Montenegro mantém confiança em Margarida Blasco e diz que tema da greve “está clarificado”

Primeiro-ministro diz não ter visita prevista a bairros, recusa ter de “engendrar plano a correr” e insiste na ideia de que Portugal “é um país seguro”.

Foto
Primeiro-ministro considera que está explicada a posição contra do Governo sobre o direito à greve nas forças de segurança. ANTÓNIO COTRIM / LUSA
Ouça este artigo
00:00
05:50

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O primeiro-ministro assegurou nesta terça-feira que mantém a confiança política na ministra da Administração Interna e disse que a posição do Governo de recusar discutir a possibilidade de greve nas forças de segurança "foi clarificada e bem clarificada". No final da tomada de posse dos membros do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que decorreu em Lisboa, Luís Montenegro foi questionado pelos jornalistas se mantinha a confiança política em Margarida Blasco, respondendo com apenas uma palavra: "Mantenho."

No domingo, a ministra da Administração Interna afirmou que o tema do direito à greve estaria "em cima da mesa" nas negociações previstas para Janeiro com as associações de polícias. Contudo, horas depois, um comunicado do Ministério da Administração Interna referia que "a posição do Governo é clara: nesse diálogo pode ser discutida a representação laboral e os direitos sindicais. Mas não o direito à greve".

Confrontado com as críticas da oposição a esta aparente descoordenação, o primeiro-ministro disse apenas que "aquilo que tinha de ser clarificado relativamente à posição do Governo sobre a admissibilidade de haver direito à greve nas forças de segurança já foi dito e foi muito bem dito pelo Ministério da Administração Interna".

Montenegro não quis ir mais longe quando questionado se se tinha tratado de uma gaffe ou uma desautorização da ministra. "Aquilo que tinha de ser dito por parte do Governo para deixar muito clara a nossa posição sobre a admissibilidade do direito à greve nas forças de segurança, como de resto, nas Forças Armadas, já foi dito. Nós somos contrários a essa possibilidade e, portanto, essa posição do Governo está clarificada e está muito bem clarificada", voltou a dizer.

O primeiro-ministro recusou que a ministra esteja diminuída na sua autoridade política - "se achasse, isso teria consequências" - e aproveitou até para elogiar Margarida Blasco, que considerou ter enfrentado "momentos muito desafiantes", como os incêndios florestais ou os desacatos nos bairros da Grande Lisboa na sequência da morte de um cidadão baleado por um agente da PSP. "É preciso saber acompanhar esses momentos e é isso que ela tem feito e tem feito de forma muito competente", considerou.

O primeiro-ministro contrapôs que a ministra da Administração Interna, tal como os restantes membros do Governo, tem diante de si "uma orientação política para resolver os problemas das pessoas". No caso de Margarida Blasco, "tem diante de si a necessidade de termos mais polícias na rua; de termos uma carreira que é hoje mais atractiva e podermos ter mais admissões para as forças de segurança; é termos equipas multidisciplinares a poderem prevenir e reprimir fenómenos criminais, nomeadamente os mais violentos, aqueles que afectam os direitos, liberdades e garantias dos outros cidadãos e aqueles que geram um sentimento de insegurança", vincou.

Ir ao Bairro do Zambujal? Montenegro já esteve em 308 municípios

Depois de alguns bairros, nomeadamente o do Zambujal, onde houve desacatos durante cerca de uma semana, terem recebido a visita do Presidente da República e do secretário-geral do PS, Luís Montenegro admite não ter prevista qualquer visita a estes locais. "Nem sinto que haja nenhuma questão com isso", justificou.

O primeiro-ministro conotou que foi avisado previamente por Marcelo Rebelo de Sousa da sua ida ao terreno. "Tive ocasião de lhe dizer que achava muito bem que ele o fizesse, não há mais questão", afirmou, dizendo também não ver qualquer problema na deslocação de Pedro Nuno Santos. E acrescentou: "Eu ainda há um ano estive na Cova da Moura a comer uma cachupa com um cidadão. Não é diferente, o contexto é exactamente o mesmo: há um ano já havia problemas sociais, há um ano já havia conflitualidade entre forças de segurança e cidadãos dos bairros", considerou.

"Podem-me fazer muitas críticas e seguramente não faltarão motivos que suscitem, nomeadamente por parte da oposição, algum comentário. Agora, dificuldades em andar no terreno é que, sinceramente, eu não compreendo muito bem. Modéstia à parte, creio que não há político no activo - e se calhar mesmo fora do activo - que possa ter estado, como eu estive, nos 308 municípios do país", começou por dizer.

Questionado se o Governo esperará por ter um plano para apresentar aos moradores destes bairros antes de os visitar, como hoje sugeriu o Presidente da República, o primeiro-ministro respondeu: "Com franqueza, não sou daqueles políticos - peço desculpa se for um defeito - que, perante um problema, vão a correr apresentar um plano."

"Não. O plano já está em execução e está em execução desde o primeiro dia do Governo", afirmou, referindo-se a medidas na área da educação ou saúde públicas, na habitação e também ao encontro que membros do executivo já tiveram com diversas associações de representantes desses bairros na sequência dos desacatos.

Montenegro defendeu que o plano do Governo para Portugal já "integra as pessoas que vivem em situações mais precárias do ponto de vista da habitação e que tenham mais dificuldade no seu dia-a-dia para arranjar um emprego, para pôr os seus filhos na escola, para poder ter um atendimento num serviço de saúde".

"Nós estamos a trabalhar nisso e vamos continuar a trabalhar, com certeza que também estamos a trabalhar com as pessoas que vivem nestes bairros e que expressaram a sua indignação recentemente. Por isso falámos com elas, com os representantes das respectivas associações e vamos continuar a falar. Só que não acho, com franqueza, que ajude ao debate que tenhamos que ir à pressa fazer um plano só porque houve um problema", reiterou.

O Governo irá apostar no reforço do "policiamento nas ruas" e de "equipas multidisciplinares que possam ter capacidade de prevenção e repressão de fenómenos criminais mais violentos", disse. "Já o tinha dito antes de isto ter acontecido. Vamos continuar o caminho de dar a todos os cidadãos serviços públicos eficientes, capacidade de mobilidade, melhores empregos, melhores salários, melhores habitações, para que todos tenham uma vida digna", prometeu.

O primeiro-ministro reforçou ainda a ideia de que é preciso garantir que os fenómenos de violência que se seguiram à morte de Odair Moniz "não se repetem, porque retiraram tranquilidade às pessoas que vivem naqueles bairros, retiraram a ordem pública de uma forma geral aos cidadãos das zonas adjacentes". "Não estou a diminuir aquilo que aconteceu. O que eu estou com isto a dizer aos portugueses é que nós não passámos a ser um país inseguro. Nós somos um país seguro", vincou.