crianças participam cada vez mais na vida da casa”, define.
Diante dessas novas tendências, a empreendedora acredita que os móveis têm de ser diferentes do que foram até agora. “Nosso produto é um mobiliário inteligente, porque é sob medida, multifuncional e pode servir em diferentes cômodos da casa, conversando com as necessidades específicas de cada espaço e rotina. É diferente do móvel standard, que obriga seu espaço e dinâmica de vida a se adequarem a ele. Além disso, temos soluções inovadoras, como a nossa sapateira, que armazena calçados verticalmente, poupando 50% do espaço, por exemplo. Isso não existe no mercado”, explica.
Para chegar a esse modelo, a Movendo recorreu a uma ferramenta de design paramétrico, que altera proporções automaticamente, desenvolvida pelo engenheiro projetista Daniel Bruno, disponível no site da empresa, que permite escolher o móvel nas suas várias configurações, conforme o uso, o tamanho, dentro de limites definidos e as cores. Por isso, a startup é classificada como um furnitech — tecnológica de mobiliário.
Pessoas são as protagonistas
O conceito de móveis multifunções significa que eles não estão destinados a apenas um ambiente. Com a variação de cores e tamanhos, podem ser usados na sala, nos quartos, nos corredores.
Leïlah cita como exemplo uma estante de parede em que a altura e a profundidade das prateleiras podem ser configuradas, assim como a colocação de nichos, luz embutida, tudo encaixado nas dimensões do espaço que se pretende. Na estante, pode ser acoplada uma escrivaninha na dimensão pretendida, ou ser móvel.
“São produtos que interagem com as pessoas, tornando-as protagonistas dos espaços. Temos móveis minimalistas, que têm como base a multifuncionalidade e agregam várias utilizações, com o objetivo da facilitar o dia a dia”, acrescenta.
A base do negócio é um configurador de produtos 3D online, que foi criado por Bruno para ser intuitivo. “É diferente do que existe no mercado, em que os programas são muito técnicos, cheios de números. Nossa proposta é que mexer nos móveis seja uma experiência fácil, envolvente, como um jogo de computador”, diz Leïlah.
Os dados inseridos pelo comprador são enviados diretamente para as fábricas que a Movendo terceiriza a produção. Ali, máquinas de comando numérico cortam a madeira e produzem o móvel com o mínimo de intervenção humana. “A única parte da produção que precisa de uma pessoa é na hora de colocar a chapa de madeira na máquina”, afirma a empreendedora.
A ideia de descentralizar a produção permite que a fabricação seja mais próxima do local da entrega. Neste momento, a Movendo tem acordo de produção com uma fábrica da Paços de Ferreira e está negociando com uma na Indonésia, com a qual pretende entrar no mercado australiano.
Uma das preocupações de Leïlah, presidente e diretora criativa da Movendo, é ter um produto melhor daquilo que chama de “mobiliário descartável”. Isso, com o objetivo de preservar o meio ambiente. “Fabricar e despachar uma peça de móvel emite 90 quilogramas de CO2. É o equivalente ao emitido por um Boeing 747 durante uma hora de voo”, compara, dizendo que os dados indicam que todos os anos são descartadas 10 milhões de toneladas de móveis.
De todos os móveis que Leïlah desenhou, neste momento, estão sendo vendidas somente as sapateiras. No Web Summit, ela fará o pitch para conseguir investidores a fim de desenvolver a empresa. Ela pretende obter 300 mil euros (R$ 1,9 milhão), oferecendo, para isso, uma participação de 10% da empresa.
Mudança de vida
Foi um longo caminho até Leïlah ter a sua startup em Portugal. Começou no Brasil como jornalista, cobrindo música e moda. Passou pela assessoria de imprensa, área em que atuou como estrategista de comunicação da Oi, em negócios e no instituto de responsabilidade social, Oi Futuro. Em 2015, deu os primeiros passos na área do design de interiores. O apartamento dela acabou virando notícia.
Quando houve a reestruturação da companhia na qual ela trabalhava, aproveitou a oportunidade para mudar definitivamente para o design. Primeiro, com reformas de apartamentos e, posteriormente, com desenho e concepção de móveis, com a vantagem de não ter que enfrentar a confusão, os problemas e a sujeira envolvida nas reformas de mobiliários.
O embrião do que veio a ser a Movendo nasceu em 2017. Nos três anos seguintes, a empreendedora desenvolveu os conceitos dos móveis, enquanto Bruno criava a ferramenta tecnológica para a personalização dos produtos. "Em 2019, resolvemos nos mudar para Portugal. Não tinha condição de viver sob um governo de Jair Bolsonaro. Não via no Brasil estrutura para investir”, conta.
Em Lisboa, a empresa foi apanhada pela pandemia do novo coronavírus. “Era para abrir um show room na Lx Factory, no dia 21 de março de 2020. No dia 13, tudo parou. Já tínhamos feito todo o investimento no espaço”, lembra.
Mas a proposta da Movendo revelou-se atrativa. Mesmo em meio à pandemia, a startup obteve um financiamento da Demium, fundo espanhol de capital de risco. O investimento prometido era de 150 mil euros (R$ 930 mil), mas uma reestruturação do fundo fez com que apenas recebessem 100 mil euros (R$ 620 mil).
No Web Summit, a aposta de Leïlah é conseguir, com base na sua apresentação ou no seu estande, investimentos de 300 mil euros (R$ 1,9 milhão) para que sua empresa deslanche.