Série da RTP2 propõe leitura de Os Lusíadas numa relação com contemporaneidade
A partir do próximo dia 7, os dez cantos da epopeia de Luís de Camões serão encarnados por tantas outras actrizes, numa produção para a RTP2.
A série televisiva Os Lusíadas, uma ideia do encenador Daniel Gorjão, responsável pela programação de artes performativas da RTP, propõe-se incentivar o interesse pela obra de Luís de Camões, quando se celebram os 500 anos do nascimento do poeta.
Realizada por Patrícia Couveiro, vai ser transmitida pela RTP2 nas noites de quinta-feira, a partir da próxima semana, num total de dez episódios, tantos quantos os cantos da epopeia, com durações entre os 45 e os 50 minutos cada.
Segundo Daniel Gorjão, que na quinta-feira apresentou a produção em Lisboa, a série funciona como "uma fixação audiovisual d'Os Lusíadas", originalmente publicados em 1572. O objectivo é "reflectir sobre a importância e o significado, nos dias de hoje, de um texto com cerca de 500 anos".
Para os responsáveis desta produção, impunha-se que, "numa era pós-colonialista", fossem ouvidas "as palavras, durante tantos séculos cristalizadas num só sentido, ditas em relação com a nossa actualidade".
"Esta ideia surgiu devido às celebrações dos 500 anos de Camões", disse o produtor e encenador à agência Lusa. "Estava tudo a comemorar [os 50 anos] do 25 de Abril que coincidem com os 500 anos [do nascimento] de Camões, e achei que a RTP devia também comemorar esta data."
"Depois de me ter cruzado com [o actor] António Fonseca a dizer na íntegra Os Lusíadas, num filme da Sofia Marques, de 2013 [8816 Versos], "achei que podíamos fazer [uma produção] especificamente para televisão, em que se dissesse Os Lusíadas".
Para tal foram escolhidas dez actrizes -- uma por cada canto do poema épico. "Tentámos, eu e a realizadora, ter um naipe de actrizes o mais diverso possível, actrizes mais conceituadas, mais jovens, de diferentes etnias, não descurando o talento."
As actrizes escolhidas são Beatriz Batarda, Inês Vaz, Carla Gomes, Rita Cabaço, Maria João Luís, Mónica Calle, Sandra Hung, Círila Bossuet, Inês Castel-Branco e Carolina Amaral. Cada uma vai dizer um canto d'Os Lusíadas num cenário diferente: um restaurante típico lisboeta, o Oceanário, a Biblioteca Nacional, um ringue de boxe. "Os cenários escolhidos dialogam com o texto e com a contemporaneidade, com aquilo que é o país hoje dia", garantiu.
"A epopeia é aquilo que todos conhecemos. O que tentamos fazer, lendo a obra na íntegra, é pô-la em relação com a contemporaneidade, com a cidade, com aquilo que é urbano e o que é 2024, numa era pós-colonialista", disse à Lusa o autor da ideia original da série, lembrando que o colonialismo é um dos temas que Camões trata n'Os Lusíadas.
O encenador espera que a série "seja uma forma mais acessível a quem estuda a obra, nomeadamente os estudantes, de poder ouvir e não só ler" o poema épico de Camões, mas igualmente de aceder ao que lhe é contemporâneo e essencial.
Ao mesmo tempo, quer "deixar este documento para futuro". Uma das ambições "é suscitar o interesse pela obra" do poeta, indo além d'Os Lusíadas e abrindo portas ao teatro e à poesia lírica do autor.
Esta co-produção RTP e Dentro da Baleia estreia-se a 7 de Novembro, às 23h05.