Rocío Márquez e Bronquio, uma festa de flamenco e electrónica no Misty Fest

A cantaora Rocío Márquez e o músico e produtor Bronquio apresentam ao vivo em Portugal, em Loulé e Lisboa, o seu aclamado disco em parceria, Tercer Cielo.

Foto
Rocío Márquez e Bronquio DR
Ouça este artigo
00:00
04:26

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

São dois nomes distintos da música de Espanha, Rocío Márquez e Bronquio, ela vinda do flamenco (que canta desde pequena) e ele da música electrónica. Juntaram-se num muito aplaudido disco, Tercer Cielo, publicado em 2022, e é esse trabalho de parceria que agora apresentam ao vivo em Portugal, no âmbito no Misty Fest. Esta sexta-feira em Loulé, no Cine-Teatro (21h) e domingo dia 10 no São Luiz, em Lisboa (21h30), seguindo depois para Marrocos (Tânger e Casablanca) e Bélgica (em Dezembro).

Rocío Márquez, nascida Rocío Márquez Limón em Huelva, em 1985, iniciou-se nas peñas flamencas com 8 anos, doutorou-se na Universidade de Sevilha com a tese A técnica vocal no flamenco, obteve vários prémios e começou a gravar a partir de 2009, primeiro com Aquí y Ahora, depois com Claridad (2012), El Niño (2014), Firmamento (2017), Diálogos de Nuevos y Viejos Sones (com Fahmi Alqhai, 2018), Visto en El Jueves (2019, que apresentou ao vivo em Portugal, entre 2019 e 2022), Omnia vincit amor (com Enrike Solinís, 2020), Tercer cielo (com Bronquio, 2022) e Flamencos: Falla, Granados, Albéniz (com a pianista clássica Rosa Torres-Pardo, 2022).

Quanto a Bronquio, de seu verdadeiro nome Santiago Gonzalo, nascido em Jerez, é um jovem músico que se iniciou no punk e enveredou pela música electrónica, com álbuns em colaboração com Nita (Cristina Manjón, do duo Fuel Fandango), Cris Lizárraga (dos Belako) ou 41V1L (Livia Marin Arizaga). Produtor de discos de Kiko Veneno, Natalia Lacunza ou Anaju, o seu trabalho com Rocío Márquez é um dos mais recentes.

Porque se aproximou Rocío do universo de Bronquio? “Porque me interessava muito a sua música”, explica a cantaora ao PÚBLICO. Ele chegou a fazer um remix de um tema do meu disco Jueves e esse foi o primeiro contacto artístico que tivemos. Gostei muitíssimo do que ele fez com essa rondeña [Empezaram los cuarenta] e falámos da possibilidade de fazermos um projecto juntos, mas num disco inteiro, em parceria.”

Só que não foi fácil: “Havia muito trabalho, muitas coisas a acontecer, era difícil encontrar o momento certo. Entretanto, foi declarada a pandemia da covid-19 e os artistas ficaram sem trabalho, o que acabou por ser uma oportunidade para levar adiante o projecto de um disco em conjunto. “Como tínhamos muita vontade de fazer música, e tínhamos tempo, contactei-o para ver se estava disponível para trabalhar comigo naquele projecto. Não se podia fazer concertos mas, pelo menos em Espanha, podia haver encontros entre pessoas, desde que fosse pouca gente.” Começaram então a reunir-se, a espaços, em casa de Rocío, e assim foram nascendo as novas músicas.

Foto
A capa do disco

A experiência de juntar flamenco e música electrónica foi muito boa, diz Rocío: “Foi maravilhosa, porque aprendi muitíssimo. Quando me escuto, totalmente distorcida, a voz tem uma forma distinta, como se a escutássemos por dentro. É totalmente diferente quando temos recursos que não são os que normalmente usamos. Os melismas do flamenco, por exemplo, ganham um toque experimental, o que me interessa muito, e ao vivo tentamos fazê-lo de uma forma a que se diluam os seus limites, para que a dado momento o espectador não saiba bem se aquele som é feito por ele ou por mim.”

O disco resultante da parceria de Rocío com Bronquio foi publicado no mesmo ano em que se editou um outro, totalmente distinto, Flamenco: Falla, Granados e Albéniz, um recital gravado ao vivo em Madrid, oito anos antes, em 2014, e que juntou Rocío (voz) e a pianista Rosa Torres-Pardo, interpretando temas clássicos dos compositores Enrique Granados, Isaac Albéniz e Manuel de Falla. “Não têm nada em comum”, diz Rocío. “Excepto a necessidade pessoal, minha, de me encontrar com outros códigos distintos do flamenco. E estabelecer pontes, diálogos, com o código próprio do flamenco. Por isso, tanto trabalho com a música electrónica como com uma pianista clássica.”

Haverá outro disco com Bronquio? Talvez noutro momento, diz Rocío. “Mas creio ser necessário que o próximo disco siga outro caminho. Por exemplo, agora estou a gravar um disco que sairá na Primavera de 2025 e que será totalmente diferente do anterior. Mas sempre permitindo ao flamenco um diálogo com outros géneros musicais.”

Sugerir correcção
Comentar