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Torcida e muita reza no entorno de Lula pela vitória de Kamala
Nunca na história do Brasil um Governo torceu tanto por um candidato, no caso, uma candidata, Kamala Harris, nas eleições dos EUA. Lula sabe que sua vida se transformará num tormento se Trump vencer.
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Quem passou pelos corredores do Palácio do Planalto nesta terça-feira, 5 de novembro, não ouviu outro assunto nas rodas de conversas, além das eleições nos Estados Unidos. Nunca na história do Brasil um Governo torceu tanto por um candidato, no caso, uma candidata, a democrata Kamala Harris. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já declarou apoio aberto a ela, sabe que sua vida se transformará em um tormento se as urnas sagrarem o republicano Donald Trump como vencedor.
Lula e todo o entorno dele temem que, com Trump no comando da maior economia do planeta, o Congresso brasileiro derrube a inelegibilidade de Jair Bolsonaro. Por mais que o ex-presidente de extrema-direita tenha perdido força política, como se viu nas recentes eleições municipais, ele ainda é capaz de arregimentar multidões para criar tumultos nas ruas e mesmo bloquear agendas no Congresso. Lula prefere Bolsonaro amarrado pela decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pois a inelegibilidade dele atiça a cobiça da direita menos radical, que, dividida, ainda não se mostra capaz de construir uma candidatura competitiva ao Planalto.
A torcida e as rezas pela vitória de Kamala está tão forte no Governo, que o pacote de corte de gastos que a equipe econômica está preparando para tentar acalmar os ânimos no mercado financeiro ficou em segundo plano. Lula passou o dia conversando com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que lhe transmitia informações vindas diretas dos Estados Unidos. Foram apresentadas ao presidente mapas de votação, pesquisas informais, relatos detalhados de diplomatas brasileiros escalados para acompanhar a disputa pela Casa Branca.
Lula sabe que, mesmo com Kamala ganhando as eleições, as relações entre o Brasil e os Estados Unidos não serão fáceis. Há um descontentamento em Washington em relação à proximidade do país com a China e a Rússia. O líder brasileiro terá de se desdobrar para não acirrar ainda mais os ânimos. Não custa lembrar que os EUA são o segundo comprador de produtos do Brasil e o primeiro de itens industrializados, de alto valor agregado. Mais de 9 mil empresas exportam para os norte-americanos e contam com esses negócios para preservar empregos e garantir salários muito acima da média de mercado.
Perto do estrago que uma vitória de Trump pode fazer, essa questão comercial fica menor. Para Lula, se nomeado presidente dos Estados Unidos, o republicano poderá dar uma sentença de morte à democracia. Apoiado pelo crescente e forte movimento da extrema-direita, ele terá poder para desestabilizar governos democraticamente eleitos, estimulando conflitos e o ódio. Nos últimos dias, sempre que tratou das eleições norte-americanas, Lula assumiu que o Brasil será um dos países mais afetados se Trump vencer. Mas a ele, como presidente brasileiro, só cabe torcer e rezar para que Kamala ganhe a disputa, pois a soberania da escolha é da população dos Estados Unidos.