Padre católico, candidato da oposição a governador em Moçambique, encontrado morto
Fernão Magalhães Raúl, que se lançou na corrida eleitoral em Nampula à revelia da Igreja que ameaçou afastá-lo do sacerdócio, estava sozinho em casa na altura da morte.
O candidato a governador da província de Nampula pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi encontrado morto em sua casa no sábado. Fernão Magalhães Raúl, que tinha sido ameaçado pela Igreja Católica de ser afastado do sacerdócio por se apresentar a eleições, foi encontrado morto na casa onde vivia sozinho no bairro de Namutequeliua, nos arredores de Nampula, contou a irmã mais nova ao jornal O País.
Fernão Magalhães Raúl, de 54 anos, não fez caso dos avisos das autoridades eclesiásticas e manteve-se como cabeça de lista do MDM à assembleia provincial, e seu candidato a governador, sabendo de antemão das dificuldades em conseguir um bom resultado.
No fim, segundo os muito contestados resultados oficiais das eleições de 9 de Outubro, o seu partido não conseguiu mais do que ficar em quarto lugar com 3,97%, apenas conseguindo um mandato para a assembleia provincial, exactamente o do sacerdote. Na corrida ao Parlamento nacional, os 3,81% de votos do MDM deram para eleger dois deputados, metade dos mandatos que o partido liderado por Lutero Simango elegeu.
Anatércia Magalhães Raúl encontrou o irmão inanimado na sala, já sem vida, sem quaisquer sinais de violência, dando a entender que se tratou de uma morte natural. No entanto, em Moçambique, o exercício da política pode ser uma questão de vida ou de morte. Como se pode ver no assassínio de Elvino Dias e de Paulo Guambe, que faziam parte da campanha do candidato presidencial Venâncio Mondlane e do partido Podemos, e com os 34 mortos nos protestos contra a fraude eleitoral nas últimas semanas, os moçambicanos desconfiam.
Por isso, o Centro para Democracia e Direitos Humanos sublinhava este domingo, no seu boletim, que “é importante que a morte do padre e político seja investigada, até para evitar especulações com consequências na vida de pessoas e instituições, tendo em conta o contexto em que a mesma ocorre”. E deixava o alerta às autoridades, “a ausência de informação sobre a causa da morte do padre e político” só irá dar azo a “especulações com consequências para a imagem das pessoas e instituições”.
O MDM deixou uma mensagem de consternação pela perda do padre Magalhães (“combateste um bom combate”) na sua página de Facebook: “Foi com profunda dor e consternação que o partido MDM tomou conhecimento do desaparecimento físico do companheiro e cabeça de lista a governador de Nampula nas últimas eleições.”