Bernie Sanders arrasa “um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora”

Senador independente do Vermont apela a “discussões políticas muito sérias” após a “campanha desastrosa” dos democratas para as presidenciais norte-americanas, em que Donald Trump bateu Kamala Harris.

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Bernie Sanders, senador independente do Vermont e ex-candidato à nomeação democrata às presidenciais de 2016 e 2020 Lucas Jackson
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Bernie Sanders, o senador independente do Vermont, responsabilizou nesta quarta-feira o afastamento do Partido Democrata em relação aos trabalhadores norte-americanos pela derrota de Kamala Harris nas eleições presidenciais. Sanders, que foi reeleito para mais um mandato na terça-feira, desafiou os estrategas democratas a retirar "lições verdadeiras desta campanha desastrosa" e apelou a "discussões políticas muito sérias" nas "próximas semanas e meses".

"Não devia ser uma grande surpresa um Partido Democrata que abandonou a classe trabalhadora descobrir que a classe trabalhadora o abandonou. Primeiro, foi a classe trabalhadora branca, e agora são os trabalhadores latinos e negros também", acusou, esta quarta-feira, em comunicado.

Sanders, independente que alinha com o Partido Democrata no Senado, fez campanha por Kamala Harris, tal como fizeram outros nomes da esquerda progressista como a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez, mas foi assinalando publicamente ao longo dos últimos meses a necessidade de o partido ter um discurso virado para os trabalhadores para derrotar Trump.

"Enquanto o Partido Democrata defende o status quo, os americanos estão zangados e querem uma mudança. E têm razão", acrescentou o senador, que concorreu em 2016 e em 2020 à nomeação democrata para as presidenciais.

"Hoje, enquanto os muitos ricos vivem fenomenalmente bem, 60% dos americanos vivem salário a salário e temos mais desigualdade de riqueza e de rendimento do que alguma vez tivemos. Inacreditavelmente, os salários ajustados à inflação do trabalhador médio norte-americano são hoje mais baixos do que há 50 anos", afirmou.

"Hoje, apesar de uma explosão na tecnologia e na produtividade dos trabalhadores, muitas pessoas jovens vão ter uma qualidade de vida pior que a dos seus pais. (...) Hoje, apesar de gastarmos mais per capita do que outros países, somos a única nação rica do mundo que não garante cuidados de saúde a todos como um direito humano e pagamos, de longe, os preços mais altos do mundo por medicamentos", acusa Sanders.

O senador do Vermont também condenou o gasto de "milhares de milhões de dólares a financiar a guerra total do governo [israelita] extremista de [Benjamin] Netanyahu contra o povo palestiniano, que conduziu ao horroroso desastre humanitário de malnutrição em massa e a fome de milhares de crianças".

Sanders lançou ainda um duro ataque aos "grandes interesses financeiros e os consultores bem pagos que controlam o Partido Democrata", desafiando-os a retirar "lições verdadeiras desta campanha desastrosa".

"Irão compreender a dor e a alienação política que dezenas de milhões de norte-americanos estão a sentir? Têm alguma ideia sobre como podemos enfrentar a oligarquia que tem cada vez mais poder económico e político? Provavelmente não", criticou.

"Nas próximas semanas e meses, aqueles entre nós que estão preocupados com a democracia de bases e a justiça económica têm de ter discussões políticas muito sérias", desafiou.

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