Patriota

No seu livro, Alexei Navalny, o principal opositor de Vladimir Putin, conta a história de sua vida, da carreira política, do ativismo, do casamento, da família e da sua luta e de sua equipe.

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Lançado internacionalmente em 22 de outubro, inclusive em russo, o livro Patriota, de Alexei Navalny, seria considerado um libelo não fossem suas 512 páginas. Nele, o principal opositor de Vladimir Putin conta a história de sua vida, da carreira política, do ativismo, do casamento, da família e a da sua luta e de sua equipe ao desafiarem uma superpotência mundial, que não conseguiu silenciá-lo nem mesmo depois de o ter assassinado. Patriota é a melhor prova disso.

São memórias desde sua infância até o dia 16 de fevereiro passado, quando apareceu morto, aos 47 anos, na prisão IK-3, na Sibéria, uma das mais rigorosas e inacessíveis da Rússia e com temperaturas que chegam a -40º. As colônias penais russas são descendentes dos antigos gulags da era soviética, os famosos campos de trabalhos forçados de Stalin, onde são trancafiados os piores criminosos e opositores do regime, para lá serem esquecidos.

Corajosamente escrito, Patriota é a última mensagem de Navalny ao mundo, em que descreve como funciona o regime ditatorial de Putin. Ele começou a escrevê-lo em 2020, na Alemanha, onde foi salvo no hospital Charitè, de Berlim, do envenenamento ordenado pelo déspota russo. Foi injetado com a substância tóxica Novichok — desenvolvida pela União Soviética na década de 1970 —, e identificada por amostras do seu sangue em um laboratório militar alemão. No hospital, foi visitado por Ângela Merkel, então primeira-ministra alemã.

Alexei Navalny foi um nacionalista que amava seu país e lutou durante a maior parte da sua vida para livrá-lo do autoritarismo de Vladimir Putin. Ele não queria ocidentalizar a Rússia, e nunca fez nenhum movimento nesse sentido, mas apenas democratizá-la. Seu estilo é corajoso, vigoroso, e autoirônico, o que era uma das suas características.

Com humor narra cenas hilariantes acontecidas durante algumas das suas inúmeras detenções e encarceramentos, como o amadorismo e desnorteamento dos numerosos guardas que o prenderam logo que desembarcou vindo da Alemanha e que não sabiam como proceder. Mas narra, também, detalhadamente, as perseguições a ele e equipe e as torturas às quais foi submetido.

Quem quiser conhecer as tenebrosas entranhas do regime autocrático de Putin não pode deixar de ler Patriota, onde são reveladas as suas crueldades e estratégias para continuar no poder, em que está desde 1999. Nalvany revela como funciona o esquema de corrupção de Putin para assegurar a fidelidade dos que o cercam e como se livra impiedosamente de críticos e opositores, como ocorreu com ele.

Nalvany descerrou o véu com o qual muitos dos que se dizem democratas tentam camuflar o verdadeiro Putin, revelando o que ocorreu durante seus anos de governo, quando críticos do Kremlin morreram em circunstâncias suspeitas, disfarçadas em acidentes aéreos, quedas de edifícios e envenenamentos. A leitura de Patriota é especialmente aconselhável aos idealizadores ocidentais de Putin. Talvez, depois disso, quem sabe, sentirão algum constrangimento em defendê-lo, como alguns ocupantes do Palácio do Planalto.

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