Comemorações dos 500 anos de Camões têm 2,2 milhões no próximo ano

À verba inscrita no Orçamento do Estado para 2025 deverá somar-se “outro tipo de apoios”, nomeadamente de “instituições com vocação mecenática”, defende o comissário-geral José António Bernardes.

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"O encontro dos portugueses com Camões acontece na escola", diz o comissário-geral das comemorações camonianas Daniel Rocha
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O programa comemorativo dos 500 anos do nascimento de Camões conta com uma verba de 2,2 milhões de euros inscrita na proposta de Orçamento do Estado para 2025, mas o comissário-geral espera encontrar outros apoios.

"É com essa verba que teremos de contar para levar por diante o nosso programa. Não deixaremos, no entanto, de procurar outro tipo de apoios", disse à agência Lusa José António Bernardes, referindo-se a "instituições com vocação mecenática".

Na Estrutura de Missão para as Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões, "quando tivermos de fazer escolhas — e vamos ter de as fazer privilegiaremos iniciativas duráveis", adiantou o comissário-geral. "Podem não ter tanto impacto imediato, mas deixam semente de futuro", declarou o professor catedrático e ex-director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC).

Em Setembro, José Augusto Bernardes sucedeu no cargo de comissário-geral a Rita Marnoto, também professora da UC, mantendo-se em funções os restantes membros da Estrutura de Missão.

"Procurou-se que a programação fosse criteriosa e exequível, mobilizasse várias entidades e contemplasse actividades de diferente natureza. Fico satisfeito por poder dizer que contamos com a participação de autarquias, universidades, fundações e outras instituições de índole cívica e cultural", afirmou.

O comissário-geral ressalvou que "a programação é dinâmica, não se impõe de forma fechada e inamovível", antes "pelo contrário".

"Fico particularmente satisfeito por poder contar com a participação das escolas. O encontro dos portugueses com Camões acontece na escola. É no nono e no décimo ano [de escolaridade] que se decide o tipo de relação que os cidadãos e as cidadãs manterão com o poeta ao longo da vida. Nessa medida, será dado destaque a iniciativas que mobilizem docentes e públicos juvenis", explicou.

José António Bernardes, que coordenou o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos de 2004 a 2005, recordou que as comemorações dos 500 anos do nascimento do autor de Os Lusíadas começaram antes de a Estrutura de Missão "ter podido iniciar a sua acção".

"Isto só pode significar que os portugueses precisam ainda muito de celebrar Camões. Trata-se de uma necessidade colectiva e não de um simples dever ou de um mero ritual", enfatizou.

Na sua opinião, a actualidade da obra de Luís de Camões "talvez esteja hoje na sua consciência de mundo", que era "relativamente nova no tempo do poeta e ainda não se cumpriu totalmente nos nossos dias".

"Acredito que a maior interpelação que Camões dirige ao nosso tempo seja mesmo essa. Até que ponto alcançámos já o sentimento de pertença universal que transparece no final de Os Lusíadas, quando Tétis [divindade da mitologia grega] mostra ao [Vasco da] Gama o mundo então desconhecido?", questionou.

Para o comissário-geral, "já não é apenas o descobridor do caminho marítimo para a Índia" a ser "contemplado com essa revelação", mas sim "o ser humano em geral que, para além dos "olhos mortais", descobre que o mundo é bem mais vasto do que julgava".

"Será possível incorporar esta e outras ideias na maneira como se ensinam Os Lusíadas na escola? Não tenho certezas. Sei que, pelo menos, podemos e devemos contribuir para que esse debate ocorra", defendeu.