Curso sobre Camões começa já na próxima quinta-feira
Camões, uma viagem ao centro do cânone ocorrrerá todas as quintas-feiras de Novembro e contará com os docentes João R. Figueiredo, Isabel Almeida e Hélio Alves.
Camões nasceu há aproximadamente 500 anos, não se sabe onde. Saiu do país, não em busca de aventuras, mas por necessidade. Viveu em Goa, em Macau e, durante algum tempo antes de regressar a Lisboa, na Ilha de Moçambique. Um dos poucos factos documentados da sua biografia é a data da morte, 10 de Junho de 1580, referida numa nota de pagamento da pensão à sua mãe, que lhe sobreviveu.
Em vida, Camões publicou apenas quatro poemas, sendo um deles Os Lusíadas, em 1572. Tudo o mais foi publicado postumamente. A escrita d’Os Lusíadas estava terminada em 1571, ano em que a Europa respirou de alívio quando a ameaça turca foi neutralizada numa batalha naval no golfo de Lepanto, na costa da Grécia. Nesse ano, era rei de Portugal D. Sebastião, filho único, solteiro e sem descendência.
Além d’Os Lusíadas, Camões escreveu algum teatro e, sobretudo, um conjunto apreciável de poemas chamados líricos, que, todavia, incluem géneros e subgéneros muito diversos: elegias, poesia pastoril, poesia jocosa e de circunstância, odes, canções, sonetos.
Uma introdução à leitura de Camões, como é este curso, constitui talvez um desafio maior do que apresentar a obra de autores mais próximos de nós. A sua poesia está cheia de complexidades sintáticas e de alusões recônditas. Mas é provavelmente isso que a torna tão apetecível. Se queremos ler textos escritos em linguagem corrente, que não coloquem grandes dificuldades ao leitor, e que falem de assuntos que nos envolvam mais directamente, basta-nos ler o jornal ou a crónica social. Resolver as complexidades, ou tentar resolvê-las, e tentar reconstituir o contexto em que os poemas foram escritos, tentar uma e outra vez perceber o que Camões estava a fazer, continua a ser uma fonte de satisfação para muitas pessoas, e é a tarefa da crítica literária e do professor de literatura.
Na literatura portuguesa, poucos poetas proporcionam tanto este tipo de satisfação como Camões. O nosso curso visa, pois, fornecer algumas informações (de natureza histórica, como as apresentadas no início deste texto, mas também de natureza retórica, literária) que permitam tornar as complexidades e as alusões menos assustadoras (afinal de contas, também o gigante Adamastor se humaniza e domestica), e apreciar o modo como o texto está construído, como as referências se conjugam e se organizam numa forma ou num género poético (o soneto, a epopeia...) para produzir um significado, em suma, uma obra duradoura, que ocupa o centro do cânone.