O número de vítimas mortais resultantes das cheias desta semana em Espanha subiu para 211, garantiu Pedro Sánchez, presidente do Governo espanhol, que falou, este sábado, a partir de La Moncloa. O governante garantiu que qualquer ajuda que a Comunidade Valenciana necessite "é só pedir e será fornecida".
As chuvas torrenciais e repentinas que assolaram Espanha durante esta semana vitimaram 211 pessoas e várias centenas continuam por localizar. Sánchez garantiu que "o Governo vai mobilizar todos os recursos necessários e todo o tempo necessário para ajudar" as comunidades mais afectadas e explicou, por pontos, as prioridades definidas na reunião do comité de crise.
O governante assumiu que a prioridade é encontrar as vítimas e ajudar a população afectada. "Neste preciso momento há dezenas de pessoas à procura dos seus entes queridos e de luto pelos que perderam a vida. Asseguro-vos que o Governo espanhol, o Estado, a todos os níveis administrativos, estão todos com eles", garantiu.
Nesse sentido, avançou que está a ser usado "o maior destacamento das Forças Armadas alguma vez feito em Espanha em tempo de paz". Foram feitos "4500 salvamentos" e ajudadas "mais de 30.000 pessoas". Perante um pedido de envio de soldados por Carlos Mazón, presidente da Generalidade Valenciana, Sánchez garantiu que, este sábado, serão enviados 4000 para Valência e, no domingo, outros 1000.
"Se a Comunidade Valenciana precisa de mais tropas, de mais maquinaria, de mais fundos, o que tem de fazer é pedi-los e ser-lhe-á fornecido. As autoridades valencianas conhecem o terreno melhor que ninguém e sabem o que é preciso fazer. Se não dispõem de meio suficientes, devem pedi-los", reforçou Sánchez.
O restabelecimento de serviços danificados foi outra das prioridades mencionadas na conferência. A DANA (sigla espanhola para "depressão isolada de altos níveis") causou "graves danos em pontes, estradas, linhas eléctricas, serviços públicos e outras infra-estruturas que não foram concebidas para resistir a ventos e àquele volume de chuva", explicou. Sánchez aponta para que 94% da energia das pessoas afectadas já tenha sido restabelecida, bem como 550.000 linhas telefónicas, esperando que "o resto seja restabelecido ao longo do fim-de-semana".
Também já foram normalizadas várias ligações ferroviárias, incluindo de alguns comboios pendulares, e foi iniciada a reparação de túneis ferroviários em Chiva e Torrent, bem como destacadas brigadas florestais para reparar estruturas hídricas danificadas.
Algumas das zonas mais afectadas, como a Comunidade Valenciana, Castela-La Mancha, Andaluzia, Aragão e Catalunha, têm registado assaltos e pilhagens a estabelecimentos em busca de água e comida, avança a Reuters. Nesse sentido, Sánchez garantiu que será "duplicado o número de efectivos da Guarda Civil e da Polícia para garantir a segurança nas ruas". Já foram detidas 82 pessoas "que aproveitaram a ocasião para saquear".
Pedro Sánchez adiantou, ainda, que já foram iniciadas as conversações com a Comissão Europeia e o processamento do Fundo Europeu de Solidariedade. Concluiu pedindo a unificação do povo espanhol neste momento e com um agradecimento por todas as mensagens de solidariedade de outros países da União Europeia. "Ajudámos os nossos irmãos europeus quando precisámos e eles agora vão ajudar-nos", acrescentou.
Onda de solidariedade
Nos últimos dias juntaram-se milhares de pessoas aos esforços de limpeza na Cidade das Artes e das Ciências de Valência, avança a Reuters. Este centro de artes normalmente acolhe espectáculos de ópera e foi transformado num centro temporário de operações de limpeza, como auxílio perante as consequências das inundações catastróficas
Este sábado realiza-se a primeira operação de limpeza coordenada organizada pelas autoridades regionais. Na sexta-feira, a chegada espontânea de voluntários dificultou o acesso dos profissionais de emergência a algumas zonas.
Em declarações à comunicação social espanhola, as autoridades chegaram mesmo a apelar a que os voluntários regressassem a casa ou que, pelo menos, não se deslocassem de carro, por estarem a impedir o acesso dos meios de socorro, avança a CNN.
Para minimizar os malefícios da onda de solidariedade, as autoridades elaboraram um plano sobre como e onde colocar os voluntários.
O presidente da Generalidade Valenciana, Carlos Mazón, recorreu ao X para anunciar o centro de voluntariado. “Amanhã [hoje], sábado, às 7 da manhã, em conjunto com a Plataforma de Voluntariado, vamos lançar o centro de voluntariado para organizar melhor e transportar a ajuda daqueles que estão a ajudar a partir da Cidade das Artes e das Ciências em Valência”.
Marcelo enaltece "resposta do povo espanhol"
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou, este sábado, a expressar solidariedade ao monarca espanhol, Felipe VI, pelas consequências das inundações naquele país, enaltecendo a "resposta notável" da população, avança a Lusa.
Marcelo, que já tinha enviado uma mensagem a Filipe Vi na quinta-feira, falou por telefone com o monarca, no sentido de expressar "a solidariedade do povo português perante as mais recentes notícias, que revelam a extensão dos sacrifícios pessoais e materiais, bem como a resposta notável do povo espanhol a esta tragédia sem precedente conhecido", lê-se na nota publicada no site oficial da Presidência da República.
ONU quer resposta urgente às alterações climáticas
A Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão meteorológico das Nações Unidas, pediu que fosse dada "prioridade máxima a salvar vidas" na luta contra as alterações climáticas, na sequência das inundações em Espanha, avança a CNN.
Sobre o evento de "chuvas recorde e inundações mortais repentinas", a porta-voz Clare Nullis lembrou que são "apenas um dos muitos, muitos desastres climáticos extremos e relacionados com água que ocorreram em todo o mundo este ano", como citado pelo mesmo órgão de comunicação.
Clare Nullis reforçou a importância dos mecanismos de alerta precoce no sentido de proteger todos destes "eventos climáticos, hídricos perigosos" e relembrou que estes se tornaram "mais prováveis e mais graves devido às alterações climáticas".
"Cada fracção adicional de aquecimento aumenta o risco de precipitação extrema e inundações", relembrou, antes de concluir com um apelo: "O mundo deve agir agora! Os alertas precoces levam a acções precoces e informadas".