Trump vence eleição presidencial e promete uma “era dourada” para os EUA

Depois de vencer na Carolina do Norte, na Georgia, na Pensilvânia e no Wisconsin, ex-Presidente derrota Harris e regressa à Casa Branca de forma histórica. Republicanos reconquistam Senado.

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Trump de regresso à Casa Branca Joana Gonçalves, Tiago Bernardo Lopes, Ivo Neto
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Donald Trump venceu a eleição presidencial norte-americana e vai regressar à Casa Branca, após uma série de vitórias claras na maioria dos estados considerados decisivos para o desfecho da votação e, ao que tudo indica, no voto popular. Ainda antes de ter alcançado os 270 delegados necessários para a maioria no Colégio Eleitoral, o ex-Presidente dos Estados Unidos já tinha reivindicado a vitória, referindo-se a si próprio como o 47.º Presidente” do país.

“Quero agradecer ao povo americano a extraordinária honra de ter sido eleito o vosso 47.º Presidente e o vosso 45.º Presidente (…). Esta noite fizemos história por uma razão, e a razão foi simplesmente o facto de termos ultrapassado obstáculos que ninguém pensava ser possível de ultrapassar”, disse Trump aos seus apoiantes, em êxtase, reunidos em West Palm Beach, na Florida. “Vencer o voto popular foi muito bom, muito bom.”

Trata-se de um feito eleitoral histórico para um dirigente político que nunca reconheceu a derrota em 2020, que foi alvo de dezenas de acusações criminais, que foi condenado pela Justiça por falsificação de documentos, difamação e agressão sexual, que sobreviveu a dois atentados e que é acusado de ter instigado a invasão do Capitólio dos EUA, em 2021, por apoiantes seus.

Durante a madrugada desta quarta-feira, Trump garantiu a vitória na Carolina do Norte, na Georgia, na Pensilvânia e no Wisconsin, quatro dos estados importantes para o triunfo no Colégio Eleitoral, e lidera a contagem no Michigan e no Arizona. O ex-chefe de Estado republicano alcançou pelo menos 277 votos no processo responsável pela eleição dos Presidentes dos EUA. Para além disso, também deve vencer o voto popular, algo que não conseguiu, por exemplo, quando derrotou Hillary Clinton em 2016.

A cadeia televisiva Fox News atribuiu-lhe a vitória na eleição presidencial, assim como ao candidato a vice-presidente, J.D. Vance, pouco depois de confirmado o triunfo na Pensilvânia. Os restantes media norte-americanos demoraram mais tempo a fazê-lo, aguardando pelos resultados no Wisconsin.

Entre outros líderes mundiais, Donald Trump foi felicitado por Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia; Emmanuel Macron, Presidente de França; Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia; Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido; Mark Rutte, secretário-geral da NATO; Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel; e Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também felicitaram o ex-chefe de Estado norte-americano pelo triunfo eleitoral.

“Creio que este é o maior movimento político de todos os tempos”, afirmou Trump, que diz querer “ajudar o país a sarar”, e anunciou uma nova “era dourada da América”. “Este será para sempre recordado como o dia em que o povo americano recuperou o controlo do seu país”, afiançou, rodeado pela família, repetindo alguns dos argumentos de campanha relativos à imigração, à criminalidade, à política económica e às relações internacionais.

A par dos familiares e dos seus aliados mais próximos, o republicano agradeceu a Robert F. Kennedy, Jr., que desistiu da corrida para o apoiar — e a quem prometeu um lugar de destaque na Administração — e ao multimilionário Elon Musk, entre outros.

Com os governos de Israel, da Ucrânia e da Rússia seguramente atentos ao discurso do ex-Presidente dos EUA, este assegurou, sem avançar pormenores, que não vai “iniciar” conflitos. “Não vou iniciar guerras, vou acabar com as guerras. Não tivemos guerras, durante quatro anos [na anterior presidência] não tivemos guerras”, insistiu, reivindicando para si a derrota do grupo islamista Daesh, na Síria e no Iraque.

Por fim, não esqueceu a tentativa de assassínio de que foi alvo, em Julho, na Pensilvânia: “Deus poupou a minha vida por um motivo (...): para salvar o nosso país e para restaurar a grandeza da América”.

Harris em silêncio

Kamala Harris, a candidata democrata, ainda aguarda pelo apuramento dos votos, mas em quase todas as frentes parece ter registado resultados aquém dos alcançados por Joe Biden em 2020.

O Partido Democrata parece ter perdido terreno face a 2020 não só entre a classe média branca, como entre o eleitorado latino e negro, sobretudo os homens, como indicaram ao longo das últimas horas sondagens de estações televisivas como a CNN e a NBC News. E também não se verificou a tese de um “voto silencioso” do eleitorado feminino, de protesto contra as restrições ao aborto possibilitadas pela revogação da decisão Roe vs. Wade pelo Supremo Tribunal dos Estados Unidos, de maioria conservadora.

A vice-presidente norte-americana não tinha planos para se pronunciar na última madrugada (manhã desta quarta-feira em Portugal) sobre os resultados conhecidos, mas pode ter de os refazer depois da confirmação da vitória de Trump.

Na Universidade Howard, onde os democratas preparavam as celebrações para uma possível vitória, os seus apoiantes já desmobilizaram e a atmosfera era de desilusão. Contudo, e apesar do cenário desfavorável, a campanha democrata ainda acreditava, há poucas horas, na possibilidade de um caminho para a vitória.

Num email enviado a todos os colaboradores por volta das 23h na costa Leste (4h em Portugal continental), a direcção da campanha de Harris dizia ainda estar confiante num bom resultado na chamada “muralha azul” — os estados do Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, cuja conquista bastaria para alcançar a Casa Branca.

“Sempre soubemos o tempo todo que o nosso caminho mais claro para os 270 votos eleitorais está nos estados da muralha azul. E sentimo-nos bem com o que estamos a ver”, lia-se no email, citado pela imprensa norte-americana. A campanha centrava as suas esperanças sobretudo em Filadélfia (Pensilvânia), em Detroit (Michigan) e nos condados de Dane e Milwaukee (Wisconsin).

Republicanos conquistam o Senado

À perda da Casa Branca, os democratas somam a perda, mais previsível, da maioria que tinham no Senado. Às 10h30 em Portugal continental, os republicanos controlavam 51 dos 100 lugares da câmara alta do Congresso, com a conquista de dois mandatos aos democratas.

O democrata Sherrod Brown foi derrotado no Ohio pelo republicano Bernie Moreno, na eleição mais renhida da noite, enquanto na Virgínia Ocidental o lugar deixado vago pelo democrata Joe Manchin foi facilmente conquistado pelo republicano Jim Justice.

No Nebrasca, Deb Fischer segurou o lugar no Senado para os republicanos numa eleição disputadíssima com o independente Dan Osborn.

No Texas, o republicano Ted Cruz acabou por garantir confortavelmente a reeleição. No Montana, os democratas estão ainda em risco de perder o lugar de Jon Tester.

O Partido Republicano também deve manter a maioria na Câmara dos Representantes, segundo as projecções. Com 371 dos 435 lugares declarados, os republicanos lideravam com 195 congressistas contra 176 dos democratas. São precisos 218 membros para a maioria.

Com a Casa Branca, maiorias nas duas câmaras do Congresso e um Supremo Tribunal de maioria conservadora, o ex-Presidente tem caminho aberto para avançar com o seu programa, sem grandes obstáculos. A acusação do Departamento de Justiça por subversão eleitoral em 2020, por exemplo, deve ser rapidamente retirada e arquivada. Para além disso, Trump terá carta-branca para pôr em prática o plano de retaliações prometido pelo próprio contra os seus adversários políticos.

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