Bolsonaro diz que a vitória de Trump é um “passo importantíssimo” para se voltar a candidatar
Impedido de concorrer a cargos públicos até 2030, ex-chefe de Estado brasileiro admite pedir à Justiça para lhe devolver o passaporte para ir à tomada de posse do Presidente eleito dos EUA.
Jair Bolsonaro acredita que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de terça-feira nos Estados Unidos representa um “passo importantíssimo” para as suas próprias ambições de se voltar a candidatar à Presidência do Brasil em 2026.
“É igual a uma caminhada de mil passos, você tem que dar o primeiro, tem que dar o décimo. E [a vitória de] Trump é um passo importantíssimo”, disse o ex-chefe de Estado brasileiro, numa entrevista à Folha de S. Paulo, publicada na quarta-feira à noite.
Condenado em 2023 por abuso de poder e por utilização indevida de meios de comunicação e eventos de Estado para disseminar informações falsas sobre o sistema de eleitoral do país, Bolsonaro foi impedido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de concorrer a cargos políticos até 2030.
Para além disso, está a ser investigado por conspiração para organização de um golpe de Estado para se manter no poder, depois de ter perdido as eleições presidenciais de 2022, em disputa com o actual Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
Parte da investigação foca-se no papel de Bolsonaro e dos seus aliados no processo pós-eleitoral que culminou com a invasão das sedes do Congresso, da Presidência e do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 8 de Janeiro de 2023, em Brasília, por apoiantes seus.
Dessa investigação resultou a confiscação do passaporte de Bolsonaro, na sequência das buscas que a Polícia Federal levou a cabo na sua casa em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, em Fevereiro deste ano.
Comparando o seu caso com o de Trump, que foi acusado pelo Departamento de Justiça de tentativa de subversão eleitoral e de responsabilidade pela invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, Bolsonaro argumenta que o Presidente eleito dos Estados Unidos “enfrentou a perseguição do judiciário” e, também por isso, acredita que a sua vitória contra Kamala Harris se “vai reflectir no mundo”.
“Ser Presidente é uma merda”, admitiu na entrevista com a Folha. “Agora, a minha pretensão [é a] de voltar. Eu tenho um sonho. Qual é o sonho? Ajudar o Brasil (…). Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível.”
Segundo Jair Bolsonaro, deve caber aos poderes legislativo e executivo, e não ao poder judicial, a decisão final sobre o caso. “O Parlamento, no meu entender, tem de ser o poder com a última palavra. O poder vem de lá, que tem o voto. Depois, o [poder] executivo. Quem não tem o poder de se intrometer em nada é o judiciário, o judiciário é para resolver conflitos”, afirmou.
Insistindo que Donald Trump “gosta muito” dele e enfatizando que até convidou o filho, Eduardo Bolsonaro, para o acompanhar na noite eleitoral, na Florida, o ex-Presidente brasileiro disse ainda que vai pedir ao STE e ao STF que lhe devolvam o passaporte para poder assistir à tomada de posse de Trump, agendada para Janeiro do próximo ano, em Washington D.C.
“Ele tem-me como uma pessoa de quem gosta, é como você se apaixonar por alguém de graça. Essa paixão veio da forma como eu o tratava, sabendo o meu lugar. Se o Trump me convidar [para a tomada de posse], vou pedir ao TSE, ao STF [para me devolver o passaporte]”, assegurou.
Questionada pela Folha sobre a provável recusa de Alexandre de Moraes, presidente do STF, em aceder ao seu pedido, Bolsonaro disse que o magistrado não vai desafiar Trump, “o homem mais forte do mundo”.
“Você acha que ele vai convidar o Lula? Talvez protocolarmente. Quem vai convidar do Brasil? Talvez só eu. [Moraes] vai falar ‘não’ para o cara mais poderoso do mundo? Eu sou ex[-Presidente]. O cara vai arranjar uma encrenca por causa do 'ex'? Acha que vou para os Estados Unidos e vou ficar lá?”, perguntou.
Também em declarações à Folha de S. Paulo, Michel Temer, antigo Presidente brasileiro, disse que “não acredita” que os resultados eleitorais nos EUA possam influenciar de qualquer forma a decisão da Justiça brasileira sobre a inelegibilidade de Bolsonaro.
Temer também descreveu como uma “brincadeira” os rumores que o apontavam como possível candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro se este puder concorrer ao Palácio do Planalto (sede da presidência) em 2026.