PS-M prepara-se para aprovar moção de censura do Chega e derrubar Albuquerque
PS vai reunir-se no sábado, já depois de o Chega ter admitido retirar as críticas aos socialistas no texto da moção de censura. Albuquerque diz não ter medo de novas eleições.
O PS-Madeira prepara-se para aprovar a moção de censura do Chega e derrubar o Governo Regional. As referências ao PS no texto da moção ainda dividiram os socialistas, mas a abertura do Chega para alterar a redacção acalmaram as hostes socialistas. Com o caminho para se manter no poder cada vez mais estreito, Miguel Albuquerque diz estar pronto para ir a eleições.
“Estaremos disponíveis para viabilizar uma moção de censura ao governo e essa será, efectivamente, a decisão de amanhã”, revelou Paulo Cafôfo, líder do PS-M, à Antena 1, garantindo que “nunca teve dúvidas” sobre o sentido de voto. Posteriormente, no Facebook, Cafôfo reforçou a posição ao afirmar que não vai ser a “retórica hilariante e inconstante” do Chega que fará o PS se “desviar um milímetro” do propósito de “acabar com o regime decadente do PSD. “Miguel Albuquerque e qualquer alternativa dentro do PSD há muito que deixaram de ser solução para a Madeira”, escreveu.
A posição oficial do PS-M vai ser avançada este sábado após a reunião da comissão política regional marcada para as 17h00. Apesar das declarações de Cafôfo, a aprovação da moção de censura do Chega não é unânime no interior do PS-M. Por um lado, a posição mais próxima da direcção defende que o partido não pode ser responsável pela continuidade do PSD no poder. Por outro, há quem alerte para os riscos de o partido ficar com o ónus da instabilidade e para as críticas ao próprio PS no texto da moção.
Na moção de censura, o Chega considera o PS um “quase cúmplice ético e moral das evidentes más práticas instaladas na governação madeirense” devido à “incapacidade evidente e crónica em apresentar-se como alternativa credível”. Acusações que já motivaram uma reacção de Alberto João Jardim, que, na rede social X, condenou a postura do Chega e pressionou o PS: “como é lógico o PS não aprovaria um texto que o qualifica em termos muito graves”, considerou o líder histórico do PSD-M, questionado se o Chega toma os madeirenses por “tontos”. Apesar da aparente garantia sobre a posição socialista, Jardim, opositor interno de Albuquerque, fez questão de deixar uma ressalva: “Já vi de tudo no case study que é a 'política' cá na ‘paróquia’”.
Esta sexta-feira, numa tentativa de aproximação ao PS, o Chega veio mostrar abertura para rever o conteúdo da moção e “retirar o parágrafo” que faz referência aos socialistas. “Se o PS se achar de alguma forma insultado nós podemos retirar e apresentamos um novo texto”, asseverou Miguel Castro.
Para derrubar o Governo Regional da Madeira, que tomou posse a seis de Junho, o PS terá de votar a favor da moção de censura. No parlamento madeirense, os socialistas têm 11 deputados, o PSD tem 19 e um acordo parlamentar com o CDS-PP (dois). Sobram o Chega (quatro), JPP (nove), IL (um) e PAN (um).
O JPP, cujo sentido de voto é crucial para a queda do executivo, abriu a porta a uma aprovação logo na primeira reacção e ainda antes de se conhecer o conteúdo integral da moção. “Se o Chega abordar a questão de corrupção e de termos metade do governo indiciado é uma solução que o JPP acompanha com certeza”, afirmou Élvio Sousa, líder regional, que, entretanto, já remeteu uma tomada de posição para depois de uma reunião interna que ainda não tem data marcada. As suspeitas que recaem sobre cinco membros do Governo da Madeira são mesmo o principal argumento do Chega para censurar o executivo regional. Recorde-se que o JPP faz do combate ao regime social-democrata da Madeira a sua principal bandeira política, tendo apresentado com o PS uma solução alternativa de governo no pós-eleições.
Da parte do PSD, a atitude tem sido cautelosa e Albuquerque pronunciou-se pela primeira vez ao final desta sexta-feira. Com o Chega a deixar em aberto a possibilidade de viabilizar um governo do PSD com outro presidente, o líder do executivo da Madeira defendeu o cenário que lhe permite sobreviver politicamente: a realização de eleições antecipadas.
“Qualquer solução que queiram encontrar tem de passar pela voz do povo madeirense”, atirou, em declarações transmitidas pela RTP3. O presidente do Governo da Madeira criticou as “soluções forjadas nos bastidores e nas costas do povo”, insistiu que “não há qualquer ilícito provado contra” os membros do executivo e lembrou que foi reeleito presidente do PSD em Março e do governo em Maio. “É o Chega a servir de bengala à esquerda.”
Os sociais-democratas vão reunir a comissão política este sábado, até porque os prazos são muito curtos. O regimento da Assembleia Regional prevê o início da discussão no oitavo dia após apresentação da moção de censura e para segunda-feira, às 15h30, está marcada uma conferência de representantes para agendar o debate. O relógio está a contar e a incerteza está de volta à política madeirense.
Notícia actualizada com as declarações de Miguel Albuquerque