Ambiente de trabalho
Porque é que temos tanto pudor em falar de dinheiro?
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Caro leitor,
Ninguém trabalha de graça, esse é um ponto assente em 2024. Se há actividade que nos preenche 40 horas (ou mais…) de vida ao longo de uma semana, então deve ser remunerada – e de forma adequada. Ninguém questiona isso.
Mas, então, porque é que continuamos com tanto pudor em falar sobre quanto ganhamos? Ou quanto poupamos? Ou quanto queríamos ter?
Desde pequenos que somos condicionados a encarar o dinheiro como um tema "sujo", proibido, do qual não se deve falar, nem em público nem em privado.
Isto não acontece só em Portugal. Uma notícia da CNBC de 2023 dava conta de que os norte-americanos também não falam sobre dinheiro com as pessoas que lhes são mais próximas, ainda que os mais jovens estejam a mudar esse paradigma. De acordo com as respostas a um inquérito, mais de metade dos millennials (56% dos nascidos entre 1981 e 1996) e 49% da Geração Z (nascidos entre o fim da década de 1990 e 2010) disse falar sobre dinheiro regularmente. O mesmo era verdade para apenas 22% dos baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964).
A cultura é um ponto-chave para explicar esta realidade. Mas até essa está a mudar.
Vê-se, por exemplo, na quantidade de empresas que começa a colocar a banda salarial no anúncio de emprego, para que todos saibam o que esperar logo desde o início. É muito mais comum em países como Inglaterra ou EUA, mas começa a ver-se também em Portugal.
Aqui estamos no início deste caminho. Mas, enquanto não chegamos ao destino, ficam as dúvidas: quão cedo é cedo demais para falar sobre dinheiro num processo de recrutamento?
No entender de Sílvia Nunes, directora sénior da Michael Page, empresa consultora de recrutamento, é uma questão de "timing". Nota que "hoje em dia já se fala de salário muito mais cedo do que anteriormente", numa tentativa de gerir expectativas e perceber logo se "faz sentido dar continuidade ao processo de recrutamento". "É crucial cuidar do tempo de cada um, quer sejam candidatos ou futuros empregadores."
É verdade que "as pessoas precisam de auferir de um salário para viver", mas se "a motivação [para uma mudança de emprego] for exclusivamente o dinheiro, isso não só não é bem-encarado no mercado como limita as perspectivas do candidato a curto e médio prazo", explica.
É um turn-off quando é o candidato que puxa o tema do dinheiro? "Em algum momento terá de se falar na questão financeira", diz Sílvia Nunes. "O que eu costumo dizer aos meus candidatos é que, num primeiro contacto, o conteúdo está mais relacionado com a apresentação do projecto em si, experiência profissional, etc. Se o projecto não for ao encontro do que quero fazer, então a questão financeira perde a relevância."
E, em vez de salário, é possível que ouça falar noutra coisa: um "pacote salarial", que inclui todos os benefícios além do dinheiro em si, como a flexibilidade laboral.
Nem todos os empregos são iguais e nem todos os trabalhadores querem o mesmo. Há quem nunca vá ouvir falar em pacote salarial, por escolha própria ou não. Os trabalhadores por conta própria enfrentam, desde cedo e talvez de forma mais crítica, o pudor que ainda existe em falar sobre dinheiro.
"Quando se fala em orçamentos, a conversa do dinheiro fica sempre para o fim, não é? Isso prejudica-nos directamente", afirma a designer gráfica Sofia Rocha e Silva. Trabalha como freelancer há uma década e é a cara detrás de uma página de Instagram (e de vários cursos) com conselhos para outros freelancers – e o dinheiro faz parte.
"A nossa relação com o dinheiro não é neutra", afirma, e, se actualmente não falamos dele tanto quanto devíamos é porque essa relação nasce "da maneira como as pessoas à nossa volta se comportavam sobre ele", arrisca. Se os nossos pais falavam abertamente sobre dinheiro, é possível que tenhamos mais à-vontade; se não, é um tópico difícil.
"Culturalmente, sentimos que não é correcto e não fica bem saber quanto ganha outra pessoa – e mesmo nós, falar do que ganhamos, como gerimos e o que temos poupado [é algo que não fazemos]."
Com agravantes: "Quando falamos de trabalhos criativos, sempre nos foi incutida a ideia de que fazemos o que gostamos, o dinheiro deve ficar para segundo plano. Como se o dinheiro manchasse a pureza de estarmos a fazer uma coisa de que gostamos, criar."
É preciso contrariar esse preconceito. Alguns dos conselhos que dá a quem a procura é que é preciso falar sobre dinheiro com os pares (mesmo que tenhamos de ser nós a iniciar essa conversa) e criar orçamentos realistas e baseados em factos ("as despesas que temos de cumprir, os impostos que temos de pagar, o nosso salário"), pondo as inseguranças de lado.
Por isso é que acha "interessante" falar com outras pessoas sobre o dinheiro. E também ela vê uma mudança a acontecer: "Eu acho que as pessoas mais jovens estão bastante abertas a isso. Não há tanto aquela ideia de que o segredo faz parte do negócio", descreve.
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