Polícia alemã prende suspeitos de pertencerem a grupo neonazi que planeava uma revolução
Media germânicos relacionaram um dos suspeitos com a AfD, o que é rejeitado pelo partido. Esta é a segunda suspeita de golpe de Estado na Alemanha nos últimos anos.
A polícia alemã prendeu oito suspeitos de pertencerem a um grupo militante neonazi movido por ideologia racista e teorias da conspiração, que tinham estado a fazer treinos de guerra para tentar provocar a queda do Estado alemão moderno, afirmaram os procuradores na terça-feira.
A notícia das detenções surgiu no meio de uma operação policial de 450 homens para desmantelar o grupo, designado pelos procuradores como SaechsischeSeparatisten, ou Separatistas da Saxónia, que tem a abreviatura SS, a mesma da milícia de elite do partido nazi.
"As nossas autoridades de segurança frustraram, assim, numa fase inicial, os planos de golpe de Estado dos militantes terroristas de direita, que ansiavam por um 'Dia X' para atacar o povo e o nosso Estado com forças armadas", declarou a ministra do Interior, Nancy Faeser, em comunicado.
Os meios de comunicação social ligaram um dos suspeitos ao partido nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) – que nas sondagens nacionais chega a ter 18% de apoio, atrás apenas da oposição de centro-direita –, embora o próprio partido tenha insistido que não tem nada que ver com esse grupo.
Este seria o segundo golpe de Estado descoberto na Alemanha nos últimos anos. Em 2022, as autoridades expuseram o movimento Reichsbuerger, liderado por um pretenso príncipe com ambições de derrubar o Estado e instalar um governo provisório, num caso que chocou a Alemanha pela sua rede e planeamento detalhados.
O grupo visado na operação de terça-feira foi formado em Novembro de 2020, segundo um comunicado do Ministério Público Federal. "Trata-se de um grupo militante de 15 a 20 indivíduos cuja ideologia se caracteriza por ideias racistas, anti-semitas e parcialmente apocalípticas", acrescenta o comunicado.
Convencidos de que a Alemanha está à beira do colapso, com a queda do governo profetizada para um "Dia X" indeterminado, o grupo tem vindo a treinar o uso da força para estabelecer um novo sistema no leste do país, inspirado no nazismo, segundo os investigadores.
"Se necessário, grupos indesejados de pessoas devem ser removidos da área por meio de limpeza étnica", diz a declaração.
Formação paramilitar
O presumível líder e membro fundador, identificado pelas autoridades alemãs e polacas como Joerg S., de 23 anos, foi capturado na cidade fronteiriça polaca de Zgorzelec. Os outros sete foram detidos na Alemanha de Leste, nas cidades de Leipzig e Dresden e na cidade de Meissen.
Os suspeitos, que, segundo o Ministério Público, realizaram exercícios de guerra urbana e adquiriram fardas e coletes à prova de bala, podem ser acusados de participar numa organização terrorista nacional, nalguns casos ao abrigo do direito juvenil.
O Spiegel Online noticiou que um dos suspeitos era Kurt Haettasch, um político do AfD no estado oriental da Saxónia, onde o partido esteve perto de ganhar as eleições estaduais em Setembro.
De acordo com o site da cidade, Haettasch é membro eleito do Conselho Municipal de Grimma, perto de Leipzig. Segundo o Spiegel, desde Outubro que é tesoureiro da organização juvenil da AfD Junge Alternative na Saxónia.
A ala juvenil da AfD foi classificada como uma entidade extremista pelos serviços de informação internos da Alemanha, que também está a monitorizar a AfD a nível nacional por suspeita de extremismo.
"O nosso partido assenta firmemente na base de uma ordem básica livre e democrática", declarou um porta-voz da AfD, acrescentando que o partido não tem "nada em comum" com um grupo como os Separatistas da Saxónia.
O AfD disse não poder confirmar a notícia do Spiegel de que Haettasch estava entre os suspeitos.
De acordo com o jornal Handelsblatt, que cita fontes de segurança, o político local confrontou os agentes com uma arma de fogo durante a operação policial, após o que um agente disparou dois tiros de advertência. Haettasch terá sofrido uma fractura no maxilar.
Um porta-voz do Ministério Público confirmou que alguém ficou ferido e disse que as circunstâncias estavam a ser investigadas.