Sánchez, líder valenciano e reis de Espanha atingidos por lama e apupados em vila afectada pelas cheias

Cinco dias após chuvas torrenciais e inundações, 214 pessoas morreram e muitas continuam desaparecidas. Novos alertas de chuva forte emitidos para a região de Valência.

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Felipe VI foi atingido por lama, mas manteve-se no local a conversar com a população afectada Eva Manez / REUTERS
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A população de Paiporta reagiu mal à visita das autoridades neste domingo Eva Manez / REUTERS
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O rei de Espanha conversa com habitantes de Paiporta Biel Alino / EPA
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A member of the Spanish Civil Guard patrols on horseback as people protest during a visit of Spain's King Felipe, following heavy rains that caused floods, in Paiporta, near Valencia, Spain, November 3, 2024. REUTERS/Eva Manez Eva Manez / REUTERS
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Letizia conversa com um popular David Melero / REUTERS
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Populares visaram os reis, mas principal alvo foi Sánchez Eva Manez / REUTERS
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Polícia teve dificuldade em conter a indignação dos habitantes de Paiporta Eva Manez / REUTERS
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Polícia teve dificuldade em conter a indignação dos habitantes de Paiporta Eva Manez / REUTERS
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Os reis de Espanha, Filipe VI e Letizia, acompanhados por Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol, e de Carlos Mazón, presidente da Comunidade Valenciana, visitaram neste domingo a localidade de Paiporta, uma das mais afectadas pelas cheias de terça-feira passada naquela região. Mas a população recebeu-os com insultos, arremessou lama e outros objectos, o que levou à retirada de Pedro Sánchez do local, enquanto os reis tentavam acalmar os ânimos e conversar com os habitantes.

As autoridades espanholas tiveram dificuldades em conter a população indignada, que gritou "Assassinos!" e "Fora!" à comitiva, que chegou à localidade ao início da tarde e teve de a abandonar pouco depois. Os habitantes de Paiporta queixam-se de atrasos e falta de coordenação na resposta à crise.

Os principais alvos dos apupos foram Pedro Sánchez e Carlos Mazón, segundo o jornal valenciano Las Provincias, referindo que se ouviram gritos de "Mazón, demissão", "Onde está Pedro Sánchez?" e "Pedro Sánchez, filho da puta". Um carro da comitiva de Sánchez foi mesmo vandalizado antes de o presidente do Governo abandonar a localidade, enquanto a própria viatura em que seguia era atingida por paus e esmurrada.

O Rei de Espanha tentou falar com a população de Paiporta, afectada pelas cheias EPA/Biel Alino
A visita não foi longa, visto que os monarcas e o presidente do Governo foram alvos de arremesso de objectos e lama EPA
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O Rei de Espanha tentou falar com a população de Paiporta, afectada pelas cheias EPA/Biel Alino

Filipe VI e Letizia mantiveram-se ainda vários minutos junto da população, conversando com algumas pessoas e tentando acalmar os ânimos. O rei, por exemplo, esteve algum tempo a tentar falar com três jovens visivelmente revoltados, que se queixavam de terem sido "abandonados" e de estarem a contar apenas com a ajuda de voluntários. Já a rainha, que num primeiro momento foi retirada para uma zona mais afastada da tensão, acabou por também ouvir lamentos de alguns habitantes.

Estava previsto que os monarcas, Sánchez e Mazón seguissem para Chiva, outra localidade muito afectada pela tempestade, mas a visita acabou por ser cancelada. Mais tarde, ao presidir a uma reunião do Centro de Coordenação Operativa Integrado (Cecopi), o rei disse que "há que entender a irritação e a frustração de muitas pessoas que passaram mal" e que é fundamental que a população "perceba que os mecanismos do Estado, nos seus diferentes níveis, estão a funcionar".

Já Sánchez afirmou que as cenas de Paiporta se deveram a "alguns violentos absolutamente marginais" e garantiu que "a amplíssima maioria dos cidadãos o que quer é uma solução".

Voluntários e residentes locais ajudam na limpeza das ruas em Paiporta, na Comunidade Valenciana. REUTERS/Nacho Doce
Pilar Venancio perdeu o irmão, Manuel, vítima das cheias em Espanha. Casa da família em Alfafar, na província de Valência, a 1 de Novembro. REUTERS/Susana Vera
Voluntários limpam as ruas em Alfafar, província de Valência, a 2 de Novembro. Susana Vera / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Limpeza das ruas de Alfafar, província de Valência, a 2 de Novembro. EPA/KAI FORSTERLING
Edifícios destruídos após chuvas fortes e cheias em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Edifícios destruídos após chuvas fortes e cheias em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Edifício destruído após chuvas fortes e cheias em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Edifícios destruídos após chuvas fortes e cheias em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Destruição após passagem da DANA em Manasa, província de Valência, a 2 de Novembro. EPA/Kai Forsterling
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Edifícios destruídos após chuvas fortes e cheias em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Interior de um carro destruído em Alfafar, província de Valência, a 2 de Novembro. REUTERS/Susana Vera
Limpeza das ruas em Valência, a região mais afectada pela DANA, este sábado. REUTERS/Eva Manez
Bombeiro procura vítimas entre escombros em Alfafar, nos arredores de Valência, este sábado. REUTERS/Susana Vera
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. REUTERS/Bruna Casas
Limpeza de ruas cobertas de lama em Sedaví, província de Valência, este sábado. REUTERS/Eva Manez
Ruas cobertas de lama em Alfafar, província de Valência, a 2 de Novembro. REUTERS/Susana Vera
Equipas de busca e salvamento procuram vítimas em Chiva, província de Valência, a 2 de Novembro. Bruna Casas / REUTERS
Ferrovia e veículos destruídos em Sedaví, província de Valência, este sábado. REUTERS/Eva Manez
Autoridades procuram vítimas entre carros destruídos na cidade de Paiporta, Valência, este sábado. EPA/Biel Alino
Voluntários e residentes locais ajudam na limpeza das ruas em Paiporta, na Comunidade Valenciana. EPA/Biel Alino
Voluntários e residentes locais ajudam na limpeza das ruas em Paiporta, na Comunidade Valenciana, este sábado. EPA/Biel Alino
Voluntários e habitantes locais limpam as ruas em Alfafar, província de Valência, a 2 de Novembro. EPA/Kai Forsterling
Veículo destruído marcado como "visto" pelas autoridades espanholas, na cidade de Alfafar, Valência, este sábado. EPA/Kai Forsterling
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Voluntários e residentes locais ajudam na limpeza das ruas em Paiporta, na Comunidade Valenciana. REUTERS/Nacho Doce

Chuva persiste e aumentam as restrições

Catalunha, Comunidade Valenciana, Múrcia e ilhas Baleares estiveram neste domingo sob aviso meteorológico de chuva forte. A Agência Estatal de Meteorologia espanhola (Aemet) pediu cautela nestas zonas, onde podem cair entre 100 a 150 litros de chuva por metro quadrado. O último balanço avançado pela Lusa e pelo El País confirma que já morreram 214 pessoas em resultado das cheias da semana passada.

A costa Sul de Tarragona, interior Norte e costa Norte de Castellón e costa Norte e Sul de Valência foram algumas das zonas mais afectadas pela chuva neste domingo e estiveram sob aviso amarelo. Almería, por sua vez, viu o alerta aumentado para aviso vermelho. A Aemet recorreu ao X, antigo Twitter, para avisar que nesta zona "o perigo é extremo".

Perante esta previsão, o Centro de Coordenação Operativo Integrado (Cecopi) limitou o trânsito a pessoas não residentes em 11 concelhos da Comunidade Valenciana, para que se facilitem os trabalhos de emergência. No sábado, as autoridades de Valência já tinham implementado restrições à circulação, no sentido de limitar estas zonas aos serviços essenciais e empresas que garantem fornecimento de serviços básicos. A circulação estará limitada pelo menos até às 23h59 deste domingo (22h59 em Lisboa).

Os actos de solidariedade espontâneos e consequente movimentação de grandes grupos de pessoas causaram, na sexta-feira, vários constrangimentos à circulação. Apesar de a Comunidade Valenciana ter criado um centro de coordenação dos voluntários para diminuir estes efeitos, no sábado, segundo a Direcção-Geral do Tráfego espanhola, continuaram a ocorrer vários problemas de circulação nas estradas de Valência e Castellón.

Há excepções para esta limitação à circulação: atendimento em centros, serviços e estabelecimentos de saúde, viagens para cumprimento de obrigações laborais, institucionais ou legais, regresso ao local de residência habitual ou familiar, assistência e cuidados a idosos, menores, dependentes, pessoas com deficiência ou especialmente vulneráveis, acções urgentes perante organismos públicos, judiciais ou notariais e viagens por motivo de força maior ou situação de necessidade podem acontecer, avança a Lusa.

Milhares de voluntários contornam autoridades

A afluência de voluntários aos autocarros do governo valenciano, destinados a distribuir e mobilizar a população para onde a ajuda é necessária, diminuiu substancialmente neste domingo, segundo o El País. Foram mobilizados cerca de 1300 voluntários que apareceram na Cidade das Artes e Ciências de Valência. Mas nem por isso a onda solidária enfraqueceu.

Várias pessoas que se disponibilizaram a ajudar queixaram-se de ter passado o dia de sábado sem fazer nada, por falta de meios ou desorganização do centro formal de voluntariado. Por outro lado, as restrições à circulação impostas neste domingo, que previam que os voluntários não se dirigissem para muitas das zonas mais afectadas, levaram milhares de pessoas a desafiar as autoridades e a atravessar as pontes que separam Valência dos municípios vizinhos para, pelos seus meios, irem ajudar.

A Polícia Nacional colocou agentes nas rotas de entrada para estas zonas afectadas, mas amontoam-se as publicações nas redes sociais que sugerem caminhos alternativos e livres de autoridades.

“O que é que temos de fazer, ouvi-los e ver a tragédia passar sem fazer nada? Bem, não”, disse um dos voluntários indignados à agência noticiosa EFE. A indignação dos ouvidos prende-se com uma desconfiança que paira sobre as restrições de circulação: servirão de facto para facilitar a movimentação dos meios de socorro ou deve-se à visita do rei de Espanha, planeada para este domingo, a algumas das zonas afectadas?

Mulher é resgatada com vida três dias depois

Uma mulher, que passou três dias presa dentro de um automóvel, foi resgatada com vida. O veículo estaria imobilizado perto da entrada de uma passagem subterrânea de Benetússer, informa a Lusa.

A notícia foi avançada no sábado à noite pela Protecção Civil da Comunidade Valenciana. O jornal Las Provincias acrescentou que a mulher foi transferida de imediato para o hospital.

Nos comunicados governamentais feitos no sábado não foi especificado o número de desaparecidos, apesar de Pedro Sánchez ter usado a expressão "dezenas". Vários jornais espanhóis estimam que estarão centenas de pessoas em parte incerta.

Do total de 188 cadáveres recuperados apenas na província de Valência já foi efectuada uma autópsia a 183. Contudo, apenas 67 foram totalmente identificados pela Polícia Nacional ou pela Guarda Civil, confirmou o Supremo Tribunal de Justiça da Comunidade Valenciana.

Detenções, reclamações e reparações

Na noite deste sábado para domingo foram detidas 20 pessoas numa operação de prevenção de assaltos nas zonas afectadas pelas cheias, confirmou o El País. No sábado, Sánchez confirmou que a presença policial seria reforçada nestas zonas devido a um aumento exponencial de roubos, consequência de tentativas desesperadas da população para obter bens essenciais.

Entre os detidos, 17 foram apanhados em estabelecimentos comerciais, dois na sua residência e um por roubo de gasolina.

As reclamações também aumentaram exponencialmente. O ministro da Economia, Carlos Cuerpo, recorreu ao X para avisar que já se iniciaram os processos do Consórcio de Compensação de Seguros para avaliar os danos causados pelas cheias e indemnizar a população. Na mesma publicação avança que as seguradoras já receberam mais de 35.800 pedidos de indemnização e que se espera que estes pagamentos sejam processados "até ao final da próxima semana".

Na mesma rede social em que se dão conta os pedidos de indemnização são também feitos apelos à ajuda por parte de canalizadores e electricistas. A Associação de Administradores de Bens Imóveis de Valência emitiu um comunicado em que pede que estes profissionais se desloquem a Valência para ajudar a reparar e repor os serviços básicos.

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