Japão, um país de magros e longevos

É incrível como os japoneses conseguem fugir dos padrões, em que a alimentação baseada em ultraprocessados tem provocado uma onda de diabetes tipo 2, considerada um mal da modernidade.

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Uma recente viagem de férias ao Japão me deixou bastante pensativa: encontrei um país desenvolvido, onde apenas 4% da população é obesa, sendo que as taxas de obesidade e diabetes estão previstas para se manterem estáveis pelos próximos 20 anos.

Visitei Tóquio, Quioto, Hiroshima e Oita e o cenário era o mesmo: pelas ruas, vi, principalmente, japoneses magros, apesar do consumo diário de arroz e açúcar na culinária japonesa.

Curiosa, fui conferir as previsões da International Diabetes Federation sobre as taxas de diabetes para a população japonesa em 2045, e qual não foi minha surpresa ao encontrar projeções de estabilidade em torno de 10%, ao contrário do restante do mundo. Nas Américas, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) estima aumento de 68% nos casos de diabetes e alta de 100% no Brasil.

Mas como isso é possível? Diabetes do tipo 2 é considerada um mal da modernidade, associada ao conforto (sedentarismo) e ao acesso irrestrito à comida — modernidade bastante presente no Japão. Como pesquisadora, acompanho a literatura científica ocidental sobre o poder viciante dos ultraprocessados, aqueles alimentos meticulosamente planejados para maximizar o prazer, o que os torna quase uma sentença de comer sem parar, engordar e adoecer. Esse fenômeno é apontado como a explicação para a epidemia de obesidade que assola o mundo.

O que pode estar dando essa certa “imunidade” aos japoneses? Não trago respostas definitivas, mas algumas reflexões com base em observações in loco e na minha própria ascendência japonesa:

1. São um povo extremamente ativo e seguem ativos em idade avançada, cuidando de afazeres domésticos e do bem comum — um belo exemplo a se ver.

2. Pequenas porções nas refeições. Mesmo doces ultraprocessados no Japão geralmente têm tamanhos reduzidos, como pacotes de balas e chocolates de 37g ou sorvetes de 70ml.

3. Sabedoria na relação com o corpo: hara hachi bu, um antigo princípio que recomenda comer até estar 80% satisfeito, transmitido de geração em geração numa sociedade em que os idosos são valorizados como fontes de sabedoria.

4. Uma visão menos individualista: o japonês se vê como parte de um todo, consciente de que é preciso “comer de forma que tenha para todos”, o que implica comer com moderação, reflexo dos períodos de escassez enfrentados pelo país em tempos de guerras e catástrofes naturais.

5. Legumes e verduras são parte de todas as refeições. E frutas, muitas vezes, são a sobremesa. Na cultura japonesa, as frutas têm um valor especial, inclusive, ofertadas como presentes, substituindo doces mais carregados.

6. Embora o arroz, o macarrão e o açúcar estejam presentes com frequência, são equilibrados com proteínas e fibras (legumes e verduras).

O comportamento coletivo saudável influencia as escolhas individuais, formando, em conjunto, um ciclo virtuoso — praticamente um ambiente “antiobesogênico”? Será que esse é o segredo de uma sociedade imune ao adoecimento metabólico epidêmico que assola o mundo?

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