ONU diz que quase 70% dos mortos em Gaza são mulheres e crianças — vítima mais jovem tinha um dia de vida

Balanço inclui apenas vítimas que a organização conseguiu verificar junto de três fontes. Contagem continua a aumentar. ONU fala em “violação sistemática do direito humanitário internacional”.

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Crianças palestinianas recolhem plástico de um aterro no campo de refugiados de Khan Younis, Gaza HAITHAM IMAD / EPA
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A Organização das Nações Unidas (ONU) avançou esta sexta-feira que quase 70% das mortes contabilizadas na guerra em Gaza são mulheres e crianças e condenou a "violação sistemática dos princípios fundamentais do direito humanitário internacional".

O balanço do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas inclui apenas as vítimas mortais que a organização conseguiu verificar junto de três fontes e a contagem continua a aumentar. O número de vítimas confirmadas pela ONU (cerca de 8120) é muito inferior ao valor fornecido pelas autoridades de saúde palestinianas (cerca de 43 mil). Mas os dados da ONU (que incluiu idade e sexo das vítimas) corroboram a afirmação palestiniana de que as mulheres e as crianças representam a grande maioria dos mortos.

Esta conclusão indica "uma violação sistemática dos princípios fundamentais do direito humanitário internacional, incluindo distinção e proporcionalidade", afirmou o gabinete dos direitos humanos da ONU numa declaração que acompanha o relatório de 32 páginas.

"É essencial que as alegações de violações graves do direito internacional sejam devidamente tidas em conta através de órgãos judiciais credíveis e imparciais e que, entretanto, todas as informações e provas relevantes sejam recolhidas e preservadas", afirmou o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk.

A missão diplomática de Israel na ONU em Genebra disse que rejeitava categoricamente as informações do relatório. "Mais uma vez, o ACNUDH não reflecte com exactidão as realidades no terreno e ignora o papel extensivo do Hamas e de outras organizações terroristas que causam danos a civis em Gaza", afirmou, referindo-se ao Alto-Comissariado para os Direitos Humanos.

As Forças de Defesa de Israel, que iniciaram a sua ofensiva em resposta ao ataque de 7 de Outubro de 2023, no qual combatentes do Hamas mataram cerca de 1200 pessoas no Sul de Israel e fizeram mais de 250 reféns, afirmam que têm o cuidado de evitar ferir civis em Gaza.

O Governo afirma que por cada combatente um civil terá morrido e culpa o grupo militante palestiniano de utilizar instalações civis para se esconder e planear operações. O Hamas negou ter utilizado civis e infra-estruturas civis, incluindo hospitais, como escudos humanos.

Vítima mais jovem tinha um dia de vida

Ajith Sunghay, chefe do gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas para os Territórios Palestinianos Ocupados, disse aos jornalistas numa conferência de imprensa em Genebra que as mortes incluídas no relatório foram verificadas por três fontes, tais como vizinhos, familiares, ONG locais, registos hospitalares ou pessoal das Nações Unidas que estão no terreno.

"Os números são, evidentemente, enormes quando comparados com os dos anos anteriores, pelo que precisamos de tempo para os recuperar e verificar", disse, acrescentando que acredita que a contagem final da ONU será provavelmente semelhante à contagem palestiniana.

A vítima mais jovem contabilizada pelos dados da ONU foi um bebé com um dia de vida e a mais velha uma mulher de 97 anos.

Ainda segundo as informações da ONU, as pessoas com idade igual ou inferior a 18 anos representam 44% das vítimas. As crianças entre os cinco e os nove anos constituíam a categoria etária mais numerosa, seguidas das crianças entre os dez e os 14 anos e dos bebés até aos quatro anos (inclusive). Estes dados reflectem a demografia do enclave e, segundo o relatório, uma "aparente incapacidade de tomar precauções para evitar perdas civis".

O documento mostra ainda que, em 88% dos casos, cinco ou mais pessoas foram mortas no mesmo ataque, dada a utilização de armas com efeitos numa vasta área por parte dos militares israelitas, embora também seja dito que algumas mortes podem ter sido o resultado de projécteis errantes de grupos armados palestinianos.