Comités olímpicos alertam para perigos da constante alteração do programa dos Jogos

Indefinição gerada junto dos atletas, falta de financiamento e exigências na qualificação tornam complexa a gestão do vaivém de modalidades olímpicas.

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O breaking estreou-se em Paris mas já não estará presente em Los Angeles CAROLINE BLUMBERG / EPA
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Entre os Jogos Olímpicos de Tóquio e os de Paris caíram do programa o softbol e o karaté. O breaking estreou-se neste ano na capital francesa, mas já não chegará a Los Angeles, em 2028. E nos EUA, dentro de quatro anos, teremos como novidades o críquete, o flag football, o squash, o beisebol e o lacrosse, mas não sabemos com que prazo de validade. Esta incerteza no calendário olímpico comporta oportunidades, mas também "perigos" para os quais alertam alguns responsáveis de comités olímpicos nacionais.

"A complexidade de decidir um programa olímpico não pode ser subvalorizada, tem de assegurar um equilíbrio entre o interesse da cidade organizadora e o interesse global. [...] O programa dos Jogos tem que funcionar para todos os comités olímpicos nacionais", argumentou Spyros Capralos, presidente dos Comités Olímpicos Europeus (COE), numa sessão temática sobre a evolução do programa dos Jogos Olímpicos, que decorreu nesta sexta-feira no Centro de Congressos do Estoril.

O também presidente do Comité Olímpico grego abordou a introdução de cinco novas modalidades em Los Angeles 2028, concedendo que irão atrair mais audiência, sobretudo nos Estados Unidos, mas sublinhando que algumas "estão muito pouco representadas no resto do mundo e provavelmente sairão do programa depois desses Jogos", que terão 37 desportos.

Embora reconhecendo que "a alteração do programa olímpico traz desafios e oportunidades para os comités olímpicos", Spyros Capralos mostrou-se apreensivo com a consequente alteração de quotas que estas mudanças provocam. "Vai afectar os comités olímpicos nacionais. Alguns desportos terão menos lugares, o que aumentará a pressão sobre os atletas para se qualificarem e, no limite, pode excluir atletas de elite".

É necessário um "compromisso"

As mesmas preocupações foram expressadas pelos restantes membros do painel, com o director executivo do Comité Olímpico da Irlanda a destacar que a maioria das modalidades introduzidas no programa de 2028 tem "muito pouca representatividade" no seu país.

"É importante que os Jogos continuem a evoluir, mas isso coloca-nos mais desafios", assumiu Peter Sherrard, lembrando que todos os comités olímpicos lidam com recursos finitos e, por isso, têm de estabelecer prioridades.

Apesar de, em Paris2024, a Irlanda ter alcançado o melhor resultado da sua história olímpica - foi 19.ª no medalheiro, com sete medalhas, quatro delas de ouro -, Sherrard revelou que o financiamento governamental não apoiou sete das 25 modalidades presentes nos últimos Jogos.

Os intervenientes no debate admitiram que a inclusão de novas modalidades, como o surf, o BMX, o skate ou o basquetebol 3x3, atraiu novos públicos e também mais patrocinadores, mas a secretária-geral do Comité Olímpico da Nova Zelândia também defendeu que tem de existir um "compromisso" no programa dos Jogos, de modo a tranquilizar os desportistas, que hoje em dia desconhecem a "longevidade" olímpica das novas disciplinas.

"O facto de haver modalidades retiradas do programa aumenta a pressão sobre os atletas", alertou Nicki Nicol, antes de notar a inexistência de segurança e critérios claros nestas permanentes alterações.

Também Joan Smith, secretária-geral do Comité Olímpico da Namíbia, considerou que "a pressão de introduzir novos desportos esgota algumas nações", nomeadamente as mais pequenas, sem contudo deixar de reconhecer que as novas modalidades introduzidas nas últimas duas edições dos Jogos criaram "estrelas" e ofereceram "uma nova dimensão ao entusiasmo com o desporto".