Agricultores espanhóis aguardam colheitas amargas após as inundações em Valência

Milhares de hectares de campos agrícolas ficaram submersos após as inundações de 29 de Outubro. Aceder às explorações ainda é difícil, mas as próximas semanas serão de cálculos dos prejuízos.

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Autoridades espanholas procuram vítimas num campo de laranjas em Loriguilla, Valência Manuel Bruque/EPA
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O fruticultor espanhol Bernardo Ferrer estava prestes a colher as suas laranjas e dióspiros quando as inundações devastaram vastas extensões de terrenos agrícolas na região de Valência. Depois de visitar os seus campos cobertos de lama na quinta-feira, Ferrer percebeu que tinha pedido tudo. As árvores ficaram cobertas de lama espessa que impossibilita a colheita.

"Agora os frutos vão apodrecer. Até as árvores podem morrer porque estiveram debaixo de água durante 36 horas... Com o calor e a humidade, os fungos vão atacá-las", disse à Reuters, por telefone, da sua quinta na zona de Alzira, em Valência.

A região é responsável por quase dois terços da produção de citrinos em Espanha, sendo também a maior exportadora mundial de laranjas. O dióspiro é outras das principais culturas regionais, juntamente com o abacate, a amêndoa e as uvas para a vinificação.

As inundações, que mataram pelo menos 200 pessoas e causaram danos severos em infra-estruturas, afectaram milhares de hectares de terras agrícolas, garantem os grupos agrícolas e os agricultores espanhóis.

"Estamos perante uma catástrofe... As perdas serão de milhões (de euros)", comentou Ricardo Bayo, secretário da União de Pequenos Produtores (UPA) de Valência. Outro grupo de agricultores, a Associação de Agricultores de Valência, assegura que as culturas da laranja, do dióspiro e da tangerina estão entre as que se perderão.

Na zona do cultivo de Arroz de Albufera, os campos ficaram totalmente submersos, com apenas alguns edifícios agrícolas e árvores visíveis acima da água, segundo imagens da Reuters.

Próximo passo: calcular os prejuízos

Ferrer mostra-se aliviado por ter um seguro que cobre as perdas. "O [pagamento do] seguro normalmente chega rápido, mas com esta dimensão temos de ser pacientes", explica o fruticultor.

Enquanto as culturas de citrinos estão geralmente cobertas por seguros na região, as vinhas e as culturas de frutos secos com seguro são baixas, refere Bayo. A associação das companhias de seguros agrícolas espanholas, Agroseguro, disse que os danos causados pelas inundações serão cobertos.

As seguradoras vão começar a processar os pedidos assim que os agricultores e criadores de gado com seguros puderem aceder às suas explorações e fazer o ponto da situação dos prejuízos, informou a associação em comunicado de imprensa.

As inundações também arrastaram maquinaria, sistemas de irrigação e estradas, relata Manuel Alcaide, porta-voz da associação de agricultores COAG à Reuters. Acrescenta, ainda, ser muito cedo para calcular os prejuízos. Muitos agricultores ainda não conseguem aceder às explorações.

Muito gado também morreu devido às águas das cheias. Em Utiel, uma das cidades mais afectadas de Valência, Javier Iranzo e Ana Carmen Fernandez explicaram à Reuters que as inundações destruíram completamente a sua criação de suínos, tendo 50 dos seus animais morrido afogados.