Coletivos se unem para comemorar Dia Nacional do Samba e instituir Samba do Operário

Evento marcado para 2 de dezembro, segunda-feira, quer instituir esse dia da semana para que trabalhadores que estejam de folga ou não possam relaxar numa roda de samba. Blocos esquentam tamborins.

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Neném do Chalé organiza, com o Coletivo Gira e Naquele Tempo, festa do Dia Nacional do Samba, em 2 de dezembro Vicente Nunes
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Os blocos de carnaval já se preparam para esquentar os tamborins. No próximo 2 de dezembro, uma segunda-feira, três dos principais grupos que ostentam a bandeira do samba em Portugal — Coletivo Gira, Samba do Chalé e Naquele Tempo — vão se reunir para comemorar uma data representativa no Brasil: o Dia Nacional do Samba. “O objetivo é transformar esse evento no dia do Samba do Operário”, diz Neném do Chalé, um dos organizadores do encontro.

Segundo ele, o projeto é inspirado no Samba do Trabalhador, que acontece todas as segundas-feiras, no Rio de Janeiro. Trabalhadores que estão de folga nesse dia — e mesmo os que não estão — reúnem-se no Clube Renascença, no bairro do Andaraí, para uma confraternização em que a batucada faz a festa. “Queremos que esse movimento se torne tradição em Portugal, todo mundo se divertindo, junto e misturado, ao ritmo do samba”, destaca Neném, que é fundador do bloco Cuiqueiros de Lisboa e comanda aulas de percussão.

Cria da Estação Primeira de Mangueira, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, Neném lembra que a agremiação é mais um exemplo das relações históricas entre Brasil e Portugal. Um dos fundadores da Mangueira foi Alfredo Português, que trocou o bairro de Alfama, onde nasceu, pelo Rio. Na cidade, ele se juntou a alguns dos maiores compositores de samba do Brasil, com os quais criou importantes canções. Uma delas, o Samba do Operário, foi escrita em parceria com Cartola e Nelson Sargento.

“Também vem daí a nossa ideia de criar o Samba do Operário todas as segundas-feiras, em Lisboa”, diz Neném. O primeiro teste desse projeto será o encontro dos coletivos no início de dezembro. “O Dia do Rei Samba foi pensado por mim, por Kali Peres, do Coletivo Gira, e por Júlio Brechó, do Naquele Tempo e do Samba Colaborativo. Esse evento será como um pré-carnaval, mas com a missão de instituir um dia da semana para curtir o samba”, explica. O evento acontecerá no Le Brunch By Dry, no Mercado de Sapadores, a partir das 18h.

Carnaval de 2025

Como em festa de samba todos são bem-vindos e não se desperdiça oportunidades, o Cuiqueiros de Lisboa lançará, no mesmo dia, o enredo para o carnaval de 2025: Da Alma do Fado ao Coração do Samba. “Sabemos que fado e samba têm as histórias interligadas, por isso, elegemos esse tema para animar a batucada do ano que vem”, assinala o fundador do bloco. A bateria da agremiação, formada por vários estrangeiros que aprenderam percussão em Portugal, abrirá o evento de 2 de dezembro.

A animação de Neném do Chalé esbarra, porém, nas dificuldades que os blocos de carnaval enfrentam para concretizar os desfiles de rua no próximo ano. Na tentativa de definir uma voz única no diálogo com a Câmara Municipal de Lisboa, as agremiações criaram uma associação. Mas, até agora, pouca coisa avançou. “As conversas continuam, mas não no ritmo necessário para que o carnaval aconteça”, afirma o fundador do Cuiqueiros. “Para nós, é muito importante que tudo seja bem negociado, com regras que nos permitam desfilar”, acrescenta.

Neste ano, devido aos desencontros entre os blocos e a Câmara Municipal, por pouco, Lisboa não ficou sem o carnaval de rua, que se tornou tradição na cidade e, a cada ano, arrasta mais gente. A confusão foi tamanha que, para sair às ruas, vários blocos se apresentaram como manifestação cultural, que não exige pagamento de taxas à Câmara e à Polícia de Segurança Pública (PSP). A Câmara insistiu, até o final, que os desfiles são eventos culturais e, portanto, devem arcar com custos, algo como 25 mil euros (R$ 155 mil), valor considerado inviável pelos blocos, que não têm patrocinadores.

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