Por que é que a geração Z rejeita papéis de liderança — e porque deves reconsiderar

Há uma razão compreensível: papéis de gestão intermédia são conhecidos pelos altos níveis de burnout. Mas com a abordagem certa podem ser altamente transformadores.

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A geração Z está destinada a tornar-se na geração mais populosa do planeta, e a sua influência já está a moldar o futuro do trabalho. Como uma das gerações mais bem formadas e racialmente e etnicamente diversa traz perspectivas novas e novas expectativas para a forma como trabalhamos e lideramos.

Conhecidos como os primeiros verdadeiros “nativos digitais”, a geração Z cresceu imersa num mundo de tecnologia e redes sociais, dando-lhes uma força natural para navegar o mundo moderno. Mas há mais na geração Z do que a sua fluência digital.

O que realmente os distingue é a sua ambição, espírito empreendedor, inteligência financeira, compromisso com o consumo ético e um forte sentido de responsabilidade social. Para a geração Z, o trabalho é mais do que um salário – trata-se também de atingir um propósito mais importante. Dão-se melhor em organizações que colocam as pessoas no centro e que valorizam as suas contribuições, que priorizam o bem-estar e se alinham com o seu sentido de missão.

A geração Z está a redefinir liderança ao escolher liderar pela competência em vez de se alicerçar em posições formais de hierarquia. Uma das mais surpreendentes tendências é a sua crescente relutância em assumir cargos de liderança intermédia – um fenómeno que está a ser chamado “conscious unbossing” (algo como “não-chefia consciente”).

Quando a estratégia se encontra com a execução

Chefias intermédias têm um papel vital nas organizações, sendo uma ligação crucial entre a estratégia da empresa e as operações do dia-a-dia.

Ao contrário dos supervisores, que se focam essencialmente em monitorizar tarefas quotidianas, as chefias intermédias são responsáveis pelo desempenho das equipas e pela implementação de estratégias mais amplas. É um papel dinâmico, onde a visão da empresa se cruza com a execução prática.

No entanto, a investigação mostra que metade da geração Z não tem interesse em ter papéis de chefia intermédia. Há uma razão compreensível: estes papéis são conhecidos pelos altos níveis de burnout e podem colidir com os valores de autonomia, flexibilidade e bem-estar pessoal.

É verdade que as chefias intermédias têm desafios reais. Ao longo da última década, as suas responsabilidades cresceram significativamente. Situam-se entre as prioridades competitivas e um mundo do trabalho em mudança rápida. Ainda assim, com a abordagem certa, estes papéis podem ser altamente gratificantes e transformadores, como concluí na minha tese de doutoramento.

Por que é que as chefias intermédias importam

Apesar de serem altamente ambiciosos, confiantes e de se guiarem pelo crescimento pessoal, os jovens da geração Z podem estar a deixar passar oportunidades de aprender e influenciar as chefias intermédias.

Elas têm um papel crucial para aqueles que querem ter um impacto real, sistémico e duradouro, oferecendo uma plataforma para promover os valores desta geração, que se interessa profundamente pela responsabilidade social, sustentabilidade e equidade.

Mais ainda, a chefia intermédia dá oportunidades importantes para desenvolver aptidões humanas, como a inteligência emocional, o pensamento estratégico e a tomada de decisões. Abraçar estes papéis pode desbloquear o potencial de mudança e inspirar a transformação.

Como encontrar alegria nas chefias intermédias

Se pertences à geração Z e estás com incertezas sobre um cargo de chefia, reenquadrar esse papel com os teus valores e aspirações pode ajudar-te a vê-lo como uma oportunidade, em vez de um fardo. Estes três passos podem ajudar-te a fazer o melhor trabalho possível, sem te esqueceres do que acreditas.

1. Usa o cargo como uma forma de criar consciência

As chefias intermédias oferecem uma oportunidade para criar consciência. Ao reflectir sobre como respondes a desafios, interages com outros ou tomas decisões sob pressão, podes ganhar uma nova perspectiva sobre os teus pontos fortes, áreas de crescimento e estilo de liderança.

Por exemplo, esta consciência pode ajudar-te a delegar tarefas de forma mais efectiva – empoderando a tua equipa, impedindo o burnout e deixando tempo para focar em coisas que importam.

2. Pensa no teu papel como uma incubadora de liderança

Ver a chefia intermédia como uma incubadora pode ajudar-te a focar no seu valor a longo prazo. Esses papéis oferecem-te experiência para aprender a negociar prioridades em diferentes níveis e dão-te acesso a redes importantes e oportunidades de desenvolvimento.

As aptidões que desenvolves – pensamento estratégico, negociação e gestão de stakeholders – não só te preparam para posições mais altas, mas também te equipam com ferramentas para lutar por uma mudança social ou serem bem-sucedido enquanto empreendedor.

3. Negoceia o papel para aumentares o impacto

A chefia intermédia também trata de expandir o teu nível de influência e criar efeitos mais abrangentes. O papel oferece-te a vantagem de moldar a cultura organizacional e impulsionar mudanças significativas. Podes mostrar às gerações mais velhas que trabalham contigo que há objectivos ambiciosos que podem ser alcançados sem comprometer o bem-estar pessoal ou standards éticos.

O caminho a percorrer

O mundo está a contar contigo e com outros membros da geração Z para liderarem o caminho. Os papéis de chefia intermédia oferecem uma plataforma poderosa para ter influência, ao mesmo tempo que desenvolves competências valiosas que te vão preparar para o sucesso em qualquer caminho que escolhas.

Em vez de olhares para estes papéis como um fardo, olha como oportunidades de crescimento, inspirar outros e deixar um legado. A chefia intermédia permite-te conectar a estratégia com a execução, moldar a cultura organizacional e lutar por valores que te importam.

Ao abraçares este desafio, vais ter a oportunidade de moldar o futuro das empresas e de te tornar num líder que procura positividade, mudança para o melhor e um mundo mais sustentável.


Exclusivo P3/The Conversation
​Leda Stawnychko é professora de Teoria Organizacional e Estratégia na Universidade Mount Royal

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