Kamala Harris: “Aceito a derrota nestas eleições, não o fim da luta que alimentou esta campanha”

Candidata presidencial democrata proferiu um discurso de concessão de derrota que soou ao lançamento de uma futura campanha. Kamala Harris compromete-se com “transição de poder pacífica”.

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"Apesar de aceitar a derrota nestas eleições, não aceito o fim da luta que alimentou esta campanha. A luta pela liberdade, pela oportunidade, pela justiça e pela dignidade de todas as pessoas". Em frente à Universidade Howard, instituição historicamente negra e sua alma mater, em Washington, Kamala Harris proferiu esta quarta-feira o seu discurso de derrota nas eleições presidenciais norte-americanas, em que apelou à continuação da "luta" por outros meios, tanto na vida política como privada.

"Eu sei que costumo dizer que 'quando lutamos, ganhamos', mas eis uma coisa: às vezes a luta demora um pouco. Não quer dizer que não ganhamos. O importante é não desistirmos", afirmou. "Sei que muitas pessoas sentem que estamos a entrar numa era de trevas", admitiu perante os seus apoiantes, antes de lhes dizer "não desesperem".

A mensagem de "optimismo, fé, verdade e serviço" de Harris, quase como um discurso de lançamento para uma futura campanha, seguiu-se a palavras mais institucionais de congratulação do seu adversário, o republicano Donald Trump, pela sua vitória. "Um princípio fundamental da democracia americana é que quando perdemos uma eleição, aceitamos o resultado", afirmou, numa referência velada à conturbada transição de poder após a derrota de Trump em 2020.

"Ao mesmo tempo", acrescentou, "devemos lealdade não a um Presidente ou a um partido, mas à Constituição dos EUA, e à nossa consciência e ao nosso deus".

Trump elogiou Harris

Antes, perto das 14h da Costa Leste (19h em Portugal continental), Harris ligara a Trump, assumindo oficialmente a derrota dos democratas. Segundo fonte da campanha democrata, citada pelo New York Times, Harris e Trump terão falado sobre a importância de uma "transição de poder pacífica", a que a candidata também aludiu no seu discurso de quarta-feira.

O relato republicano da chamada coincide nessa valorização de uma transição pacífica e da necessidade de "unir o país". E Trump terá mesmo elogiado a sua adversária. "O Presidente Donald Trump reconheceu a força, profissionalismo e tenacidade da vice-presidente Harris durante a campanha", lê-se num comunicado do director de comunicações da campanha republicana, Steven Cheung.

Joe Biden, por seu turno, também já falou com os dois candidatos. Segundo a Casa Branca, congratulou Harris por uma "campanha histórica". A Trump, expressou o "compromisso em garantir uma transição suave", e também enfatizou "a importância de trabalhar para unir o país". O Presidente norte-americano vai pronunciar-se sobre as eleições na quinta-feira.

Troca tardia e um problema de classes

Ainda são poucas as vozes no Partido Democrata a autopsiarem publicamente a derrota eleitoral, mas começa a surgir uma lista de pecados apontados à campanha. À cabeça, a desistência tardia de Biden, em Julho, já sem tempo para um processo de primárias, condenando Harris a um difícil sprint de 107 dias, afirma o jornalista da CNN Alex Thompson, citando fontes do partido.

A escolha de Tim Walz e não do popular governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, para “vice” de Harris também reduziu as possibilidades de vitória, argumentou Lindy Li, uma responsável democrata daquele estado decisivo. No Wisconsin, o líder estadual do partido, Ben Wikler, sugeriu que os democratas falharam na recolha e análise de dados sobre o seu eleitorado-alvo. O apoio de mulheres, latinos e afro-americanos a Harris ficou aquém do esperado.

Bernie Sanders, senador independente do Vermont que não é membro do Partido Democrata, que alinha com este no Senado e apoiou Harris nas presidenciais, proferiu a mais violenta reacção à derrota de terça-feira, condenando os democratas por se terem afastado da classe trabalhadora.

"Não devia ser uma grande surpresa que um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descobre que a classe trabalhadora o abandonou. Primeiro, foi a classe trabalhadora branca, e agora são os trabalhadores latinos e negros também", acusou, esta quarta-feira, em comunicado.

Horas antes, dois antigos conselheiros de Sanders, David Sirota e Jeff Weaver, já tinham assinalado o mesmo problema. “O nosso partido ainda não percebeu os problemas que tem com eleitores trabalhadores de todas as raças”, criticou também o antigo congressista Conor Lamb, da Pensilvânia, citado pelo Politico.

Na CNN, Van Jones, ex-conselheiro de Barack Obama, somou ao problema de classe dos democratas a presença excessiva de celebridades na campanha.

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