No Cinanima 2024 há gatos à deriva, liberdade e utopias feministas

Entre esta sexta-feira e 17 de Novembro, Espinho recebe a 48.ª edição do encontro de cinema de animação, que mostra duas fortes longas europeias: Flow e El Sueño de la Sultana

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El Sueño de la Sultana, da basca Isabel Herguera, está nomeado para o Goya de animação dr
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El Sueño de la Sultana inspira-se numa utopia criada no início do século XX pela indiana de etnia bengali Begum Rokiya Hussain, pioneira dos movimentos feministas no sudeste asiático dr
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Flow - À Deriva, de Gints Zilbalodis, foi premiado em Annecy dr
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As aventuras de um gato procurando sobreviver num mundo futuro do qual os humanos estão ausentes dr
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Num ano de 2024 em que a liberdade tem sido um tema recorrente nas manifestações culturais portuguesas face aos 50 anos do 25 de Abril, o Cinanima regressa ao tema na sua 48.ª edição, que decorre em Espinho, no Centro Multimeios e no Auditório do Casino a partir desta sexta-feira e até ao próximo dia 17. O Festival Internacional de Cinema de Animação exibe este ano 81 filmes a concurso, a par de uma série de retrospectivas, programas especiais, exposições e masterclasses. A ideia de liberdade será declinada numa larga série de sessões temáticas bem como na exposição E se um Dia a Liberdade patente no Centro Multimeios durante o festival.

É na Competição Internacional de Longas, a decorrer no Centro Multimeios, que se deverão focar todos os olhares, com a exibição daquele que já é um dos filmes de animação mais falados de 2024, Flow - À Deriva (dia 15, às 18h). Premiado no prestigiado festival de Annecy (com os prémios do júri e do público) depois de ter estreado na paralela de Cannes Un Certain Regard, o filme de Gints Zilbalodis encena as aventuras de um gato procurando sobreviver num mundo futuro do qual os humanos estão ausentes. Esta segunda longa do letão autodidacta, abordando tanto a nossa relação com os animais como as alterações climáticas, tem recebido os maiores encómios da crítica internacional (apostamos que o seu herói felino terá ajudado grandemente…) e transbordou já para fora do circuito do cinema de animação.

Sem diálogos nem narração de espécie nenhuma, Flow acaba de ser nomeada nos Prémios do Cinema Europeu para os prémios de melhor longa-metragem animada e de melhor longa-metragem tout court (onde concorre contra O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar, A Substância, de Coralie Fargeat, ou Emilia Pérez, de Jacques Audiard), e parte como um forte candidato para a shortlist dos Óscares da categoria.

Aliás, das cinco longas internacionais no Cinanima, três delas são candidatas ao Prémio do Cinema Europeu para filme animado. Para além de Flow (cuja estreia nas salas portuguesas está prevista para Abril), as outras são a co-produção portuguesa Mataram o Pianista, de Fernando Trueba e Javier Mariscal (que teve já estreia no nosso país e no Cinanima é exibido no dia 13, às 18h) e o filme da basca Isabel Herguera El Sueño de la Sultana (dia 12, às 18h), lançado no festival de San Sebastián 2023 e premiado em Annecy com o prémio Contrechamp de melhor longa-metragem.

El Sueño de la Sultana, nomeado igualmente para o Goya (o Óscar espanhol) de melhor animação, inspira-se numa utopia criada no início do século XX pela indiana de etnia bengali Begum Rokiya Hussain, pioneira dos movimentos feministas no sudeste asiático. A cineasta basca, que há duas décadas trabalha na Índia, adapta nesta primeira longa realizada com múltiplas técnicas de animação a novela homónima de 1908, Sultana’s Dream, sobre uma sociedade construída e dominada por mulheres, e conta com a colaboração da académica Mary Beard ou do filósofo Paul B. Preciado num filme que se destina a um público mais adulto.

A concurso no Cinanima estarão ainda Memórias de um Caracol, do australiano Adam Elliot (Cristal de melhor longa em Annecy, dia 14, às 18h), longa em stop-motion (animação de volumes) sobre a vida de dois irmãos gémeos separados pelo destino, e Papercuts: My Life as an Indie Animator, do americano Bill Power, uma memória de uma vida dedicada à animação de recortes (num currículo que inclui, por exemplo, Acordar para a Vida, de Richard Linklater; dia 11, às 18h).

No que diz respeito à produção nacional, o Cinanima irá mostrar na Competição Internacional a aclamada curta de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves Percebes, o documentário em animação sobre o peculiar marisco algarvio que venceu o Cristal de melhor filme de curta-metragem do festival de Annecy (e o prémio do Público no Curtas Vila do Conde) há poucos meses.

Esta não será a única curta portuguesa a concurso — juntar-se-lhe-ão no concurso geral Amanhã Não Dão Chuva, de Maria Trigo Teixeira (também oriundo de Annecy e do Curtas), Citizen Tourist, de Gustavo Carreiro, e T-Zero, de Vicente Niro (vencedor do prémio My Generation no Curtas 2024).

Os quatro títulos estarão também entre os dez filmes portugueses nomeados para o Prémio António Gaio, homenageando o jornalista que dirigiu o festival a partir de 1980 e o tornou no primeiro encontro português do cinema de animação; os restantes nomeados são A Menina com os Olhos Ocupados, de André Carrilho, A Cada Dia que Passa…, de Emanuel Nevado, Iris, de João Monteiro, Reason and Impulse - Disappear, de Ala Nunu, Três Vírgula Catorze, de Joana Nogueira e Patrícia Rodrigues, e Veni Vidi Non Vici, de Leonor Calaça. O Cinanima exibirá ainda 22 outras curtas candidatas ao Prémio Jovem Cineasta (11 na categoria "menores de 18 anos" e 11 na categoria "18-30 anos").

O festival exibirá ainda duas longas-metragens que já tiveram distribuição no nosso país, O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki e Em Nome da Terr, de Dorota e Hugh Welchman, e organizará no dia 15 a 4.ª edição do simpósio "Olhares sob a Animação Portuguesa", para além de vários debates sobre temas do momento (como a igualdade e a identidade de género e a inteligência artificial) ao longo da sua semana de duração.

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